segunda-feira, 23 de setembro de 2013

10 ANOS COM OS LINDA MARTINI: "CASA OCUPADA"

Título: Casa Ocupada
Edição: 2010, Rastilho Records
Classificação final: 9.7/10

2010: os Linda Martini editavam o segundo longa-duração da sua obra discográfica. Intitulado Casa Ocupada, o registo sucedia a Intervalo e trazia consigo expectativas bastantes elevadas. Primeiro porque era um disco de Linda Martini – a legião de fãs era já considerável, havia sempre aquele bichinho. Em segundo, existia uma imensa curiosidade em saber que caminhos iriam seguir a sonoridade da banda depois da edição de Olhos Mongol e, sobretudo, de Marsupial. E, por fim, porque a banda lisboeta, na altura, tinha confessado em algumas entrevistas concedidas que se iria reinventar e que iríamos conhecer uns novos Linda Martini.

Efectivamente, a verdade esteve sempre presente na língua do quarteto: em Casa Ocupada nascem uns novos Linda Martini, mas as questões hereditárias não deixaram que se dissipassem a sua marca e essência de outrora – quem sai aos seus não degenera. Foi também em Casa Ocupada que se deu outra viragem: a do número de fãs; carimbou-se, de vez, a passagem da cena underground para a cena mainstream. E a verdade é que toda esta vitória tem uma explicação basilar: Casa Ocupada espelha uma nítida preocupação no processo de como interpretar o registo ao vivo e isso acaba por ter um encanto especial, uma maior abrangência e uma maior propensão para conseguir chegar a um maior número de pessoas.

Todos retemos ainda nos tímpanos a já afamada passagem «Foder é perto // De te amar // Se eu não // Ficar perto». É assim que se desenlaça Casa Ocupada, encerra-se em coro num uníssono medonho. Tudo a cantar/berrar como se se estivesse num concerto – e não, num concerto não nos conseguimos conter com um simples “cantar”. Berramos até que nos falte o ar, até que as nossas cordas vocais peçam-nos que pare. E o que o digam, por exemplo, Hélio Morais e André Henriques que tão roucos ficam sempre que dão por terminado um qualquer concerto que se feche com “Cem Metros Sereia” -. Essa impressão não nos passa pela cabeça só aí; sente-se também o mesmo em músicas gigantes como “Nós os outros” ou “Belarmino Vs.”. E isso só é bom.


Mas nem só da preocupação exclusiva com o factor púbico vive Casa Ocupada; das seivas mais intimidadas com o post-rock colheram-se “S de Jéssica” ou “Queluz menos luz”. Das ligações habitué dos Linda Martini ao hardcore e ao punk brotam-se “Ameaça Menor” ou “Elevador” e da ainda mais habitual comparação aos Sonic Youth existe simplesmente uma coisa: «Quando a nossa cara se gastar // E tivermos medo de arriscar // Parecemos Putos // Não temos aulas amanhã». Cereja no topo do bolo? Um jogo de guitarras brilhante, um coro final, novamente em uníssono, no «Não temos aulas amanhã». É a rebeldia punk que aparece tão tímida no sangue que corre pelas veias dos Linda Martini e que tão essencial é no processo criativo da banda. Quanto aos Sonic Youth e o facto deste malho se chamar “Juventude Sónica”, a explicação é fácil: também a banda que tem em Daydream Nation um dos discos mais memoráveis do século passado e em Sonic Nurse um dos discos que mais inspirou este Casa Ocupada, é constituída por três elementos do sexo masculino e um do sexo feminino. A ironia dos Linda Martini relativamente à semelhança das duas bandas percebe-se: a orientação sonora do quarteto vai muito mais além de poderem ser meramente apelidados de «Os Sonic Youth portugueses». A sua obra já o disse, o tempo só o enaltecerá: a cada passo uma vitória num campeonato que parece ser só deles. 

Emanuel Graça




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