quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

HOLY NOTHING - "Boundaries" (2014, Turbina/Compact Records)




Os Holy Nothing são uma banda que se posiciona no limbo musical entre o analógico e o digital e que começou com uma regular partilha de demos entre Pedro Rodrigues, Nelson Silva e Samuel Gonçalves que evoluiu para uma sonoridade que passa muito pela eletrónica, desde o 8-bit ao darkwave. O casamento entre, principalmente, os sintetizadores e a narrativa visual, cuidadosamente trabalhada pelo ilustrador Bruno Albuquerque para os concertos ao vivo, é um conceito que os destaca.
“Boundaries” é a razão pela qual falamos da sua contribuição para o panorama musical português, injetando nele influências vindas de Kraftwerk, Com Truise e também Mount Kimbie. Apesar de já terem lançado anteriormente três faixas (uma delas, “Zebra”, faz parte de “Boundaries”), os Holy Nothing consideram que este EP é uma fronteira que marca o arranque oficial do trio.







A fronteira é demarcada pelo primeiro tema, “Rational”, que nos mostra bem qual a ambiência deste EP. O ritmo começa acelerado e este é um bom início que não se coíbe de nos provocar uma vontade de dançar, sendo este (claramente) o grande objetivo da banda. Os sintetizadores disparam sons a uma velocidade alucinante, construindo uma camada bem orientada e coordenada onde se também se nota o quão genuína pode ser a amizade entre a guitarra e o sintetizador.
Segue-se “Bounce”, cuja introdução apresenta um crescendo que confere a esta canção o seu lado dark e, logo após, um baixo que faz maravilhas aos nossos ouvidos, mais tarde acompanhado pelo sintetizador, e um tom de voz de acordo com essa aura mais sombria, que faz jus a algo mais darkwave. Porém, a meio, uma boa dose de cumbia aparece para quebrar estes desenvolvimentos.
A “Zebra”é um animal da savana e é esse o cenário que jaz na nossa mente ao ouvir esta faixa. Com uma batida pertinente, esta desenrola-se de uma forma divertida. Mas o lugar especial desta savana está ao segundo minuto, onde descobrimos água no deserto: o objetivo maior dos Holy Nothing cumpre-se bem nesta fase, uma vez que é impossível não mexer, pelo menos, o pé. O pano está quase a cair com “Fall” e, apesar da sua abertura nos parecer morna, esta acaba por ser coerente com o resto do registo. O instinto dançável permanece e os jogos de sons com o sintetizador são, mais uma vez, o palco para o resto dos instrumentos.






Este pode ser um bom começo para os Holy Nothing, com um EP eficiente e coeso que constitui uma lufada de ar fresco para a música portuguesa. É um curta-duração que conjuga um binómio muito presente no mundo da eletrónica: a obscura sobriedade de uma voz que se funde com uma batida hipnotizante e embriagada. Cá esperamos pelo seu primeiro álbum mas, enquanto isso, sempre podemos ouvir o mais recente single “Cumbia”.

Inês Martins




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