terça-feira, 13 de maio de 2014

HÁ MÚSICA EM... #2 : GUIMARÃES

Chegámos finalmente ao segundo número da rubrica "Há Música Em...", rubrica em que escolhemos 5 projectos de uma cidade do país para que nos levem numa viagem pela realidade do dia-a-dia do seu trabalho como uma parte da sua vivência nessa mesma cidade.

Guimarães foi Capital Europeia da Cultura em 2012 e apresenta-se como uma cidade cheia de história, de tradição e de valores, a passar tal como todo o país por uma regeneração e redefinição da sua oferta cultural em que a criação não é fácil de ultrapassar e concretizar e manter-se à tona e relevante é um desafio tão grande ou ainda maior para associações, músicos, promotores e programadores culturais.
Mas o que será que a juventude dentro dos Virar DaSquina, KungFuTrunx, The Wild Booze, Last Chance e Let The Jam Roll terá a responder quando confrontados com algumas questões sobre a relação dos vimaranenses com os seus artistas e a sua música? As seguintes perguntas fizemos e mais interessantes respostas obtivemos.


1. Em que medida é que a vossa cidade vos inspira ou inspirou, mesmo no sentido de iniciarem um determinado projecto ou rumo, para o vosso trabalho?
2. Há uma cena musical proeminente ou é difícil defini-la? 

3. Quais os espaços, na vossa opinião, com melhores condições para ensaiar e aprimorar trabalho? Usufruem de algum deles?
4. Conseguem retratar ou caracterizar minimamente, da vossa experiência, o público de Guimarães que vai a concertos? 
5. Que espaços de concertos ao vivo destacam em Guimarães? A oferta é suficiente para os músicos?
6. Da vossa experiência, as bandas e artistas de Guimarães trabalham bem em conjunto ou estão mais distantes do que seria desejável?
7. Que entidades ou associações mais contribuem para que Guimarães possa ter concertos ao vivo e oportunidades para os artistas?
8. Quem de Guimarães devemos ver ao vivo ou de quem devemos ouvir as suas músicas?
9. Quem quiser conhecer o maior número de artistas possível…a que concurso ou festival deve estar atento?
10. Por fim, pode-se Guimarães é uma cidade que trata bem os seus artistas?

VIRAR DASQUINA (Nuno Meneses)



1. A verdade é que foi de facto a nossa cidade que nos conduziu a este projecto. Há 5 anos, Guimarães começou um programa que é pena já não existir. Chamava-se FundaSound, um concurso/mostra de bandas. No liceu, por brincadeira, decidimos juntar 4 elementos da turma que tocavam e formavam os LightFingers. Não resultou, mas foi aí que surgiu a química musical entre o Nuno e a Caty e os levou a continuar o sonho e procurar por novos membros, formando os Virar DaSquina. Com uma cidade tão agitada como a nossa claro, muitas das inspirações vêm da própria vivência aqui.
Guimarães é palco de inúmeros espetáculos. Se os políticos quisessem poderia viver do turismo e arte, mas não acontece.

2. Se há algum género proeminente em Guimarães? Durante uns tempos foi o metal. Mas as gerações mais novas têm trazido muitas coisas boas e procuram outros estilos musicais.

3. Em Guimarães? Prometeram a Plataforma das Artes, mas acabou por não acontecer. Neste momento estão a restaurar o Teatro Jordão. Seria uma boa sala de ensaios. Neste momento ensaiamos em casa.

4. É engraçado. As pessoas em Guimarães vivem da arte e para a arte. Toda a gente. Prova disso foram as Capitais Europeias da Cultura e Desporto, nas quais toda a gente quis participar. O público vimaranense gosta de bom entretenimento e reagem muito bem em concertos. Acolhem muito bem todos os artistas e ajudam-nos a sentirem-se em casa. São um público muito bom para dar concertos.

5. Para concertos destacam-se o Centro Cultural Vila Flor e o Centro de Artes e Espectáculos de São Mamede. Há também inúmeros bares e plataformas artísticas nos quais isso acontece, mas deveriam existir mais. Todos os fins de semana há pelo menos 3 concertos espalhados pela cidade, mas podiam ser 6. E teriam gente a ver em todos. São tantas as bandas de qualidade na nossa cidade.

