sábado, 8 de fevereiro de 2014

HÁ MÚSICA EM...LEIRIA

Após 3 anos encantados de perto com o crescimento da música portuguesa e a solidificação de uma série de nomes e artistas que compõem uma "cena" que faz corar o mais primitivo instinto nacionalista que pereça em nós, decidimos fazer-nos à estrada.

Assim nasce "Há Música Em...", uma nova rubrica em que nos propomos a ir de cidade em cidade ao encontro dos artistas locais para que nos contem pela sua cabeça a realidade da cidade que lhes vai mexendo com os sentidos.

Para rampa de lançamento vamos a Leiria. Não se "googla" propriamente, mas Leiria é uma das cidades mais magnéticas para o que de melhor contamos e esperamos ver em grandes palcos. É desta forma que propusemos aos "locais internacionais" First Breath After Coma, Dream Pawn Shop, Clutter, Robin Oak e These Are My Tombs responderem a um questionário à séria. Sem papas na língua.



1. Em que medida é que a vossa cidade vos inspira ou inspirou, mesmo no sentido de iniciarem um determinado projecto ou rumo, para o vosso trabalho?
2. Há uma cena musical proeminente ou é difícil defini-la? 

3. Quais os espaços, na vossa opinião, com melhores condições para ensaiar e aprimorar trabalho? Usufruem de algum deles?
4. Conseguem retratar ou caracterizar minimamente, da vossa experiência, o público de Leiria que vai a concertos? 
5. Que espaços de concertos ao vivo destacam em Leiria? A oferta é suficiente para os músicos?
6. Da vossa experiência, as bandas e artistas de Leiria trabalham bem em conjunto ou estão mais distantes do que seria desejável?
7. Que entidades ou associações mais contribuem para que Leiria possa ter concertos ao vivo e oportunidades para os artistas?
8. Quem de Leiria devemos ver ao vivo ou de quem devemos ouvir as suas músicas?
9. Quem quiser conhecer o maior número de artistas possível…a que concurso ou festival deve estar atento?
10. Por fim, pode-se Leiria é uma cidade que trata bem os seus artistas?


FIRST BREATH AFTER COMA




1. Os projectos que nascem nesta cidade despertam o bichinho a outras pessoas para começarem também eles os seus próprios trabalhos. Nós víamos os Kyoto quando éramos putos e ficávamos com vontade de começar a dar concertos. Neste momento, existem tantas coisas boas feitas em Leiria que é impossível para a malta mais nova não ganhar essa pica de começar uma cena sua. Portanto, mais que a cidade, as pessoas vão-se inspirando umas às outras.

2. Existe uma cena musical e uma grande diversidade de géneros. 

3. Infelizmente não há espaços criados para as bandas de Leiria, mas existem pessoas com boa vontade e prontas a ajudar. Nós temos sorte e estamos muito bem instalados num espaço cedido pelo Engº Vieira e as suas filhas Xana e Catarina.

4. Para nós, quando tocamos em Leiria é como jogar em casa. A malta desta zona gosta de copos, boa música e recebe bem gente de fora, portanto qualquer banda que passe por cá vai gostar da experiência.

5. Destacamos o Beat Club por toda a sua magia, o Teatro Miguel Franco, o Texas Bar, o Nariz, e a lista continua…

6. Em Leiria é tudo malta amiga. Grande parte das bandas conhecem-se umas às outras e não existe rivalidade nem distância entre elas.

7. A Fade In que já anda aí há uns bons anos, a Omnichord Records, a Eco, a Metamorfose, a Independent Sound Culture, o Nariz…

8. Aqui vai a lista: Nice Weather For Ducks, The All Star Project, Born a Lion, Team Maria, Nuno Rancho, Les Crazy Coconuts, André Barros, Holy Northern Lights, Dream Pawn Shop, Horse Head Cutters, Rooster Claw, isto nunca mais acaba...

9. Assim o maior deles todos é o Entremuralhas no castelo de Leiria. Mas basta estarem atentos à cidade que as coisas vão acontecendo.

10. Sim, e vice-versa.


DREAM PAWN SHOP




1. Em termos de espaço e/ou ambiente, não se pode dizer que tenha sido objecto de inspiração para o nosso trabalho. No entanto, a comunidade musical de Leiria (se o podemos dizer) de certo modo abriu o espectro de opções que nos permitiu enriquecer o nosso material tanto ao vivo como em estúdio, dada a elevada qualidade dos músicos e do bom ambiente social que se vive no seu seio.

