quarta-feira, 26 de novembro de 2014

FILIPE SAMBADO - "Ups...Fiz Isto Outra Vez" (2014, Azáfama)




Filipe Sambado aventura-se pela terceira vez no reino da música de autoria própria. Produtor e membro dos Cochaise e também agora dos Chibazqui, o seu trabalho traz um registo semelhante a estes, mas não igual. Das habituais harmonias etéreas e reconfortantes de Cochaise emana um estilo próprio, numa colaboração com alguns dos habitués da casa. 







Na abertura, "Tanga" dá-nos aquilo que já esperávamos e até exigíamos: uma óptima construção musical, com todas as delicadezas bem interligadas, desde sintetizadores a percussão. Uma música hipnótica, envolta numa tanga a ser contada numa voz monocórdica. 
Segue-se "Tabaco", o primeiro single, mais interessante a nível de composição. O refrão contagiante traz a variedade que faltava a "Tanga", e agarra-nos mais. Até agora, um bom cartão de visita.

A breve trecho, "Joelhos" sai mais do baralho. É mais surpreendente, tendo em conta o registo habitual: a guitarra acústica e os coros dão uma cor incrível ao refrão, numa óptima canção com o tamanho certo. 
"Gosto Tanto De Te Ver" soa a uma adaptação hipster de uma música catchy de house comercial. Uma fórmula de sucesso de 3 ou 4 acordes de, com uma mudança de tom lá para o final. As minhas desculpas pela heresia mas, adaptação ou não, é uma excelente música. Pu-la em repeat e ouvi-a umas 20 vezes.

"Gel De Banho" tem mais classe musical e menos literária (ouvir a palavra "cagar" repetida à exaustão ajuda a algum descrédito). De vez em quando, o ambiente sai do loop progressivo que a cobre e vislumbra-se o que poderia ter sido claramente uma das melhores músicas do álbum, a mais visceral e sentida. "Deita-te" é uma despedida, não em grande, mas embala-nos bem até ao fim sem deixar a desejar.






"Ups... Fiz Isto Outra Vez" é um registo ao mesmo tempo agradável e difícil de ouvir, construída numa falsa simplicidade embebida em muita informação complexa e (como em todos os trabalhos) de uma grande beleza. É um disco pouco arriscado tendo em conta o trabalho anterior, "1234", mas fresco e honesto. As letras, simples, refugiam-se em palavras efémeras que se apoiam em metáforas e sarcasmo. Alguma objectividade em alguns momentos podia dar uma força extra às músicas, uma conexão maior com o ouvinte, mas talvez, assim, o estilo deixasse de ser o pretendido ou o tom lo-fi teatral assumido perdesse a sua força. 
Mas as palavras são frágeis. A coerência é sempre um bicho difícil de domar. 8.0

Hugo Hugon




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