sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

PEDRO E OS LOBOS - Entrevista

"Um Mundo Quase Perfeito" é o novo EP do projecto Pedro e Os Lobos liderado por Pedro Galhoz, músico de longa data a que não falta uma forte consciência quer do seu papel no meio musical, através da Luckyman e da Nova União das Artes, mas também do seu papel como cidadão. Aldina Duarte, António Manuel Ribeiro, Carlos 'Pacman' Nobre, João Rui e Tó Trips surgem como convidados especiais num conjunto de 7 faixas que oscilam entre o foco na realidade e o foco naquilo que a realidade poderia ou deveria ser, sempre com o blues, a folk e a escrítica de autor altamente presentes.
O desenjoo natalício com direito a concerto logo à noite no Sabotage Club, em jeito de regresso a Lisboa, é pretexto mais do que suficiente para uma conversa com Pedro Galhoz. 






BandCom (BC): Qual o teu balanço deste 2014 que está quase a terminar?

Pedro e os Lobos (PEOL): De um modo geral foi um ano de readaptação para a maioria dos portugueses, em que ficou declarado pelo Governo que as instituições financeiras valem muito mais do que o povo que habita o país e que a maioria do povo não se importa muito com isso. Musicalmente falando, o afastamento da zona de conforto é uma inspiração e estou muito feliz por continuar a ser um sobrevivente nesta pequena selva, sinto que o projecto Pedro e os Lobos está pouco a pouco a ganhar um espaço.


BC: Que Mundo é este que é “quase perfeito” e tem um lado B para conhecermos mais tarde?

PEOL: O Mundo "quase perfeito" é aquele que abraçamos todos os dias quando nos levantamos e colocamos os pés no chão, é aquele que temos, único; no entanto, cabe a cada um de nós torná-lo o melhor possível, não para o ser individual, mas sim para um bem comum. É nesse Mundo que acredito.
O lado B já está em construção, conto mostrá-lo em 2015.


BC: "Convidei músicos que admiro, alguns deles amigos de longa data com quem sonhava um dia colaborar e o dia chegou. Vale a pena sonhar!", assim falas de como reuniste todos os convidados para este novo EP. Os que não eram teus amigos conheciam o teu trabalho? Ficaram também teus amigos?

PEOL: De um modo geral penso que as pessoas sabem quem eu sou enquanto guitarrista dos Plastica, no entanto nem todos tinham conhecimento desta minha faceta de songwriter solitário. Acho que para alguns foi agradavelmente surpreendente e ficaram portas abertas para o futuro. Quanto à amizade, não se adquire, constrói-se - a vida real não é um Facebook (risos).





BC: Três anos separam o primeiro EP deste novo trabalho. O próximo, segundo o que já confirmaste, não demorará tanto tempo a sair. Houve, a certa altura, algum síndrome do “n” álbum ou “writer’s block” de que te tivesses apercebido e sentisses que havia que ultrapassar?

PEOL: Este é um projecto independente, sem pressões de editoras. Consigo gerir as coisas ao ritmo que quero: dá-me tempo para olhar para trás, perceber de onde venho e para onde quero ir. O facto de assumir que o próximo disco não vai demorar muito a sair, tem a ver com o facto de saber o que quero fazer e também o que não quero fazer.


BC: Apesar da longa ligação aos Plastica, a música que fazes, que agora “dás” a outros para ouvirem, tem uma relação mais directa com o que acabas por gostar mais de ouvir?

PEOL: De certo modo é um regresso às minhas origens. Sempre fui fã dos velhos blues e simultaneamente sempre admirei bandas sonoras. A paixão pela América perdida nunca foi escondida, mesmo em muitas músicas dos Plastica. No entanto, em Pedro e os Lobos, por ser um projecto a solo, a minha personalidade está mais vincada e os meus gostos particulares mais expostos.