2. Existe, sim. Em Leiria neste momento faz-se muita boa música e dos mais variados estilos. Como consequência disso, defini-la torna-se complicado…

3. Infelizmente em Leiria não existem espaços públicos onde as bandas possam desenvolver o seu trabalho. As soluções passam, tal como com os Dream Pawn Shop, em recorrer a ajuda de amigos para cederem pontualmente uma sala de ensaios que reuna as condições necessárias para o efeito. Posto isto, obrigado Faneca e Carlos.

4. Como Dream Pawn Shop, não temos razão de queixa. O nosso público tem vindo a crescer com cada vez mais entusiasmo e é composto por pessoas com gostos muito díspares: do pop ao metal, temos tido muito boa aceitação por parte de todos.

5. A oferta é suficiente para os músicos da cidade, de onde destacamos O Nariz, o Texas Bar em Amor e o Beat Club, espaços onde já tivemos o privilégio de apresentar o nosso trabalho com resultados bastante positivo. 

6. Julgamos que não existe algum distanciamento entre as bandas de Leiria. Sempre que nos foi dada essa oprtunidade, os eventos correram sempre bem e envoltos num ambiente saudável e de cooperação.

7. A entidade que julgamos ser a mais proactiva nesse capítulo será a Fade In - Associação de Acção Cultural, que há muitos anos iniciou o Festival Fade In e que adicionou recentemente ao seu currículo o Festival Entremuralhas. Mas como é óbvio, não é a única: temos também a Associação Metamorfose, a ecO, o O Nariz e a Preguiça Magazine que dinamizam de um ou outro modo a cena musical leiriense.

8. É sempre ingrato fazer este tipo de selecção, mas podemos destacar alguns projectos que achamos valer a pena “ouver”: The Allstar Project, These Are My Tombs, First Breath After Coma, Robin Oak, Clutter…a lista continua.

9. Se se referem à zona de Leiria, não há nada nesse âmbito que se possa destacar… talvez o Fade In/Entremuralhas sejam os mais propensos para o efeito.

10. Esse é um assunto que daria para uma conversa de várias horas, mas vamos ser pragmáticos e dizer que sim. 


CLUTTER (Gonçalo Crespo)




1. Honestamente, este projecto surgiu apenas de umas pequenas experiências musicais que me propus a realizar no meu pequeno “estúdio” caseiro, de maneira que o sítio onde moro, que é até bastante afastado do centro da cidade de Leiria onde apenas vou dar umas aulas de guitarra e sair ao fim de semana quando calha, teve pouca influência no nascimento da banda.

2. Não me parece e, muito sinceramente, isso agrada-me. Hoje em dia há músicos de qualidade a chover pelas ripas dos telhados, cada um com as suas influências, e se há um lado bom nisso é o crescimento da probabilidade que uma pessoa tem de poder ligar o rádio e ouvir algo diferente a tocar. Aplicando essa realidade ao nível local, em Leiria há cada vez mais artistas novos a fazer música de qualidade em estilos muito diferentes…pena não haver ninguém interessado em ouvir! 

3. Em Leiria contam-se pelos dedos de uma mão os espaços com condições para se divulgar com qualidade um projecto musical considerado “underground”. Se não se pensa em abrir portas para os artistas mostrarem o seu trabalho, muito menos se pensa em disponibilizar espaços para ensaiar. Aliás, é cada vez mais para esse fim que são construídas e aperfeiçoadas as garagens leirienses.

4. Em Leiria não há publico para bandas de originais, à excepção de amigos, que até podem realmente gostar daquilo que fazemos, e daqueles dois ou três curiosos que vinham só para beber uns copos mas até ficaram para assistir… Tudo o resto são músicos que, se aparecerem, aparecem apenas para ver a banda dos amigos, ver aqueles “gajos” que a malta diz que até estão a tocar bem ou apenas para criticar. Acontece que há tantos músicos e bandas em Leiria embrenhados nas suas cenas particulares que o público comum que estaria interessado em comparecer nos eventos do movimento underground desapareceu. E por (contra) mim falo, que raramente tenho disponibilidade ou cabeça para ir a assistir a concertos nos intervalos dos meus próprios concertos/afazeres musicais.

5. Há apenas dois “spots” de que eu me recorde com condições para se mostrar um trabalho de originais em Leiria. Se há mais devem estar bem escondidos para não serem assaltados pelas dezenas de bandas que surgem por todos os lados e que não trazem ninguém para as ver.

6. Como Leiria é uma cidade pequena, é natural que as bandas se conheçam todas umas às outras e, nesse sentido, a cooperação entre esse “pessoal amigo” resulta bem, mesmo que, com a diversidade entre os demais projectos, não haja uma tal “cena leiriense”. Criam-se eventos, sejam eles concertos, festivais ou até tascas, sempre com o objectivo de divulgar e ajudar a cena underground.

