domingo, 28 de junho de 2015

CAVE STORY - "Spider Tracks" (2014, Ed. Autor)



Das Caldas, lugar onde a arte é Rainha e prolifera mas nem sempre impera, vêm os Cave StoryO EP "Spider Tracks", lançado em Dezembro de 2014, catapultou a banda para 2015, e de que maneira. Eles que até então tinham publicadas algumas demos muito interessantes (oiçam "Ghost Steps!) e o single "Richman", mas com pouca projecção. "Spider Tracks" foi, de facto, a rampa de lançamento para um reconhecimento muito maior que teve início no último Vodafone Mexefest, em Lisboa, no qual tiveram a oportunidade de tocar. E esse reconhecimento é merecido. É merecido tanto pelo trabalho artístico desenvolvido como pelo risco que fazer música como esta em Portugal acarreta. 





"Cleaner" abre rápido e vai directo ao assunto: estamos perante uma banda que não tem medo de falar quando quer falar, cantar quando quer cantar. Se for preciso bater na tarola em todos os tempos, que seja. Se for necessário incluir barulhos estranhos lá no fundo para a música ganhar alma, assim seja. Não é preciso mais, e assim acaba em 2 minutos e meio um bom início de EP, bem escolhido como introdução, sem dar tudo a quem ouve. Por outro lado, "Southern Hype" é uma música com bons riffs. Ficam no ouvido e são aproveitados e enfatizados num final prolongado de intensidade crescente. A voz acompanha bem, a música é boa, mas é talvez a mais desinteressante do álbum.

Depois de um pequeno tropeção, "Buzzard Feed" volta a agarrar. Novamente, riffs repetitivos e bem esgalhados mas com uma letra e interpretação vocal muito mais provocadora e rica. Pormenores de guitarras saturadas e atonais agradavelmente perturbadoras. Barulho com intenção e bem construído. Baterias imprevisíveis e um final forte. E "
Fantasy Football" é daquelas em que se pensa “porque não fui eu que fiz isto?”. Dá para pôr em repeat, encostar e pensar na vida. Quem gosta de Pavement e passa pela "Gold Soundz" não consegue pô-la a tocar pelo menos mais uma vez. Foi o que senti com esta música: simples, eficaz. Uma pérola que se apanha no ar de vez em quando.





Quase a fechar, "Hair" é a melhor música do álbum e junta tudo o que todas as outras músicas têm de bom numa só sem soar desconjuntado. Rápida, melódica, barulhenta, voz confiante e suja, não se percebe bem se quer agarrar a música ou fugir dela... imprevisibilidade. E depois o final. Este final é das melhores coisas que já se fez nos últimos anos na música portuguesa. Escutem.

Aos que querem soar a Tame Impala ou ao que quer que o vento sopre, oiçam os Cave Story. Citando Billy Corgan (que no meio de muita parvoíce diz coisas boas), o rock n roll é "destruição" e é dela que vive. Pedro Zina, Ricardo Mendes e Gonçalo Formiga soam honestos e sem merdas.
Não constranger a arte e pô-la cá para fora sem medo é de valor e talvez daí o seu sucesso, talvez tão inesperado para eles como surpreendente para muita gente. As influências estão lá e são para ser mostradas - não digo, portanto, que seja original na forma, mas no conteúdo é e isso marca a diferença. Basta ouvirem. 

"Guess We Could Feel Better About Worse".

Hugo Hugon




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