Quinta-feira
(11 de Setembro de 2014), 17h:
Chega-se a Reguengo e avista-se o autocarro do
outro lado da estação de comboios; entra-se e viaja-se por uma quantidade
imensa de terras agrícolas. Estamos numa das margens do rio Tejo, estamos a
escassos quilómetros da pacata aldeia da Valada. Chegamos e passadas cinco
dezenas de metros reparamos que a placa que anuncia o fim da Valada aparece.
Caramba, é uma aldeia pequena – mas suficientemente grande para ter tudo à mão.
Monta-se o estaminé, que é como quem diz, montam-se as tendas, convive-se um
pouco com a comunidade e chega a hora de conhecer o que se esconde na Valada. A
avenida é extensa e nela e existem comes-e-bebes a funcionarem vinte e quatro
horas por dia e um mini-mercado que nos relembra que ir às compras pode não ser
só pegar no carrinho, meter aquilo que queremos lá para dentro, pagar e ir
embora – o ambiente fez de nós uma parte da sua comunidade. Atravessa-se
a avenida e já com o som a chegar até nós vemos a Marina, local onde se fez uma
espécie de “recepção ao campista”. São perto de 21h e mira-se, no horizonte, o
sol a pôr-se no Tejo. As poucas pessoas presentes sentam-se, lado a lado, na
alta colina de pedra que proporciona uma vista panorâmica sobre o palco e,
consequentemente, sobre o artista. Um porrinho aqui, um porrinho acolá; uma
garrafa de vinho na minha mão, outra na tua. O warm-up para o Reverence
Valada era bem mais do que um aquecimento para aquilo que podíamos esperar
do festival enquanto evento musical – foi, sobretudo, um modo de prever como
iria ser a própria experiência inerente à estadia na pacata Valada.
Os concertos
propriamente ditos começaram com alguns atrasos e ainda conseguimos apanhar
pitada de SOUQ; os Souq são uma
banda nacional proveniente de Aveiro que, para já, nos vai dando evidências de
que podem vir a ser um caso interessante no panorama experimental da música
portuguesa. Com as suas influências a beberem de fontes díspares entre si,
vai-se, por exemplo, do jazz ao rock progressivo, mostram-nos aquilo que muita
gente por este Mundo vai conseguindo ter quando mescla coisas que, a priori, não fazem sobressair uma
convergência totalmente conseguida. Saxofones aqui e acolá, mas sempre a
aparecerem quando as guitarras aceleram e que nos trazem um pouco à lembrança
os Cows, que se serviam do punk e dos saxofones para fazer
belíssimas obras como Cunning Stunts,
os SOUQ acabaram por nos trazer um
concerto agradável e a promessa de que há ainda mais espaço para a sua
evolução: é estarmos atentos. (6,5/10)
Os senhores
que se seguiram eram franceses e davam-se pelo nome de AQUA NEBULA OSCILLATOR; é mais do que sabido que dar-nos versões em
2014 de tempos idos está na moda. A nova vaga psicadélica vive maioritariamente
disso, pena é que isso já nos vá cansando de um modo preocupante: os franceses
nunca escondem que esta época não é a deles, evidenciando sempre ali e acolá o
piscar de olho à fase dos Pink Floyd
em que estes eram comandados por Syd Barrett. Nada a apontar, mas foram mais as
vezes em que esses tempos foram-nos mal (re)contados do que bem. (5,5/10)
O nome mais
esperado da noite também era francês: os MARS
RED SKY têm levantado alguma poeira na cena psych/stoner rock com o seu belíssimo Stranded In Arcadia, disco editado já no presente ano. A
expectativa, por isso, era grande; porém, e apesar de o concerto nunca ter
aborrecido nem algo do género, a verdade é que se esperava mais de uma banda
que fez do psych-rock habitué dos
nossos tempos, com claras evocações a Tame
Impala na maneira que se dá alento às vocais, um espaço navegável para que
o stoner também tenha voz e
palavra instrumento. Da passagem do estúdio para o palco, esvaiu-se o
essencial: pozinhos mágicos que a produção consegue implementar nas suas
composições. Ao vivo, tornam-se mais contidos, menos barulhentos e sofrem uma
decadência absurda em termos celestiais – o que ao mesmo tempo não os impediu
de darem um concerto positivo, mas com um paladar agridoce. (6,5/10)
Texto por Emanuel Graça
Fotografias por José Vidal
Fotografias por José Vidal
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