quinta-feira, 3 de setembro de 2015

malcontent - ENTREVISTA

Sérgio Costa, Filipe Pereira e Jorge Oliveira formam actualmente os malcontent, o agora trio nortenho activo desde 2007 que se regenerou com sucesso após a sua vitória no antigo Super Bock Super Rock Preload em 2010 com as mesmas expectativas, ou até superiores, que adquiriu na altura imprimindo um forte cunho noise a uma estética semelhante à de bandas conotadas com o post-punk e o indie-rock.
De partilhar palco (e até gosto pelo mesmo material) com, por exemplo, os Föllakzoid ou A Place To Bury Strangers, óbvios compinchas, vão amanhã ao Indie Music Fest integrar um contingente de cerca de 40 outras bandas nacionais, repetindo a militância festivaleira do Indouro Fest de há alguns meses atrás. Numa altura em que "Riot Sound Effects", o seu disco de estreia pela Honeysound e sucessor de "Erased" e "Love The Gun", também está mais do que na altura certa para ser descoberto por quem se desvia do "hype" momentâneo, falámos com a banda antes de mais um degrau no seu caminho em busca de palcos maiores.  






BandCom (BC): Porquê “Riot Sound Effects” como título do vosso novo trabalho?

malcontent: É um título que identifica a nossa sonoridade, a atmosfera que pretendemos criar em disco e que aponta o universo declaradamente caótico que pensamos que a música deve originar. Sinceramente, é também um título que identifica igualmente a nossa percepção do momento. Não cremos haver lugar a serenidade num país tão amarrado, tão sacrificado e tão enganado. Longe de se tratar de uma mensagem política, não deixa de ser um apelo contra a resignação. Noutra perspectiva, talvez a música, ou aquilo que a rodeia, necessite de um "riot sound effects".


BC: Olhando para uma banda com o percurso e sobretudo a sonoridade dos malcontent, há “gritos de revolta” por dar?  

malcontent: O rock, seja qual for a sua vertente, significa que há gritos de revolta. Voltando à questão anterior, julgamos ser necessário agitar algumas águas onde mergulha a música. Seja pela forma como a indústria se desenvolve, seja pela forma como quem consome percepciona a música. Vamos continuar assim e não nos cansamos de dizer que estamos mais próximos do início do que do fim...


BC: O que é que a adição do Jorge trouxe aos malcontent?

malcontent: Há uma grande identificação do ponto de vista musical, o que não impede o surgimento de novas ideias, e o Jorge trouxe novas ideias. Temos agora uma formação estável, serena e madura... a melhor de sempre.


BC: Foi fácil escolher as músicas e a ordem pela qual constariam no novo trabalho? Pode-se falar de algum “conceito orientador” para o “Riot Sound Effects”, apesar de não declarado?

malcontent: Alguns temas que gravámos em estúdio ficaram à margem do álbum. As misturas finais trouxeram-nos algumas surpresas. Músicas que julgávamos indispensáveis ao novo trabalho acabaram por não entrar. Outras sobre as quais tínhamos reduzidas expectativas tornaram-se as nossas favoritas. É um processo estranho, mas que mostra a complexidade de produção de um disco. Quanto ao alinhamento do álbum, seguimos sobretudo uma sequência lógica do ponto de vista melódico, o que dá ao disco uma grande coerência.
"Riot Sound Effects" enquadra (de uma forma ruidosamente melódica) o nosso ponto de vista sobre a sociedade ou sobre as relações pessoais. É o nosso pequeno contributo para questionar o que nos surge no dia-a-dia.





BC: Havendo quem vos compare ao noise e ao indie-rock mas com uma essência pop de bandas como os Jesus and Mary Chain, que descobertas e alterações na sonoridade dos malcontent, maiores ou nem tanto, vos têm surpreendido e motivado? Tem sido também um processo de revelação das vossas verdadeiras fontes de inspiração num dado momento?

malcontent: Há um vasto conjunto de nomes, sobretudo do universo anglo-saxónico, que nos influencia, é certo, mas criamos o nosso próprio caminho. Temos por objectivo escrever canções recheadas de poeira sónica e, ao contrário do que muitos pensam, os meios inovadores para lá chegar não estão esgotados. Quase diariamente exploramos novas sonoridades, diferentes modelos de composição. É muito positivo quando o nosso próprio trabalho nos surpreende e isso vai reflectir-se no futuro. Temos muito por onde inovar sem renegar os nossos "princípios", a nossa ideia do que deve ser a música. Um tema pode ter airplay sem necessariamente resultar da fórmula clássica - intro, verse, chorus, verse, chorus, end - e é isso que estamos agora a fazer, mas sem entrar no erro de transformar as nossas canções aborrecidas...