6. Sempre que existem projectos de grande envergadura todos os artistas se unem. Achamos que é um dos adjectivos que podemos fixar no povo de Guimarães. União. Mas outras vezes, como em tudo, existe alguma rivalidade nem sempre saudável. Principalmente de artistas mais velhos, que deveriam ser os nossos suportes, certo?

7. Círculo de Arte e Recreio, Associação Cultural e Recreativa O Convívio, Guimarães Noc Noc, Ó da Casa, Mi Casa es Tu Casa, Casa Amarela, Ultimatum. Estas são as entidades ou associações que mais contribuem para que isto aconteça. Deveriam existir mais.

8. Em Guimarães há algumas bandas de diferentes estilos que devem ser ouvidas e vistas. Por gerações, e nos mais variados estilos, diríamos que GuimaFloyd, Barca do Inferno, Fragmentos, Reptile, Let the Jam Roll, Dona Lu, Virar DaSquina, Enleio, Plektron, Finished With My Ex. E muitas mais. É estar atento aos cartazes.

9. Há tantos concursos e festivais que é impossível numerá-los a todos. Este ano tivemos uma grande experiência no concurso de bandas da FAP. É pena a Câmara Municipal de Guimarães não dar continuidade ao FundaSound e ao Festival na Penha.

10. Tem dias, espaços e pessoas. A cidade transpira arte. O público trata muito bem todos os artistas. Os donos de estabelecimentos tentam dar o máximo que podem e mostrar o que de bom existe por cá. A Câmara é que podia dar mais atenção às pessoas de dentro. Há tanta coisa boa a acontecer. Não é apenas de dinheiro que precisamos, mas apoio na divulgação, espaços para pensarmos e crescermos em conjunto com a comunidade artística. A Capital Europeia da Cultura deixou tantas marcas em nós que não podemos simplesmente ignorar a arte. Temos que continuar a fazer o que gostamos e dar vida à cidade. São estes artistas que dão vida aos turistas. Temos pena que nem toda a gente o note.





1. Desde que comecei com este projecto, por vezes introduzo nos meus trabalhos alguns samples de gravações da minha cidade, despercebidamente tento introduzir algum “ar” de Guimarães naquilo que faço. No ano de 2013 essa inspiração aumentou, pois fiz um trabalho (CD) intitulado “Atrás das Portas” (Livro+CD) que consistiu em musicar entrevistas (que foram captadas em áudio) de taberneiros (tasqueiros) de Guimarães, de forma a que se captasse, o melhor possível, o espírito dos locais e das pessoas.

2. Existe claramente uma cena musical em Guimarães, mas penso ser difícil defini-la, pois são variados estilos existentes (ou a surgir).

3. O meu projecto essencialmente electrónico é ensaiado na minha própria casa, ou em alguns casos, na casa de um dos intervenientes, por isso não necessitamos propriamente de um local próprio, mas é claro que preferia ter um local próprio para isso. Penso que aqui em Guimarães ainda não existe um local preparado para esse efeito.

4. Pela minha experiência, é um publico jovem, conhecedor e amante de música, que está habituado a sair para a rua aos fins-de-semana, maioritariamente numa faixa etária 16-40 anos.

5. Aqui em Guimarães temos muito poucos espaços acessíveis. Os grandes palcos de centros culturais não são fáceis de lá chegar mas temos 2 ou 3 bares: por exemplo o bar Casa Amarela; temos associações como o Círculo de Arte e Recreio ou a Convívio, depois temos os palcos maiores (e de mais difícil acesso) como é o caso do Centro Cultural Vila Flor, o Centro de Artes e Espectáculos de São Mamede e a Plataforma das Artes.

6. No meu caso, que estou mais ligado à música electrónica, penso que as coisas no geral são satisfatórias, normalmente convido outras pessoas ligadas a outros projectos e até hoje nunca houve nenhum tipo de afastamento.

7. Que me lembre, em termos “públicos” temos a Associação Cultural e Recreativa O Convívio, o 
Círculo de Arte e Recreio, a Câmara Municipal e a Oficina. Em termos “privados” temos os tais bares falados anteriormente, o El Rock Bar, que promove vários concertos e até edições de CDs e uma ou outra entidade como por exemplo o Efeito Borboleta.

