terça-feira, 1 de outubro de 2013

10 ANOS COM OS LINDA MARTINI : "TURBO LENTO" (2013, Universal Music)

Título: Turbo Lento
Edição: Setembro de 2013, Universal Music
Classificação final: 9.1/10

«Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente». Seria possível os Linda Martini samplarem um dos reis da música popular brasileira? Seria possível os Linda Martini soarem ao seu terceiro longa-duração de estúdio, e já com década de existência, como se ainda estivéssemos nos tempos em que estes cresciam via fenómeno myspace? Seria possível o (agora) quarteto lisboeta explorar as sonoridades que sempre exploraram e estas não nos parecerem desgastadas?

Sejamos francos, muitas gentes eram aquelas que se demonstravam reticentes para Turbo Lento (e nisso, a contribuição do single Ratos ajudou). Motivos? Medo que se tratasse apenas de mais um disco de Linda Martini. E não que isso fosse mau, porém se assim fosse iríamos sempre preferir ouvir aqueles discos onde realmente nasceram os Linda Martini. Felizmente, não se caiu no cliché mas a certeza de que a viagem acabou por lá passar é uma garantia.

Foram várias as entrevistas onde a banda confessava que Turbo Lento iria ser uma espécie de mistura entre Olhos de Mongol (ler crítica aqui) e Casa Ocupada (ler crítica aqui): não nos mentiram, não temos razões para nos sentir defraudados. Conserva-se a identidade mais experimental do pós-roque e os rasgos mais exacerbados de guitarras que foi patenteado no primeiro LP da banda e mantém-se, numa dose ainda mais vincada, o espírito punk e a preocupação idiossincrática de transportar-nos, através do estúdio, para o palco de Casa Ocupada. Pelo meio, aromatizações de math-rock que foram outrora comtempladas em Marsupial.

Pelo parágrafo anterior poder-se-à pensar que, pelas partes, o todo se mantém intacto e igual a si mesmo e que Turbo Lento ao invés de se tratar de uma reinvenção se trata mais de um reaproveitamento daquilo que anteriormente se fez. É verdade que se trata mais de um reaproveitamento do que de uma reinvenção, contudo há uma coisa que está irreversivelmente diferente e que faz com que Turbo Lento difira de todas as outras obras discográficas dos Linda Martini: são os coros. É um disco ainda mais cancioneiro que Casa Ocupada, um disco ainda mais preocupado com a propensão que este tem em chegar a mais pessoas: não é para menos, o conceito lírico também está mudado, denota-se um perfil mais interventivo. No meio da confusão que nem sequer tropeça nos dias, urge dizer-lhe que ela pode cessar e que os dias não existem para que tropecemos neles mas sim para eles se tropecem em nós.


E assim, no compasso de tudo isso, se canta sobre uma juventude (será uma juventude sónica? parecemos putos) que parece querer sê-la para sempre, que não quer crescer, que quer evitar a todo custo uma entropia das coisas e que se conforma com o um «fado que agora quer ser samba» (será uma crítica a temáticas como o AO?). Mas no fim não há cura para as rugas, os ratos continuarão a devorar-nos e a «fera», essa, não continuará outra coisa que não mansa. Pudéramos nós tornar imensa cada música dos Linda Martini, mas eles não precisam; Turbo Lento é só mais uma prova disso. 

Emanuel Graça




0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Facebook More

 
Powered by Blogger | Printable Coupons