7. Existe basicamente o Beat Club, onde um senhor de nome Carlos Matos (que também está por detrás de vários outros eventos underground em Leiria) dá oportunidade a quem quiser fazer uma apresentação de um projecto, de o fazer com as condições adequadas. Tirando isso, existe o Texas Bar que, apesar de ser fora de mão, também oferece qualidade, e os demais eventos realizados através da entreajuda entre as bandas ou iniciativas particulares.

8. Eu diria que se alguém estiver em Leiria e quiser ir ver um concerto, há um pouco de tudo para todos os gostos. Para recomendar alguém teria que recomendar quase toda a gente visto que a diversidade é grande.

9. Acho que o Leiria Rock, organizado pela banda “Braço de Ferro”, foi o evento que esteve mais próximo do conceito de “festival de bandas de Leiria” de que tenho recordação.

10. Não os trata bem nem mal, eles “andam aí” a trabalhar por amor à camisola, a gravar CD’s no quarto, a actuar quase de borla apenas com o objectivo de mostrar e partilhar pedaços daquilo que nos vai na alma e quem estiver atento pode seguir os eventos que vão acontecendo semanalmente. Só falta mesmo prestarem atenção.





1. Com toda a honestidade, nem a cidade de Leiria nem a nossa pequena vila de Maceira teve alguma influência na nossa criatividade ou formação. 
Iniciámos este projecto principalmente devido à enorme vontade que tínhamos de tocar juntos, de criar música juntos, música que nos agrade a nós, sem qualquer expectativa de atingir este ou aquele público-alvo…
Tudo começou com base na amizade.

2. É certo que nos últimos dez anos se notou um “boom” de bandas - umas acabaram, outras continuam activas -, mas é de salientar a necessidade ou vontade de fazer música, de se expressar através dela, e isso é de louvar.
No que diz respeito à “cena musical de Leiria”: sim está a surgir, há uma enorme quantidade de bandas a fazer música de qualidade. E já há resultados disso, na vertente “indie” da música feita em Leiria, com duas bandas a ter já um sucesso considerável a nível nacional, que são os Nice Weather [For Ducks] e os First Breath [After Coma].
No que diz respeito ao circuito dessa mesma cena musical, não é muito vasta, estamos limitados a três ou quatro locais na zona, mas não é razão de queixa, há zonas piores que a nossa. Mas apesar de serem poucos, são “spots” de muita qualidade e onde se fazem grandes concertos!

3. Nesse domínio não temos grande opinião, pois enasiamos em casa do nosso baterista e nunca tivemos a necessidade de procurar ou ter um espaço alternativo…

4. Houve uma franca descida de afluências a concertos, mas isso a nível nacional, principalmente devido à conjunctura actual.
Mas apesar de haver menos gente, nota-se que as pessoas que vão aos concertos estão receptivas, apreciam e respeitam a música.

5/7. A nível de espaços, é de salientar o Beat Club, o Texas Bar e o Alfa Bar, que são grandes locais de concertos e nos quais já passámos grandes momentos.

6. Existe uma “mini-cena”musical de Leiria, bastante saudável, que envolve quatro ou cinco bandas, que se entre ajudam e fazem coisas interessantes, mas é confinada a um certo género musical.
Mas de um modo geral não, as bandas deveriam colaborar mais, sempre fomos apologistas de que a união faz a força.

8/9. Os Allstar Project proporcionam grandes momentos ao vivo. Os Stone Dead têm a sua postura energética. E é de ouvir os álbuns dos Nice Weather [For Ducks], dos First Breath [After Coma], e já agora o nosso!

10. Sim, gostamos desta cidade. Ela trata bem os Robin Oak!


THESE ARE MY TOMBS (Luís Diogo e Tiago Cardoso)



1. A zona de Leiria tem muitos músicos, o que facilita a criação de bandas. Também é uma cidade bastante dinâmica em termos de eventos musicais (mais os arredores que a cidade em si) e isso dá sempre inspiração para fazer música. (LD)

Leiria é, cada vez mais, uma cidade criativa, mas não deixa de ser uma cidade pequena, com as vantagens e desvantagens que isso tem. Assim, o início de muitos projetos (musicais e não só) passa por utilizar o tempo livre de uma forma produtiva, recompensadora e criativa com pessoas com o mesmo mindset, em vez de o passar no café. (TC)

2. Ao contrário de outras cidades não predominam as bandas de covers que tocam nos bares locais. Existem muitos eventos com bandas de originais e isso é muito positivo. Estamos mais atentos a eventos em que o som é mais pesado e alternativo. Em termos de géneros mais activos talvez o metal tenha muito destaque na zona. (LD)