BC: Não é muito habitual um músico de folk/alt-country/blues ter músicas suas remisturadas ou objectos de versões cujo resultado final consegue ser tão distante do original. É uma forma de reconhecimento dos teus pares que te surpreende também, sobretudo quando poderiam recorrer a outras formas de o fazer ou mesmo às tuas próprias referências musicais?

PEOL: Por um lado considero uma forma de reconhecimento, por outro penso que é uma simples parte de um processo em que a liberdade artística está acima de qualquer formatação prisioneira da moda. Estou 100% disponível para colaborações em que acredite.


BC: Muitas vezes se fala no esgotamento da novidade da música, que tudo o que havia para fazer já foi feito. Contudo, há fórmulas antigas que continuam a dar os seus resultados e mensagens que permanecem actuais. Isso é, de certa forma, o reflexo de que o Mundo em que vivemos actualmente não mudou assim tanto e poderá também não mudar muito mais?

PEOL: A música é feita a partir de sentimentos, por vezes com objectivo de provocar também sentimentos ou sensações em quem a escuta. Os sentimentos humanos são os mesmos desde sempre, o que verdadeiramente muda são as formas de os provocar e os instrumentos que o homem produziu para os embelezar.
Os problemas, as virtudes e as lutas da humanidade são os mesmos desde sempre, com mais ou menos assimetrias. Na minha perspectiva cabe-nos a nós, artistas, o papel de alertar e denunciar essas assimetrias na esperança de contribuirmos para melhorar algo.
Afinal o homem consegue andar no espaço, mas ainda não conseguiu acabar com a fome no Planeta Terra.


BC: Qual é a tua relação com as redes sociais? Qual foi a mensagem de alguém que te viu ao vivo ou ouviu a tua música que mais gostaste de receber? E qual a que mais influência teve em ti?

PEOL: Relaciono-me regularmente com amigos e conhecidos nas redes sociais, tenho por hábito responder a toda a gente que me contacta para falar de música.
A ultima mensagem que me recordo num concerto foi a de um senhor de sessenta e poucos anos que estava a assistir a um showcase e que me disse "bolas Pedro, as suas letras são fortes!". Fiz uma pausa e depois dei-lhe um abraço.





BC: Antes tinhas estado como parte de uma banda que partilhou o palco, entre outros, com os Oasis e com os Suede. Agora, já tens a experiência de dar a cara por um projecto que partilhou palco com Chrysta Bell ou Jennifer Charles e os Elysian Fields. Vês com naturalidade que a mudança de sonoridade se acompanhe de uma mudança de espectáculo, que permite também outro tipo de encontros e de experiências, ou haveria algum encontro improvável feito partilha de palco para concretizar?

PEOL: Sim, a mudança de sonoridade e a experiência colocam-me num patamar diferente, sobretudo menos preocupado com o que possam pensar de mim. A minha história está a ser escrita através do meu trabalho - um dia chegará ao fim, mas entretanto espero continuar a partilhar palcos com outros artistas. Dá-me muita alegria poder continua a fazer o que mais gosto.


BC: Uma “nova união das artes” é algo que poderá ajudar, financeira e criativamente, um músico em Portugal? O que é que é necessário que uma associação, um conjunto de artistas tenha para poder fazer a diferença para cada um dos indivíduos em causa?

PEOL: A " NUA" (Nova União das Artes) é uma associação cultural da qual sou membro fundador e que tem como objectivo unificar as artes e os artistas, promover o seu talento e criar projectos que possam interessar ao mercado, mas também criar alternativa ao mercado tradicional, fomentando e desenvolvendo das várias formas de cultura. É preciso tempo!


BC: Por fim, o que é que Pedro e os Lobos acrescentam e/ou querem acrescentar à música portuguesa? 

PEOL: Sendo artista, mas também consumidor de música e outras culturas, o que me move é sobretudo uma inexplicável vontade de criar em liberdade e mostrar a todos essa minha liberdade.


André Gomes de Abreu




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