domingo, 7 de setembro de 2014

DE E POR: TIGERWOLFE: "Tigerwolfe" (2014, Ed. Autor)

“Sejam honestos, caralho!”.
No despertar dos sentidos criativos, a audição foi o mais importante na estreia do projecto Tigerwolfe do lisboeta Gonçalo Cunha, nascido em 1991 e inspirado no thylacine, ou tigre da Tasmânia, um dos maiores marsupiais predador de sempre, enigmático e singular e que entretanto foi perseguido pelos caçadores e, ao que parece, extinto no início do século passado em cativeiro e, em última análise, por negligência.
Assimilando a mesma forma de se comportar, aqui a audição a pouco e pouco equilibra e a mente ajusta os sons que o rodeiam de uma forma mais ou menos natural a um objectivo que sem meios não tem um fim, que sem algo diferente não pode satisfazer e distanciar-se da clara órbita do techno ruminado e emocionalmente desacelerado de Nicolas Jaar, Jon Hopkins, Pantha Du Prince ou Matthew Herbert.
Claramente, todas as evidências parecem ser negadas menos a clara noção de música para um espaço mínimo e difuso que, por isso, acaba por caber em vários mais determinados, neste caso, pela natureza, por um modo de vida, pelo imutável.
Para trás ficaram outras fases ainda mais conceptuais e, por incrível que possa parecer, talvez menos abertas à experimentação. A capacidade de adaptação, o "não dizer não a nada que não se tivesse planeado", é o grande mote para estes 5 curtos actos de um filme imaginário que vamos conhecer melhor. Quem sabe se o domínio dos vossos auscultadores não estará garantido.








Duque de Loulé Waste of Mind

Na primeira música comecei por gravar as vozes, com um iPhone. Guardei-as e
esperei ter a linha de órgão de igreja, feito com synths electrónicos. Depois,
inseri a batida e a linha de baixo, que foi roubada duma música do Nas, a “NY
State of Mind”. Nas é um rapper de New York que, tal como muitos outros, foram
roubando coisas de ali e de aqui. Então não me senti mal e toquei a linha dessa
música na minha. Em homenagem, dei o nome de “Duque de Loulé Waste of
Mind”.


Um Dia Inteiro

A segunda música, que no início parece ser alguém a chegar a casa, foi criada
com samples. Isto foi bastante importante durante a fase criativa, porque eu
sempre quis utilizar sons reais.
Para esta mesma música um grande amigo meu, o Luís Silva - que não sei
porque é que tem este nome se toda a gente o chama Peixoto - gravou comigo
umas sessões, em que ele tocava num vibrafone e eu ia tocando a faixa em live
act enquanto gravámos tudo em tempo real. Com isto, tudo o que foi preciso
fazer fora do software que eu utilizo, o Ableton Live, esta feito. Importo tudo e
continuo a produzir, com tudo o que já lá estava inserido e que fui
acrescentando à medida do tempo.
Acabou assim por ser uma faixa de 12 minutos, que tem duas partes, chamada
“Um Dia Inteiro”. O tema para cada parte é a “chegada” e o “permanecer”.


(1964)

A terceira música é um prelúdio para a quarta música. É um excerto dum
documentário dos anos 60 de duas pessoas que vão á procura de descobrir a
verdade sobre o “Tigre da Tasmânia”. O documentário tem tudo a ver com o
que eu quero e utilizo-o, cortando e colando apenas as partes que podem ser
mais fiéis àquilo que eu quero.


Da Selva

A quarta música é o single do álbum. Quis fazer uma faixa de cinco minutos
com uma estrutura mais fácil de ouvir. Tive então no estúdio da banda do
Guilherme, um amigo meu que é membro d' Os Alice, a compor o início da
faixa e a falar sobre o que fazer para atingir o que eu queria. Em casa
completei-a utilizando uma mistura de ritmos de tambores com uma batida mais
“4/4” a 100 bpm's. Inseri sons de selva e synths digitais - chamei-a “Da Selva”.


I'm Still Here

Quis fechar o álbum voltando ao documentário e inserindo a segunda parte,

sendo esta a parte do filme em que as duas pessoas vão entrevistar um professor
que acredita na existência do animal. Tal como eu.
Manipulei os samples, repeti-os enquanto mudava a transposição das notas.
Chama-se “I’m Still Here”. Acaba assim o álbum com uma faixa que prepara a chegada de muitas mais.




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