8. Posso dizer o meu projecto? KungFuTrunx, claro! Eheheh...mas gosto muito de ouvir o projecto de um amigo meu aqui de Guimarães chamado Simulated Systems. Gosto também de uma banda que são os Pornography.

9. Ao “Milhões de Festa”.

10. Quando eu encontrar uma cidade que trate bem os seus artistas, eu depois aviso.




1. Além de sermos naturais de Guimarães, o que já representa a clara vontade e orgulho de o referirmos quando nos apresentamos, esta cidade sempre foi muito dinâmica a nível musical e, dessa forma, sempre existiram concursos de bandas (FundaSound, UMplugged, ...) e até festivais (Barco Rock Fest, Vimaranes Metal Fest, Manta) com o intuito de lançar e mostrar a boa música que se faz cá. Dessa forma, e respondendo directamente à pergunta: sim, Guimarães influencia a nossa motivação para continuarmos o nosso trabalho.

2. Há sem dúvida. Desde já há algum tempo que bandas de vários géneros surgem e unem-se para realmente divulgar o que cá se faz e um ponto interessante a realçar é o facto de ser algo que passa de geração em geração, fazendo com que se solidifique uma história e com que a cena musical nunca se extinga.

3. Existem vários espaços disponíveis a alugar na cidade. No entanto, não usufruímos de nenhum.

4. Trata-se de um público difícil mas justo e coerente o que torna tudo mais interessante porque é sempre mais um desafio.

5. Centro Cultural Vila Flor, Centro de Artes e Espectáculos de São Mamede, Casa Amarela, Bar N101...a oferta e a maneira como somos recebidos são sempre boas.

6. Em relação ao facto de as bandas se unirem entre si mesmas, isso é totalmente verídico uma vez que, e reforçando o que referi, as bandas juntam-se para divulgar ao resto do país os projectos vimaranenses.

7. Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 foi sem dúvida um auge para os artistas dado que se reforçaram os eventos ligados à música, projectando mais os artistas.

8. Horas Mortas, Alive Dead Bodies, Cratera, Delta Works, Smartini, Xícara.

9. [Concursos:] UMplugged, FundaSound. Festivais: Barco Rock Fest, Manta.

10. Claramente sim.




1. No nosso caso a cidade nunca foi influência sobre o rumo para o nosso trabalho nem a razão do seu início, mas claro que nos serve sempre de inspiração em tudo o que fazemos.

2. Existem muitas bandas dentro de uma onda alternativa, [dentro do] metal também existem muitas bandas…

3. Fábrica ASA e Teatro Jordão. Não usufruímos de nenhum espaço em Guimarães.

4. É um publico intenso, fiel, entusiasta e que vibra com as suas bandas.

5. Casa Amarela, Associação Cultural e Recreativa O Convívio, Plataforma das Artes, Centro de Artes e Espectáculos de São Mamede, Centro Cultural Vila Flor… A oferta nunca é suficiente, mas em comparação com outras cidades é muito muito boa.
6. Trabalham bem juntos quando é necessário…


7. Câmara Municipal, Rádio Santiago (Programa Submarino), entre outras…

8. Let The Jam Roll, Virar DaSquina, Black Burn Hate, Head Citizen e muitas outras… 

9. Fundasound e Barco Rock Fest

10.
Pode ser sempre melhor, mas de uma forma geral Guimarães trata bem os seus artistas…




1. Guimarães é uma cidade inspiradora, a todos os níveis. Felizmente existem variados espaços de convívio, onde as artes são tratadas, discutidas e praticadas. Foi e continua a ser habitual o convívio entre artistas de todas as áreas e obviamente que isso influenciou muito o nosso percurso.

2. É difícil defini-la, por ser tão eclética. Cremos que neste momento existe um ambiente musical muito variado e de alto nível, na nossa cidade.

3.  Acreditamos que o melhor espaço para ensaiar é sempre em casa de alguém, quando há essa possibilidade. Ao criar, um artista tem de se sentir bem, sem limites de tempo. Aparte disso, existem em Guimarães várias salas de ensaio para alugar. Há também várias associações como o Círculo de Arte e Recreio ou a Associação Cultural e Recreativa O Convívio (entre outras), que regularmente ajudam artistas nesse sentido.


