segunda-feira, 21 de setembro de 2015

PZ - ENTREVISTA

A tour de apresentação do novo disco de PZ e sucessor de "Rude Sofisticado", "Mensagens da Nave-Mãe", conhece uma das suas últimas datas, para já, no paraíso das Noites Ritual nos Jardins do Palácio de Cristal, Sexta-feira e Sábado, onde a entrada é livre e a música não tem franquia.
Não é apenas pelo facto de a música continuar a soar, sem saudosismos, a uma espécie de Repórter Estrábico inflamados de "Viagens" de Pedro Abrunhosa, mas a ligação à terra-mãe e a utilidade acrescentada à caixa de comentários favorecem na hora do sucesso, aí cada vez mais amplificado pelo poder de despertar reacções imediatas a todo o Universo Paulo José Pimenta por parte de multidões difusas, se falamos de aplausos, ou de grupos muito concretos, se as dúvidas se instalam.
Esperava-se que PZ pudesse sobreviver sem a sua própria consciência? Não o esperamos nem o esperávamos antes, durante ou depois de o conhecer melhor.
Música de intervenção? Música é intervenção.
pop também pode ser sinónimo de subversão.
Mas agora, queremos ver o Verão a acabar em beleza com PZ dadaísta, o aprendiz eterno de super-artista. Venham daí: com PZ, ganhamos todos nós. Com as Peta Zetas, também, claro.





BandCom (BC): Este mais recente “Mensagens da Nave-Mãe” sucede ao “Rude Sofisticado”. Fala-nos um pouco das ideias principais que te levaram a este disco e a afastares-te, não totalmente, do disco anterior.

PZ: Neste projecto não existem muitas ideias principais, são mais aglomerados de memórias e visões sociais [com] que a minha mente se confronta e se debate no dia-a-dia. Daí haver uma certa coerência entre as mais recentes “Mensagens da Nave-Mãe” e o “Rude Sofisticado”, como também acho que já houve pontes que ligaram o “Rude Sofisticado” ao meu primeiro álbum, o “Anticorpos”. O processo nestes 3 álbuns foi o mesmo, solitário, livre de fazer música à minha maneira, livre de escrever letras e melodias que me fizeram sentido, sempre pronto para brincar com drum machines, samplers, sintetizadores, tocar linhas de baixo ou guitarra. Aliado a tudo isto é o conforto do meu ambiente caseiro que me deixa compor e produzir no momento em que penso nelas. Se bem que algumas melodias e letras fiquem a ruminar na minha cabeça durante alguns meses e, às vezes, anos.


BC: Qual é a pergunta que continuas a fazer à “Nave-Mãe” sem que obtenhas resposta?

PZ: O que raio é que estou a fazer aqui? 



BC: Agora que também já participaste na abertura de um espectáculo de stand-up comedy, qual é o melhor sketch que tens na tua cabeça e que gostarias que se tornasse uma música?

PZ: Correcção, eu fechei um espectáculo de stand-up a convite do Eduardo Madeira e foi uma óptima experiência. Gostei muito de conhecer vários mestres da comédia portuguesa que se encontra num momento muito bom e ímpar a meu ver. Mas nunca pensei num sketch que se possa tornar uma música. São duas formas de expressão diferentes apesar das 2 artes se tocarem muitas vezes. Há músicas que nos fazem rir e há comediantes que usam a música para nos fazerem rir durante as suas actuações.


BC: És daqueles produtores e compositores que vai buscar inspiração a tudo ou que já sabem muito bem o que é que lhe vai chamar a atenção e cola-se a esse filão? És o membro perdido dos Primus, Sleaford Mods ou Fall?

PZ: Gostava muito de ser um membro perdido dos Primus ou dos Fall, sem dúvida! São bandas que por acaso sempre ouvi com atenção, especialmente os Primus. No entanto, quando faço uma música estou a pensar mais em mim e no que me define; aliás, é uma maneira de me libertar dos constrangimentos sociais que nos rodeiam. Sair da norma, procurar a ambiguidade e o surrealismo, mas sempre com uma forma de expressão muito própria e singular da língua portuguesa. Agora, claro, a minha musicalidade vai buscar muitas influências a várias bandas dos mais variados espectros musicais. É a lei da música.


BC: Entre os discos, vão aparecendo várias canções e videoclips de temas que só mais tarde ficamos a saber se vão mesmo integrar o trabalho seguinte. Depois de tanta partilha, tanta entrevista, tanto “passa-a-palavra”, quais são as medidas do sucesso da música do PZ?

PZ: É sempre difícil medir o sucesso. O sucesso nasce do caos residual provocado pelo trabalho de qualquer um em qualquer área. Quando esse trabalho é reconhecido pelos nossos pares, e em certas actividades artísticas pelo público, diz-se que é um sucesso. É um cliché o que vou dizer, mas o sucesso tem muito a ver com o trabalho que cada um faz e a dedicação a esse trabalho. Tive que passar por muitas etapas para chegar onde estou e durante esse tempo fui formando uma linha musical que começou a chegar a mais público através dos discos, dos videoclips, dos concertos, entrevistas, etc. Claro que as redes sociais e o Youtube foram importantes para chegar ao público moderno, aquele público insaciável por coisas novas, imediatas, que possam partilhar no momento, que se identifica com o que ouve e com o que vê. Foram muitas horas e momentos que gastei a produzir conteúdos e depois a divulgá-los; e muitas horas no Facebook e afins a comunicar com as pessoas que me seguem, o que é realmente algo de especial e somente possível hoje em dia. Outra vertente onde me dediquei muito nos últimos 2 anos foi nos concertos, na actuação ao vivo. Hoje em dia o PZ é uma banda ao vivo e um espectáculo audiovisual mas esta evolução vem de trás com outras bandas que toquei ao vivo como os Paco Hunter ou a Zany Dislexic Band. Para se ter sucesso é preciso tempo, que é uma dimensão muito menosprezada hoje em dia. 






