quarta-feira, 4 de março de 2015

DE E POR: MONSTER MINE - "Monster Mine" (2014, Ed. Autor)

Em Monster Mine, Diogo Ferreira faz um pouco de tudo: compõe, escreve letras, toca, canta. Do reconhecimento desta vontade de ubiquidade a fazer reflectir o nome do projecto no nome do primeiro disco é um pequeno passo: afinal, como refere, "todas as canções são sobre os nossos monstros internos, a relação íntima que temos com os nossos monstros e a relação deles com os monstros dos outros!".O condensar de várias ideias bebidas a inúmeras referências não apenas musicais dá-nos um disco extremamente interessante com pistas de quase todos os "monstros sagrados" da música como PJ Harvey, Siouxsie And The Banshees, Nick Cave ou Bauhaus mas com um toque de reincorporação de classicismos de quem se assume e se redefine noutra época, a dos 00s.
Um diário de canções que Diogo nos explica ao pormenor de seguida.






There's Still Life

Esta foi a mais rápida das canções a ser escrita. A letra deu por si primeiro e depois ao lê-la apareceu a melodia. Será a mais autobiográfica, mais directa e com um som mais convencional um pouco 'vintage'. Os monstros aqui podem ser um familiar, um colega de escola ou nós próprios mas existe sempre uma luz a seguir.


Look Out

Mais uma vez a letra foi escrita primeiro há uns quantos anos e era um desabafo sobre o quanto um amigo meu me estava a enfurecer com a sua inércia, preguiça e contentamento em não ser uma expressão maior de si próprio. Depois apercebi-me que a canção era sobre mim também. Esta tem um som mais electrónico, mais dançante apesar de mudar a meio para algo diferente.


Taste

Esta é outra canção que vai mudando de forma enquanto vai avançando acabando numa explosão 'rock' que é electrizante ao vivo. O resultado final é muito próximo da 'demo' original.


Addressing The Land

Escrevi a letra mais como um poema e tal como o 'There's Still Life', ao lê-lo a música visitou-me rápidamente e lembro-me que estava deitado na cama numa manhã qualquer. O tema é uma mistura que para mim faz sentido de uma forma estranha. É sobre a violência física e emocional entre seres humanos que tem um impacto físico e espiritual na Natureza. O piano rítmico é a linha condutora da canção.


Crystal Swan Lake

O piano foi composto primeiro e obedeceu a uma estrutura própria que resultou em eu sentir que o texto teria que ser declamado em vez de cantado. Foi muito divertido encontrar formas estranhas de interpretar esta personagem que tem várias vozes. Gravei três faixas de voz com a intenção de criar uma personagem que ao falar parecesse que tinha várias pessoas dentro de si. É quase um exorcismo de uma vida sem rumo, claustrofóbica e árida. É uma vontade irreprimível de querer renascer.


Dew Drops

Esta canção foi a minha tentativa de incluir um pouco de mitologia no imaginário do disco. O primeiro refrão refere Loreleii e Rusalki que personificam a sombra, o pântano, o que se esconde e observa por entre as árvores. O segundo refere Brighid e Laume que personificam a justiça, a bondade, o valor da imaginação e a luz que se manifesta através da Natureza.


The Calling of Winter

Escrevi esta canção numa sexta-feira de manhã há alguns anos atrás. Acordei deprimido e extremamente infeliz com a falta de rumo na minha vida. E foi assim que, sentindo-me uma nulidade, arrastei-me até ao piano digital que tinha no quarto e compus a parte do piano sem a introdução que está na versão final. Essa parte foi composta enquanto estava em estúdio a gravar o disco porque senti que a canção precisava de algo mais. Escrevi a letra logo a seguir e nessa mesma manhã tinha a canção terminada. A letra descreve a vida dos habitantes de uma aldeia que vivem em completa comunhão e compreensão pelos ciclos das estações e da terra. De repente são invadidos por bárbaros e esta é a parte orquestral a meio da música onde cada personagem defende-se vitoriosa contra os invasores. É uma metáfora da forma como por vezes temos de defender-nos das invasões externas quer seja uma pessoa, uma ideologia ou a sociedade que nos quer controlar.


Show Yourself, Satan!

Musicalmente mais agressiva e dramática sobre a forma agressiva-passiva como nos tratamos uns aos outros e que muitas vezes é aceite socialmente. Alguns sons foram tirados directamente da 'demo' que fiz em casa.


Monster Mine

Aqui todas as pontas se unem e o tema do disco atinge um auge. Foi divertido usar diversos sons como vidro a partir-se, lobos a uivar e vento no meio do turbilhão sonoro e ameaçador com um leve toque 'sci-fi' nos refrões. Esta música foi inspirada pelo filme 'Dog Soldiers' em que um grupo de pessoas se barrica numa casa no meio da floresta para escapar aos lobisomens. 





Work Hard For The Man

Esta música passou por várias encarnações, inclusive uma versão em português, até chegar a esta versão final. Foi inspirada por um documentário sobre uma seita em Portugal (no Alentejo, julgo eu) que vi na televisão há muitos anos. A discrição de abuso mental e sexual ficou comigo e senti que tinha de contar esta história em forma de canção. 


She Had A King (Who Was A Queen)

Outra canção inspirada num filme. Nesta vez em 'De-Lovely', sobre a vida de Cole Porter. Mais precisamente uma pequena cena em que o Cole Porter estava a lanchar no jardim com a sua esposa Linda. Ela, amando-o incondicionalmente, sugere que ele conheça um grande amigo dela que julga ser o parceiro ideal para ele. A canção é verdadeiramente sobre ela e o amor que sentia por ele, querendo acima de tudo a sua felicidade. Comecei a escrever a canção nos arquivos onde trabalhei e completei-a em casa. O título 'She Had A King' veio de uma canção da Joni Mitchell, uma das minhas maiores influências - 'I Had A King' - que conta uma outra história completamente diferente, mas fascinante. 


Rowing

Também comecei a escrever esta músicas nos arquivos e lembro-me de o ritmo ser muito mais lento, quase arrastado. Também é muito fiel à 'demo' e apesar de ter um ambiente muito 'jazz', acaba num estilo mais 'rockeiro'. 




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