4. A faixa etária entre os 25 e os 40 são os mais assíduos, como público cultural. Os mais jovens - entre os 16 e os 25 - começam agora a apreciar mais a “boa” música, mas é ainda um processo lento que se verifica em todo o país. O gosto pela “boa” música não é devidamente desenvolvido, seja pela triste oferta televisiva, seja pelo ensino da música que continua a ser um pouco fechado. A revolução cibernética veio contribuir grandemente para que os jovens possam ter mais variedade no acesso a música de qualidade. No entanto, o culto da imagem cresce cada vez mais, renegando a qualidade musical para segundo plano. Isto acontece um pouco por todo o lado. Em Guimarães existe também muita mistura de públicos (o que achamos muito positivo); o publico é educado (até certo ponto), na medida em que consegue reconhecer e apreciar qualidades em todos os estilos de música – há sempre coisas boas a aprender e apreciar, seja qual o estilo. A mesma pessoa pode ver hoje um concerto de música erudita, no dia seguinte ver um concerto de rock ou jazz e depois até gostar de ir a um arraial minhoto! Sentimos que a parte social é também muito importante no público vimaranense; aparecer nos eventos também para “ver e ser visto” é muito comum.

5. A oferta não é nem nunca será suficiente. No entanto, há imensos locais onde se pode actuar em Guimarães. A Casa Amarela, a Associação Cultural e Recreativa O Convívio, o Círculo de Arte e Recreio, o Café Concerto do Centro Cultural Vila Flor, o Ultimatum, o Centro de Artes e Espectáculos de São Mamede, etc... Enfim, quase todos os locais ou bares aceitam e desejam música ao vivo, quando proposta. Um músico profissional competente que actue a solo ou duo, pode perfeitamente viver bem a tocar só na nossa cidade. Já em banda é mais difícil. Obviamente que os valores pagos não são os que consideramos justos, mas essa realidade acontece em todo o país. Pelo menos, a mentalidade do “anda tocar que pagamos-te as bebidas” já não acontece em Guimarães (muito raramente acontece). As entidades que promovem concertos estão cientes que esta é uma profissão e que deve ser respeitada e dignificada, coisa que em muitos outros locais do país (e do estrangeiro) não acontece. 

6. Achamos que as bandas e os artistas se respeitam e ajudam. Há muita troca de informação, de músicos, de material. Muito convívio, como referimos acima.

7. Cremos que as oportunidades são criadas pelos próprios músicos e artistas. Se estivermos à espera que nos criem oportunidades, nunca as teremos. A Guimarães CEC2012 veio alterar um pouco essa mentalidade para melhor e notamos uma grande pró-actividade dos artistas nesse sentido. Criar oportunidades. Fazer propostas. Essa é a solução. Claro que as associações culturais e recreativas (existem mais de 70!) têm um grande papel neste campo e têm contribuído na medida do possível. 

8. Há varios projectos de qualidade. Mas para não deixar ninguém de fora, somos obrigados a salientar apenas um: Let the Jam Roll, obviamente.

9. Os músicos de Guimarães actuam em vários projectos, dentro e fora da cidade, dentro e fora do país. Por todo o lado. Não há nenhum festival ou concurso onde se possa “conhecer” essa realidade. Só frequentando os locais de convívio se conhecem as pessoas. Existe anualmente um grande Jantar de Músicos de Guimarães, onde todos (os que podem estar) convivem, tocam juntos (jam session) e se divertem. Cremos que essa é a altura onde se podem encontrar mais artistas por metro quadrado, simultaneamente. Há também alguns eventos/actividades que reúnem muitos músicos como o aniversário do Bar El Rock ou o projecto Rock Friends Project (concebido e organizado pelo Mário Gonçalves, baterista dos Let the Jam Roll). Este último tem por objectivo descobrir novos vocalistas e bandas em Guimarães, desafiando-os a participar com temas adequados ao contexto da festa e com uma banda residente para os acompanhar.

10. Guimarães é uma cidade que começa agora a tratar melhor os seus artistas. Mas há ainda um longo caminho a percorrer. Falta apoio aos projectos artísticos de qualidade, a nível nacional ou internacional. A cidade poderia ajudar mais a promover “lá fora” a arte de qualidade que cá se faz. Muitas das vezes, “santos da casa” continuam a não fazer milagres, mas é uma mentalidade que começa a mudar. 






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