terça-feira, 14 de outubro de 2014

M.A.U. - "Safari Entrepreneur" (2014, Ed. Autor)




10 anos depois do começo na Dinamarca e com uma nova formação, os M.A.U. chegam ao seu terceiro álbum com "Safari Entrepreneur" que se compõe com um total de 12 canções e várias colaborações que vão de encontro ao que tem suscitado que se tenha, curiosamente ou não, falado tanto do seu trabalho nos últimos meses: recriações e remisturas de canções que nos dão a descobrir novos pontos de vista de temas mais conhecidos e mesmo alguns novos nomes a ter debaixo de olho. Não deixa de ser estranho e, sobretudo, assustador para novos músicos e produtores que tantos tenham desistido aparentemente dos M.A.U. ou que tenham memória de peixe ao ponto de ser necessário que surja o próprio grupo como "editora" deste disco. Ainda para mais quando a maturidade, feita de coisas boas e coisas más, é tal que as exigências e os oráculos estão de tal forma descompassados que conseguimos ganhar todo o tempo para ouvir uma banda.





Apesar de o colectivo relacionar o conceito do álbum com o misocentrismo criativo e de convivência civilizacional em favor do androcentrismo - o que sente ao longo do disco quando cada tema ressuscita emocionalmente todo o trabalho ou uma minúscula parte dele - , "Safari Entrepreneur" é, musicalmente, o trabalho em que os M.A.U. reflectem de uma forma mais urgente uma vontade de integrar e percorrer todas as pequenas variações da pop electrónica. Onde o pequeno pitch daqueles coros, o silêncio humanóide após os beats mais cáusticos e o encadeamento dos sintetizadores mais chillwave ou mais dreamy, seja pelas beiras do classicismo dos A-Ha ou Human League, seja pelo toque de modernidade e de acolhimento de M83, Junior Boys ou Fischerspooner, se encontram e convergem na percepção de uma possível história. Uma preocupação, no final, mais direccionada para as canções e nem tanto para a reinterpretação de esquissos das fronteiras musicais, por maior trampolim que tenha sido imediatamente antes (e certamente não se esquece que o foi) entre a conjugação de pet peeves a gordas assumpções de África a vaguear pela tentadora "Dance Safari", pela retumbante "Children Playing Adults", pelo excelente candidato a single "Off To Berlin" e por "Safari Entrepreneur (part I e part II)".    






Se a estreia dos Sensible Soccers é o disco que me permite acreditar que vale a pena seguir uma banda ao ponto de poder encontrar-me com uma possível desilusão, o regresso dos M.A.U. é o disco que pode reconciliar qualquer um com o grau de seguidismo necessário, por um lado, e com a qualidade diversificada que nem todos os discos de um determinado género atingem, por outro. Em qualquer franja do Globo.
André Gomes de Abreu 





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