domingo, 11 de janeiro de 2015

LA CHANSON NOIRE - Entrevista

Após alguns anos de actividade, Charles Sangnoir deu como terminado o seu projecto La Chanson Noire, embora não possamos considerar a falta de sucesso como um motivo para essa decisão. Na verdade, La Chanson Noire foi crescendo e colaborando com artistas dos mais diversos campos artísticos, apesar de sempre ter sido, no seu âmago, um projecto a solo. A decisão de lhe pôr término foi revertida recentemente e falámos com Charles acerca do passado e futuro da banda, futuro esse que inclui um novo álbum já em 2015.





BandCom (BC): Após o lançamento de Macumba Stereo, em 2013, insinuaste que esse seria o capítulo final de La Chanson Noire. O que te fez mudar de ideias?

Charles Sangnoir (CS): Na verdade Chanson esteve com os dois pés na cova e a verdade é que durante quase um ano abandonei o projecto por completo – cheguei a um ponto de saturação e cansaço em que senti a necessidade de fazer um corte e começar de novo. No entanto, há coisas que custam a morrer e de repente, quando comecei a trabalhar num novo disco, percebi que tudo aquilo que estava a fazer era Chanson – Eu sou Chanson, e é quase impossível apartar-me desse legado. Tive ainda um período de negociação comigo mesmo, a tentar perceber se deveria ou não procurar outros caminhos, mas quando surgiu o convite da C.M. de Lisboa para tocar no cemitério dos Prazeres (onde fiz a sessão de fotos para o primeiro disco de La Chanson Noire) percebi o óbvio – e pronto, a canção negra regressou.



BC: O ocultismo e a música parecem estar sempre de mãos dadas em La Chanson Noire. São interesses que te acompanharam a vida toda?

CS: Estes dois tópicos pautam a minha vida desde a infância e cruzam-se diversas vezes pois são parte integrante do meu dia-a-dia.


BC: E há uma relação muito forte entre a tua vida profissional e musical?

CS: Inabalável. Na verdade, desde há meia dúzia de anos que vivo quase exclusivamente da música – tenho um estúdio de gravação, uma editora, uma agência e colaboro com diversos artistas em estúdio e ao vivo. E não trocaria esta vida por nada!


BC: É bastante evidente que, tanto a nível cénico como musical, tens uma grande atracção pelo teatral e pela fantasia. É uma forma de escapar à vida mundana?

CS: Há uma falácia nesse raciocínio: a vida 'mundana' é toda ela inundada de teatralidade e fantasia; é apenas o cansaço dos nossos olhos que não nos deixa ver isso com mais frequência. Na verdade, tenho uma atracção mortal pelo burlesco e pelo bizarro e isso transparece no meu trabalho mas não é, no fundo, mais do que um reflexo da minha vivência do dia-a-dia.


BC: Isso estende-se aos inúmeros videoclips de La Chanson Noire, onde a música serve de banda sonora e com frequência não és mais do que uma personagem numa história. 

CS: Tenho uma paixão enorme pela arte em todas as suas vertentes, incluindo o audiovisual – acho que toda a música pode crescer quando acompanhada por imagem e se pudesse faria um vídeo para cada um dos meus temas – na verdade já estive mais longe disso e terá tendência a piorar com os anos.





BC: Que correntes do cinema te seduzem mais?

CS: Não discrimino muito e vejo o que me agrada – na adolescência era um fã enorme de cinema de horror, principalmente série B, mas com o passar do tempo vim a descobrir uma riqueza enorme no cinema chamado independente e em filmes de cariz mais experimentalista. Desde Lars Von Trier a Tim Burton, de Pasolini a Kenneth Anger, entretenho-me com muita coisa diferente.


BC: Apesar de todo o interesse pelo ocultismo e de rotulares a tua música como “música impopular portuguesa”, tiveste o Fernando Alvim na apresentação do teu livro (Cadernos de Desapontamentos) e o Adolfo Luxúria Canibal dos Mão Morta como convidado no teu disco "Cabaret Portugal", entre muitos outros. Não aderes portanto à mentalidade de que a música “underground” deve ficar fechada sobre si mesma.

CS: Na verdade não acho que hoje em dia faça sentido o rótulo seja em que estilo for – a Internet veio a quebrar muitos mitos e hoje em dia só fica fechado na garagem quem quiser. Tenho consciência que a música que faço não é para consumo de todos os segmentos da população mas estou em paz com isso. Quanto a colaborar com personalidades tão diversas como Fernando Alvim, Fernando Ribeiro, Nuno Markl ou Adolfo Luxúria Canibal, tem que ver com o meu gosto por contrastes e pelo inusitado. Há uma beleza particular nas coisas fora de 'contexto'.


BC: Apesar de seres fundamentalmente uma one-man band, já trabalhaste com dezenas de artistas. Como balanças a autonomia e a cooperação?

CS: Sou uma pessoa de relativamente bom trato mas tenho um feitio abominável no que toca às minhas criações: sou muito intransigente e tenho uma ideia muito específica do que quero fazer, pelo que a melhor forma de trabalhar é convidar pessoas para colaborarem comigo pontualmente – o resultado é muito satisfatório e perco menos amigos!


BC: Lançaste o teu livro (Caderno de Desapontamentos) através da Necrosymphonic Entertainment, editora que geres. Já que ela precede La Chanson Noire, qual é a sua origem?

CS: A Necrosymphonic nasceu em 2003 e foi fundada a meias com o Simão Santos, também conhecido como Beyonder e vocalista de Martelo Negro. Foi constituída essencialmente com o propósito de lançar os nossos projectos paralelos ou coisas de que gostássemos mas que não tivessem viabilidade comercial.


BC: Como escolhes os artistas a lançar via Necrosymphonic?

CS: Na verdade o mais normal é ser por relação de afinidade – quando conheço algum artista que me fascina ou que sinto poder ajudar, avanço. Portanto, um aviso à navegação: deixem de enviar e-mails e discos, não procurem por nós, nós procuramos por vocês!





BC: Este ano sairá o novo álbum, "Evergloom". O que nos podes dizer sobre ele?

CS: Posso dizer que será o disco mais negro e intransigente de La Chanson Noire – farei exclusivamente aquilo que me apetecer e os meus critérios de exigência estão mais elevados: pela primeira vez na minha vida dei por mim a jogar temas ao lixo por achar que não se adequavam.


BC: Neste momento, qual é o futuro que vês para La Chanson Noire?

CS: Um futuro negro, muito negro.  ;)



Daniel Sampaio






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