quinta-feira, 18 de junho de 2015

TUNDRA FAULT - "Whole" (2015, Ed. Autor)




Nascido em Londres, Tundra Fault aka Miguel De apresenta-nos com o seu primeiro EP "Whole" um ensaio sobre a efemeridade, palavra-metáfora aqui do experimentalismo, onde as suas batidas e melodias brincam às escondidas, ora pondo o artista em destaque umas, ora fazendo desaparecer outras, por trás de um manto de bruma.
Nos seus 8 temas, que passam a correr, há espaço para um mar de sentimentos, do arrepio negro ao sensual e dançante, do turvo suspeito ao belo e sedutor. Sentem-se influências das mais diversas, na procura das camadas que compõem os seus temas, ilustrando a viagem que é a vida que, mesmo sendo curta, nos permite passar por várias fases, tão sonoras como sentimentais. 








Se nos ficarmos pela cena eletrónica portuguesa, e por incrível que pareça, surgem-nos tanto alusões a uma eletrónica doom ("Drops Night")  sem vozes fantasmagóricas – nos momentos mais saturados e rasgados – como influências mais ligadas à eletrónica de expressão luso-africana característica dos arredores de Lisboa banhadas em ácidos industriais ("Loose Self").
Nem tudo é acessível, nem tudo é perfeito, mas o objetivo nunca foi esse - há fases mais dançáveis ("Breaking Orb") tal como outras mais contemplativas ("Become Skin"), onde quase se ouvem vozes femininas, aqui em nada angustiantes.

A meio do EP surge o tema "Voyage", ilustrado por um videoclip onde se vislumbram rostos, sexo, numa atmosfera entre o negro e o cinzento e são audíveis as batidas dos corações envolvidos, mas onde os corpos parecem mudos mesmo tendo expressões físicas, como se lhes restasse apenas carne e osso. Uma metáfora dos sentimentos viajantes, com prazo de caducidade, parados num tempo que já não o é. Um tema que abre as portas a outros dois bem mais techno e repetitivos e a "Affection", a música mais curta do álbum que o fecha de uma forma aérea e já bem mais apaziguada.





No fundo, "Whole" acaba por ser um trabalho de pesquisa intenso, envolto num certo pessimismo. Um ensaio sobre o experimentalismo e a incapacidade em saciar todas as suas ideias, as suas vontades, as suas fantasias mas que se pode combater ao aprender, estrato após estrato, a exercer um certo controlo sobre a música, os sentimentos, o corpo. 


Mickaël C. de Oliveira




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