BC: A edição do disco contou, entre outros, com o contributo dos vossos fãs. Para além da contribuição monetária, houve algum incentivo, alguma mensagem que vos tivesse encantado para além do sucesso dessa iniciativa?  Consideram isso como um carimbo de qualidade, como “a melhor crítica” que poderiam receber? 

malcontent: Sem dúvida. É a prova da qualidade do nosso som. Tivemos ainda muitas mensagens encorajadoras com o lançamento do álbum sublinhando a qualidade do trabalho. É naturalmente com grande satisfação que recebemos esse feedback. A reacção aos nossos concertos também é uma mensagem positiva. 


BC: Com o EP “Riot” e este “Riot Sound Effects” passaram a fazer parte do catálogo da Honeysound. O que/quem é que vos conduziu à Honeysound?

malcontent: A Honeysound encarna exactamente o espírito que deve acompanhar a música. Não é uma editora, é um conjunto de pessoas/músicos que pretendem servir a música e não servir-se dela. Há um esforço solidário na promoção e divulgação de projectos. Há um espírito de entreajuda e não uma tentativa de usar a música como trampolim para promoções pessoais ou como meio de lucro fácil. Já havia contactos e a nossa entrada no catálogo Honeysound foi quase natural. 





BC: A “Aggressive” do “Riot” foi objecto de uma remistura por parte do Rui Maia. O que é que acharam do resultado final? Por entre as camadas de guitarras que imprimem, é útil ter alguém de fora que vos mostre outra forma para o mesmo conteúdo?

malcontent: A remistura do Rui é excelente e é com orgulho que o vemos associado aos malcontent. Trata-se da sua própria interpretação de um tema nosso sem o desvirtuar. Mantém a agressividade, a intensidade do tema, mas transporta-o para outra atmosfera, mais electrónica e dançável. Não temos qualquer "prurido" com diferentes abordagens pois esse é outro veículo para fazer chegar o nosso som a outros públicos. Seria injusto não mencionar igualmente as remisturas de Fat Freddy e Alex FX que também estão no alinhamento do "Riot" EP. São trabalhos geniais!


BC: À semelhança do Indie Music Fest, onde vão estar, outros festivais vão surgindo por todo o país e ganhando o seu lugar apresentando nova música portuguesa e dando lugar para que inúmeras bandas se mostrem em lugares mais destacados da sua programação. Isto significa que as organizações perderam o receio que tinham de colocar a música portuguesa ao nível da música de outros países? Que razões consideram mais importantes para esta alteração do paradigma que vinha sendo comum nos cartazes dos festivais de Verão?

malcontent: Sim, há claramente uma alteração de pensamento, mas nunca percebemos esse receio de colocar bandas portuguesas numa posição de destaque. É uma questão de mentalidade. E isso não é exclusivo dos festivais onde, para além de não haver lugar de destaque, durante muito tempo a inclusão de bandas portuguesas nos cartazes era vista como algo de favor (quantas bandas não terão ouvido, algo do género "tocam à luz do dia quando o público é reduzido e não temos como vos pagar. Ainda assim é muito bom para vocês, é promoção"). Também nas lojas convencionais questionamos a razão pela qual o nosso disco e outros de bandas nacionais é colocado lado a lado com artistas de fado ou música ligeira. Qual é o sentido?  Então não será mais coerente colocar o nosso som junto à dita música alternativa? Por que não fazem uma banca exclusiva de música espanhola, outra francesa, japonesa, de Vanuatu, etc.? É uma questão de mentalidade que felizmente e sobretudo nos festivais começa a mudar. No entanto, acreditamos que a alteração do paradigma está directamente relacionada com a melhoria da qualidade das bandas nacionais. Há projectos excelentes e abrem portas à divulgação do fulgor criativo que Portugal assiste.


BC: O que é que o futuro reserva no imediato para os malcontent? Espectáculos 
dentro/fora do país? Novas edições?

malcontent: Estão agendados concertos em Espanha. Brevemente lançaremos em formato digital um EP onde incluiremos outtakes do álbum. Um novo trabalho está já numa fase embrionária e temos o objectivo de o editar no próximo ano. Ainda vamos fazer muito barulho!

André Gomes de Abreu




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