Penso que a cena musical em Leiria é bastante diversa. Há bandas a praticar o rock n' roll directo e sujo, rock dançável, rock musculado, indie mais melódico e alegre, rock progressivo, post-rock, metal clássico, metal com misturas de hardcore, metal progressivo e técnico, hardcore puro, cantautores de vários estilos, entre outros. (TC)

3. Ensaiamos na casa do Samuel (baterista) e acho que falo pelos 3 quando digo que nunca tive condições de ensaio tão boas como as que temos actualmente. Para além disso o pai do Samuel faz uns petiscos excelentes para recuperarmos no fim do ensaio. Em termos de locais específicos para ensaiar existem poucos e com condições fracas. (LD)

Concordo com o Luís. Infelizmente ainda faltam espaços acessíveis com condições para ensaiar e trabalhar com banda, que seriam importantes tanto para as bandas que estão a começar se juntarem e experimentarem a tocar em conjunto como para as já estabelecidas que procuram desenvolver e aperfeiçoar o seu trabalho. (TC)

4. Quando vamos a concertos na zona, acabamos por ver muitas caras familiares, existe um grupo considerável que assiste aos eventos na zona. Não é um publico muito variado e não é fácil ver caras novas em eventos musicais em que o género é mais alternativo. Mas os que vão são muito entusiastas e dão muito apoios ao que fazemos. Diria que são um público com um gosto genuíno por música e que não se limita a ouvir o que está na moda. (LD)

Sim, muitas das pessoas que conheço que vão frequentemente a concertos de originais e procuram eventos de qualidade têm também elas bandas ou estão ligados à música de outra forma (como organizadores dos eventos, por exemplo). Acabam por ser os amigos que temos noutras bandas que nos apoiam mais como público e vice-versa. (TC)

5. Destacam-se dois espaços pela sua qualidade em termos de staff e de condições oferecidas:
Beat Club e Texas Bar. Nestas casas assistimos a concertos com uma qualidade que em nada fica atrás de muitas casas de concertos de referência em Lisboa. (LD)

O Luís já referiu o Beat Club e o Texas Bar, que têm condições para tocar e ver concertos a um nível bastante profissional sem ter uma barreira entre público e músicos, o que para mim é uma grande mais valia. Há também O Nariz Teatro e na Marinha Grande o Ovelha Negra. Noutro nível e para eventos com mais produção há o Teatro José Lúcio da Silva, que tem som e equipas excelentes, e o Teatro Miguel Franco.
Penso que a oferta seja suficiente para o geral dos eventos, se bem que pode-se sempre procurar alternativas e a abordagens diferentes, como formas de juntar os músicos de géneros diferentes todos no mesmo evento para facilitar o networking e a partilha de ideias. (TC)

6. As bandas trabalham bem, dentro de um determinado género acabamos por convidar e sermos convidados para tocar em conjunto com frequência. (LD)

Parece-me que ainda não há bem a proximidade que seria ideal, há um bocado o receio de misturar géneros diferentes. Mas trabalha-se bem quando há amigos noutras bandas. (TC)

7. Destaco a Fade In na cidade de Leiria e o grupo de teatro O Nariz. (LD)

Eu diria a Fade In, O Nariz, a ecO, a Original Sounds, o Ovelha Negra e a Preguiça Magazine. (TC)

8. Sublinho os Iodine que lançaram um novo EP e pelo que já ouvi só posso dizer que aconselho bastante e ao vivo são excelentes. Os Horse Head Cutters partem tudo em concerto e já lançaram também um EP. Os Dream Pawn Shop têm arranjos muito bons de cordas e saxofone, num post-rock mais estudado e controlado. Falo ainda dos Les Crazy Coconuts, com quem tivemos o prazer de tocar no Teatro José Lúcio da Silva, e que têm uma abordagem interessante ao misturarem o sapateado com um rock/pop bastante dancável. Todos estes merecem mais reconhecimento pelo trabalho que têm desenvolvido. (LD/TC)

9. 
Um evento muito bom promovido na cidade é o "Há Música na Cidade". Para além desse evento temos concertos regulares com bandas de muita qualidade. Não destacaria nenhum festival ou concurso mas sim os concertos regulares que passam pelo "Texas Bar" e "Beat Club". (LD)

Estar atento ao “Há Música na Cidade”, ao “HardFest” e ao Fade In Festival. (TC)

10. Acredito que sim, na cidade de Leiria temos tido oportunidade de tocar em locais com muita qualidade se bem que por intermédio da Associação "Fade In". (LD)

Temos tido algum interesse e apoio por parte de algumas entidades, mas passa muito por trabalho, investimento e iniciativa dos elementos das bandas. (TC)




Agora, a caixa de comentários é vossa.
Há muito Portugal por desbravar e já estamos à procura da próxima cidade.








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