BC: É óbvio e recorrente o teu recurso à ironia nas canções que apresentas mas acabas também por cruzar outras referências e outras figuras de estilo. Há algum momento em que a transmissão da mensagem inicial é afectada ou isso induz mais não a personificação mas sim a personalização das canções?

PZ: Acho que a mensagem inicial que se deposita na música nunca é alterada no seu essencial, mas é uma questão onde posso estar enganado… Cada pessoa tem a sua interpretação da música. Ninguém neste Mundo vê e ouve o Mundo (passe a redundância) da mesma maneira. Mas gosto da ideia de ter músicas personalizadas e não personificadas. No entanto, há certas músicas em que me torno uma personagem diferente dentro das muitas que me habitam e que vão variando de dia para dia ou mesmo de hora em hora. Para além disso, gosto de atazanar a minha condição humana e pregar-lhe belas partidas. Às vezes, nem eu próprio, no meu estado mais consciente, sei como interpretar a minha música ou o estado de espírito que me levou a fazê-la. O que eu percebo é que me divirto a fazer música sempre na esperança que outros se divirtam e se questionem enquanto as ouvem.



BC: Concordas que, para além dos leitmotivs principais de cada disco ou tema, também o projecto PZ é feito de raízes, que tem um sentido particular de espaço e de tempo, que teria que ser adaptado para ser feito noutra altura e noutro local? Por exemplo, que mais “Dinheiro” nos bolsos não significaria imediatamente atingir outros objectivos, talvez até maiores?

PZ: Por mais imaginação que tenhamos não conseguimos sair do nosso tempo. É ele que nos define a vários níveis, principalmente se estivermos a falar de um ser social como é o ser humano. Não vale a pena fazer conjunturas sobre o que seríamos se vivêssemos noutro tempo. Isso é uma impossibilidade física. Vivemos agora, e o agora é que está a dar. Mas uma coisa é certa há muito tempo: o Tempo é Dinheiro.


BC: Dizes que sempre gostaste de fazer música para te divertires mas também que esperas que a exigência e a sua singularidade se mantenham como duas características importantes. Tendo em conta essa teia de equilíbrios finos, em que é que queres puxar mais pela música do PZ? Achas, tal como o Howe Gelb disse numa entrevista recentemente, que quando tiveres feito o teu melhor disco é altura de deixares de ser o PZ e fazer com que haja outro projecto diferente mas com o mesmo grau de importância?  

PZ: Acho que nunca vou ter a certeza de qual será o meu melhor disco. Eu acho sempre que o melhor é o último pois é a experiência musical mais recente que tenho. Eu já faço outras coisas para além do PZ, e tenho outras visões musicais que espero editar brevemente, mas tudo a seu tempo.





BC: O que é a Meifumado (se não for uma espécie de “Matador” como já disseste antes) e a música independente em 2015? Esta última é a que mantém a música mainstream a respirar saúde? Ultrapassado o fantasma dos downloads ilegais, estamos a conseguir lidar bem com novidades como a implantação das redes sociais e dos festivais de Verão como um fenómeno nas nossas vidas? 

PZ: Acho que não há como lidar mal com coisas positivas. As redes sociais e os festivais de Verão têm ultimamente sido muito importantes na sustentabilidade do mercado da música feita em Portugal. Promotores, editoras, agências, produtoras, estúdios, toda uma panóplia de indústrias criativas, de comunicação, etc, têm a música como a gasolina que as faz andar para a frente. E, claro, deixei para o fim de propósito, os músicos que são a peça-chave de toda esta indústria apesar de, por vezes, nos esquecermos disso. Sem os conteúdos musicais interessantes e que façam mexer as cabeças e as pernas do público nada disto seria possível. A música faz e sempre fará parte integrante, e atrevo-me a dizer estruturante, de qualquer cultura integrada numa sociedade moderna. Acho que os músicos deviam ser mais compensados pelo seu trabalho e pela sua criatividade. Não estou a dizer que não são, e é obvio que cada músico faz parte de um mercado livre onde a lei da oferta e da procura é quem dita as regras, mas há situações onde os lucros de todo este fenómeno musical deviam ser mais compensadores para quem realmente faz a música. As redes sociais ajudaram também nesse aspecto de dotar os músicos de mais independência no seu trabalho, mais controlo sobre as suas obras na medida em que podem divulgá-las de formas mais eficazes do que através dos canais tradicionais. Hoje em dia para se singrar na música não é necessário fazer parte de uma editora major. Daí estarmos a ver cada vez mais álbuns com edições próprias ou com o apoio de editoras independentes, mais pequenas, mas dotadas de estruturas eficazes para fazer chegar a música às pessoas e ao público que interessa.


BC: Que performer compõe a mais imponente figura de palco de sempre? Porquê?

PZ: Pergunta difícil… Michael Jackson, Jim Morrison, Morrissey, Kurt Cobain...há vários performers que nos enviaram e continuam a enviar para galáxias musicais distintas mas ao mesmo tempo intemporais. Acho que há sempre algo de transcendental nos grandes performers musicais.



BC: No manifesto da missão da Meifumado o epílogo rege-se com “Venham ver o barco a afundar”. No barco ou na nave-mãe, sempre com o mesmo pijama?   

PZ: :) A Meifumado é uma editora/produtora em constante transmutação, formada e reformada por várias pessoas que trabalham com uma ideia que já tem mais de 10 anos. O conceito é simples: a produção e edição de boa música. Conceito original, não?



André Gomes de Abreu




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