Título: Casa
Ocupada
Edição:
2010, Rastilho Records
Classificação
final: 9.7/10
2010: os Linda
Martini editavam o segundo longa-duração da sua obra discográfica.
Intitulado Casa Ocupada, o registo
sucedia a Intervalo e trazia consigo expectativas bastantes elevadas. Primeiro
porque era um disco de Linda Martini – a legião de fãs era
já considerável, havia sempre aquele bichinho. Em segundo, existia uma imensa
curiosidade em saber que caminhos iriam seguir a sonoridade da banda depois da
edição de Olhos Mongol e, sobretudo,
de Marsupial. E, por fim, porque a
banda lisboeta, na altura, tinha confessado em algumas entrevistas concedidas
que se iria reinventar e que iríamos conhecer uns novos Linda Martini.
Efectivamente,
a verdade esteve sempre presente na língua do quarteto: em Casa Ocupada nascem uns novos Linda Martini, mas as questões
hereditárias não deixaram que se dissipassem a sua marca e essência de outrora –
quem sai aos seus não degenera. Foi também em Casa Ocupada que se deu outra viragem: a do número de fãs;
carimbou-se, de vez, a passagem da cena underground
para a cena mainstream. E a verdade é
que toda esta vitória tem uma explicação basilar: Casa Ocupada espelha uma nítida preocupação no processo de como
interpretar o registo ao vivo e isso acaba por ter um encanto especial, uma
maior abrangência e uma maior propensão para conseguir chegar a um maior número
de pessoas.
Todos retemos
ainda nos tímpanos a já afamada passagem «Foder
é perto // De te amar // Se eu não // Ficar perto». É assim que se
desenlaça Casa Ocupada, encerra-se em coro num uníssono medonho. Tudo a cantar/berrar
como se se estivesse num concerto – e não, num concerto não nos conseguimos
conter com um simples “cantar”. Berramos até que nos falte o ar, até que as
nossas cordas vocais peçam-nos que pare. E o que o digam, por exemplo, Hélio
Morais e André Henriques que tão roucos ficam sempre que dão por terminado um
qualquer concerto que se feche com “Cem Metros Sereia” -. Essa impressão não
nos passa pela cabeça só aí; sente-se também o mesmo em músicas gigantes como “Nós
os outros” ou “Belarmino Vs.”. E isso só é bom.
Mas nem só
da preocupação exclusiva com o factor púbico vive Casa Ocupada; das seivas mais intimidadas com o post-rock
colheram-se “S de Jéssica” ou “Queluz menos luz”. Das ligações habitué dos Linda
Martini ao hardcore e ao punk brotam-se “Ameaça Menor” ou “Elevador” e
da ainda mais habitual comparação aos Sonic Youth existe simplesmente uma
coisa: «Quando a nossa cara se gastar //
E tivermos medo de arriscar // Parecemos Putos // Não temos aulas amanhã». Cereja
no topo do bolo? Um jogo de guitarras brilhante, um coro final, novamente em
uníssono, no «Não temos aulas amanhã».
É a rebeldia punk que aparece tão tímida no sangue que corre pelas veias dos
Linda Martini e que tão essencial é no processo criativo da banda. Quanto aos Sonic
Youth e o facto deste malho se chamar “Juventude Sónica”, a explicação
é fácil: também a banda que tem em Daydream
Nation um dos discos mais memoráveis do século passado e em Sonic Nurse um dos discos que mais
inspirou este Casa Ocupada, é constituída
por três elementos do sexo masculino e um do sexo feminino. A ironia dos Linda
Martini relativamente à semelhança das duas bandas percebe-se: a orientação
sonora do quarteto vai muito mais além de poderem ser meramente apelidados de «Os Sonic Youth portugueses». A sua obra
já o disse, o tempo só o enaltecerá: a cada passo uma vitória num campeonato
que parece ser só deles.
Emanuel Graça
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