Título: Turbo
Lento
Edição: Setembro de 2013, Universal Music
Classificação final: 9.1/10
«Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente».
Seria possível os Linda Martini samplarem
um dos reis da música popular brasileira? Seria possível os Linda Martini
soarem ao seu terceiro longa-duração de estúdio, e já com década de existência,
como se ainda estivéssemos nos tempos em que estes cresciam via fenómeno myspace? Seria possível o (agora)
quarteto lisboeta explorar as sonoridades que sempre exploraram e estas não nos
parecerem desgastadas?
Sejamos
francos, muitas gentes eram aquelas que se demonstravam reticentes para Turbo
Lento (e nisso, a contribuição do single Ratos
ajudou). Motivos? Medo que se tratasse apenas de mais um disco de Linda Martini.
E não que isso fosse mau, porém se assim fosse iríamos sempre preferir ouvir
aqueles discos onde realmente nasceram os Linda Martini. Felizmente, não se caiu
no cliché mas a certeza de que a viagem acabou por lá passar é uma garantia.
Foram várias
as entrevistas onde a banda confessava que Turbo
Lento iria ser uma espécie de mistura entre Olhos de Mongol (ler crítica aqui) e Casa Ocupada (ler crítica aqui): não nos mentiram, não temos razões
para nos sentir defraudados. Conserva-se a identidade mais experimental do
pós-roque e os rasgos mais exacerbados de guitarras que foi patenteado no
primeiro LP da banda e mantém-se, numa dose ainda mais vincada, o espírito punk e a preocupação idiossincrática de
transportar-nos, através do estúdio, para o palco de Casa Ocupada. Pelo meio, aromatizações de math-rock que foram outrora comtempladas em Marsupial.
Pelo parágrafo
anterior poder-se-à pensar que, pelas partes, o todo se mantém intacto e igual
a si mesmo e que Turbo Lento ao invés de se tratar de uma reinvenção se trata
mais de um reaproveitamento daquilo que anteriormente se fez. É verdade que se
trata mais de um reaproveitamento do que de uma reinvenção, contudo há uma
coisa que está irreversivelmente diferente e que faz com que Turbo Lento difira
de todas as outras obras discográficas dos Linda Martini: são os coros. É um
disco ainda mais cancioneiro que Casa Ocupada, um disco ainda mais preocupado
com a propensão que este tem em chegar a mais pessoas: não é para menos, o
conceito lírico também está mudado, denota-se um perfil mais interventivo. No
meio da confusão que nem sequer tropeça nos dias, urge dizer-lhe que ela pode
cessar e que os dias não existem para que tropecemos neles mas sim para eles se
tropecem em nós.
E assim, no
compasso de tudo isso, se canta sobre uma juventude (será uma juventude sónica?
parecemos putos) que parece querer sê-la para sempre, que não quer crescer, que
quer evitar a todo custo uma entropia das coisas e que se conforma com o um «fado que agora quer ser samba» (será uma
crítica a temáticas como o AO?). Mas no fim não há cura para as rugas, os ratos
continuarão a devorar-nos e a «fera», essa, não continuará outra coisa que não
mansa. Pudéramos nós tornar imensa cada música dos Linda Martini, mas eles não
precisam; Turbo Lento é só mais uma
prova disso.
Emanuel Graça
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