sábado, 22 de agosto de 2015

d3ö - ENTREVISTA

Habituámo-nos ao muito que parece pouco. Deixámos o tempo passar e já lá vão quase 15 anos em que a presença dos d3ö nos palcos, nas conversas ou nos escaparates de música portuguesa é constante - primeiro pela tentação de continuar a seguir grandes vultos, mais tarde pela certeza de uma bela carreira, de uma bela identidade tatuada com o blues e o rock n' roll que, por ser o mais despudorado e o mais apegado a uma vivência completa, é também o que mais prepara um futuro sóbrio.
Primeiro uma série de 3 EPs, depois uma série de dois discos de originais: "Exposed" e o mais recente "Love Binder" editado pela Lux Records. As mudanças, mesmo na formação original, parecem mínimas se podem ser pouco notadas. Só são amplificadas quando assim o merecem, quando assim tem que ser, tal como o magnetismo quase inevitável para as luzes mais brilhantes que já os empurrou para palcos como o do agora NOS Alive. 

Uma das perfeitas "instituições do rock" que continua viva, incendiária e refrescante para um público cada vez mais alargado. A propósito de mais uma paragem, desta feita no festival Croka's Rock em Castelo de Paiva, fomos às aulas com o professor Toni Fortuna e vivemos para contá-lo.





BandCom (BC): Como é que os d3ö chegam a 2015? De boa saúde? De bem com o passado e com o seu percurso?

Toni Fortuna (TF): Sim, o trio está de boa saúde e recomenda-se. Tem sido um caminho trilhado com alguns 
momentos atribulados, mas isso faz sempre parte da vida e das escolhas que vamos fazendo.
Mas estamos bem, focados no que ainda queremos fazer e no percurso que ainda nos falta trilhar.


BC: O projecto inicial era mesmo o de apenas gravarem um EP por cada membro da banda? A oportunidade de gravarem o “Exposed” nasce de que forma? Mais como um impulso após perceberem que gostavam de prolongar o projecto ou porque houve algo que vos fez mudar cirurgicamente e em definitivo de planos?

TF: Não, o conceito dos 3 EPs foi uma abordagem diferente: queríamos poder editar trabalhos sem pressão, só as músicas que queríamos, achámos que o facto de sermos 3 e poder "brincar" com isso também nos agradava...mas nunca pensámos em só fazer 3 EPs. Quem sabe se depois de fazer 3 álbuns fazemos mais 3 formatos diferentes.


BC: Gravar e lançar o “Love Binder” fez-vos, de alguma forma, apreciar ainda mais o legado discográfico que deixam ou não existe forma de se “cansarem” de tocar ao vivo e de ansiar pelo próximo concerto?

TF: Nós gostamos muito de tocar ao vivo, temos necessariamente de gravar discos para o podermos fazer e podermos também pensar em coisas novas. Esperamos nunca nos cansar de tocar ao vivo, que é sem dúvida onde nos sentimos mais à vontade.


BC: O aparente descomprometimento com manter um formato e uma fórmula para o que fazem, incluindo os discos, é uma liberdade que vos custou caro em algum momento? Ou ficaram mais perto da perfeição, da auto-realização, da satisfação com o vosso próprio trabalho?

TF: Já pagámos algumas "facturas" por termos feito determinadas escolhas ( o exemplo dos 3 EPs, foi um desses momentos), mas foi e tem sido uma escolha consciente. Assumimos o que daí advém em prol da satisfação (e também auto-realização que falavas) de podermos decidir o nosso caminho. Estamos sempre a aprender.





BC: É também fácil e/ou rápido ficarem satisfeitos com uma determinada canção nova ou podem passar mais tempo a debater uma canção do que um disco inteiro?

TF: Já aconteceu ficarmos satisfeitos rapidamente tanto como passado pouco tempo já acharmos que precisa de alterações mas nunca tivemos grandes casos de uma música demorar mais que um disco. Se não funciona, ou se dá a volta (tocando, experimentando às vezes até ao vivo) ou então segue-se para outra coisa é e eventualmente mais tarde voltamos lá só para perceber se vale a pena.


BC: O “efeito ‘Love Binder’”, resgatando a referência ao concerto com que fecharam o ano 
passado e passando-o para as vossas relações com outros músicos também ou não de Coimbra, está cada vez mais alargado e mais sólido mesmo que a cidade de Coimbra possa não dizer o mesmo?

TF: A partilha e união está bem presente em quase tudo (senão tudo) o que fazemos; por outro lado, gostamos de experimentar o que ainda não fizemos e essa reunião com outros músicos foi verdadeiramente isso. E isso pode acontecer em Coimbra como em outro lado qualquer.
Não sabemos o que a cidade de Coimbra acha...ela não nos fala com frequência...


BC: O Miguel Benedito, membro original dos d3ö, deixou de tocar com a banda e agora encontra-se, inclusivamente, fora do país. Embora não tenham deixado de tocar no estrangeiro, passa-vos/passou-vos a ideia de que também poderiam vingar lá fora em definitivo como banda? Houve desafios que ficaram por ultrapassar? Quais?

TF: O Miguel deixou de tocar (no trio) porque saiu do país, senão ainda estaríamos a partilhar palcos. Já pensámos muitas vezes em sair do país por algum tempo ( mesmo que isso sejam anos) mas cada vez se torna mais difícil com famílias. Mas acho que nunca foi posta de parte essa hipótese, quem sabe um destes dias ainda acontece.


BC: O que é que vos motiva num determinado público? A sua capacidade de reagirem como massa única e com personalidade própria ou a possibilidade de a manietar e provocar?

TF: Nós gostamos de partilhar; emoções, momentos, alegria, energia... E os nossos concertos vivem muito disso... cada pessoa reage de forma diferente ao que vê, ouve e sente, mas é essa individualidade que nós gostamos, e que de alguma forma nos une...é uma relação osmótica.


BC: Que concertos foram tão marcantes que por eles a vossa existência ainda tem valido mais a pena?

TF: Já tocámos com muitas bandas ou pessoas que nos dizem muito ou com quem nos
identificamos bastante, em salas ou sítios que por si só podem "fazer" um concerto, mas é a junção de tudo, incluindo o público e a partilha de energias e alegria, que nos preenche mais e nos faz pensar que aquele concerto em especial valeu a pena e nos faz continuar a querer fazê-lo.





BC: A Lux Records é um projecto de futuro que os d3ö gostaram e gostariam que contasse também para o seu futuro?

TF: A Lux Records (o Sr. Rui Ferreira) tem-nos acompanhado desde o princípio, com todos os altos e baixos que 12 anos carregam. Gostamos de pensar que isso é também o futuro, mas não queremos ter um pensamento redutor e por isso não fechamos nenhuma porta de podermos trabalhar com outras editoras ou entidades.


BC: Quais as expectativas dos d3ö para os próximos tempos em matéria de: concertos? Novo material discográfico? Novos acontecimentos (um disco novo, um livro, uma peça de teatro, um filme, etc…) em Portugal e no Mundo?

TF: Temos uma série de músicas novas que estamos a trabalhar para um novo disco, temos andado a trabalhar em "mercados" novos de forma a podermos espalhar a nossa música por outros sítios, culturas e pessoas. Gostaríamos muito de fazer bandas sonoras para um filme ou peça de teatro, mas não havendo propostas podemos sempre fazermos nós alguma coisa que se assemelhe e por isso temos feito muitos registos de imagens pelas nossas viagens. Não temos nada de concreto, mas temos uma série de ideias e muita vontade de continuar a tocar e a desenvolver coisas novas para podemos apresentar ao público.

André Gomes de Abreu




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