sábado, 23 de agosto de 2014

FUSING CULTURE EXPERIENCE 2014 - DIA 2




Depois de uma véspera de feriado onde as condições meteorológicas e de segurança foram mais favoráveis a quem passou pelo palco do que a quem esteve com atenção ao mesmo, o segundo dia da edição deste ano do FUSING Culture Experience manteve um Palco Fusing recheado de propostas consolidadas e com espaço para demonstrarem todo o seu potencial e um Palco Experience a garantir não menos boas experiências a quem se atreveu a passar mais cedo pelo recanto da música moderna da Figueira da Foz atacada também no mesmo fim-de-semana por promoção a touradas, a festas populares em Buarcos, a outro festival que aconteceria no fim-de-semana seguinte e até a uma temporada inusitada de concertos no Casino Figueira. 

Mais uma vez, embora com atraso para que tudo coubesse entre soundchecks, o Cooking Lounge Pingo Doce foi ponto de estadia obrigatório para escutar as propostas do duo Luís Vicente e Jari Marjamäki, homens de passagem por vários projectos, países e até por caminhos alternativos ao jazz, e mesmo à música, convencional de que são exemplos as 4 faixas do novo EP "Alternate Translations" captadas originalmente ao vivo. Um claro embate entre electrónicas mais ambientais, controladas e ocasionalmente ritmadas e os rasgos de melodia tendencialmente mais livres, mais ou menos abstractos mas também não menos definidos para uma envolvência surpreendente a cada instante, necessária para se destacar do simples acompanhamento das actividades culinárias bastante participadas por pais e filhos que decorriam a pouca distância, tal como o pequeno Pleno Lounge que renascia bem perto da pequena praia privada dentro do recinto.

Para abrir o dia no que toca aos dois palcos dedicados à música, e p
or falar no público figueirense, os Salto foram talvez os que mais carinho receberam por parte dos visitantes do FUSING. No Palco Experience, a atuação do grupo da Maia representou perfeitamente a fase em que se encontra este grupo: entre a banda de pop-rock Miami garage e a que cresceu a ouvir os Temptations, as Supremes e outros mestres da cultura negra até chegar a J. Dilla, Amy Winehouse, Flying Lotus e aos Orelha Negra. Num ambiente de festa digno de uma festa adolescente que vemos nas comédias americanas, festejaram-se os anos de Luís Montenegro com uma aparição especial de Francisco Ferreira dos Capitão Fausto e o (agora) quarteto convenceu e demonstrou que tem futuro muito para além do que faziam até agora. "Can’t You See Me" do EP "Beat Oven" é claramente uma música a ter em conta nos próximos tempos.

Com a mesma tarefa que os For Pete Sake se deparavam no dia anterior, os Norton não se deram tão bem ou, pelo menos, com tanta facilidade. Mesmo com maior experiência enquanto banda e discos para o justificar, os Norton não desligaram tantas pessoas da claramente pré-determinada hora para jantar. Os tiros certeiros e de várias maneiras orelhudos de "Two Points" e "Magnets" demoraram a apelar à participação dos presentes e apresentaram o saudosismo daqueles Norton mais electrónicos e compenetrados como uma boa companhia dos albicastrenses que estiveram bem mais estrelares e incisivos nas suas caças aos tesouros melódicos deixados no novo disco homónimo e no anterior "Layers of Love United". Claramente, uma banda com 10 anos ainda a crescer, com muito para dizer mas não a todas as assistências.  

Referência da zona centro, os Nice Weather For Ducks justificaram a boa fama e as excelentes críticas que têm recebido num concerto enérgico, intenso, durante o qual tocaram músicas do álbum "Quack!" como "2012" ou "Back To The Future" e algumas do novo registo pelo qual todos ansiamos. Dos concertos mais conseguidos desta segunda edição do FUSING, mesmo que também tenha ligeiramente sido perturbado pela atuação dos Norton no Palco Fusing. Acima de tudo: excelentes músicos e salta à vista a boa relação que existe entre os diferentes elementos da banda, tal como se notou no dia anterior com a outra banda leiriense, os First Breath After Coma. 

Num festival como o FUSING Culture Experience que se procura estabelecer e se constitui de um público bastante heterogéneo mas também à espera de ser surpreendido, o jogo de luzes e a cenografia montados pelos peixe:avião foram uma pura demonstração de personalidade e um convite muito próprio a uma visita a esta verdadeira nave espacial. Sem preocupações com o alinhamento (e) (d)o espectáculo, claramente já pré-determinado no seu disco mais recente, uma das super-bandas menos óbvias no território nacional caminhou contra a luz, à boleia das letras de Ronaldo Fonseca numa fricção gravitacionalmente feliz de um conjunto de melodias minuciosamente ligadas de canção a canção e desligadas porque há sempre uma oportunidade para testar os limites do próprio som sabendo o que se quer e o que não se quer. Quem ficou, respeitou; quem não gostou, tinha as soluções intermináveis dos Nice Weather For Ducks na outra sala de máquinas. Simples. Arriscado. Brilhante.    

Outro dos segredos bem guardados da zona centro é o grupo A Velha Mecânica. Música no máximo, colunas prestes a rasgar, os conimbricenses descobriram a solução radical para evitar as perturbações do palco principal. Riffs violentos, crus, envoltos numa dança de belas palavras portuguesas, umas vezes polidas, outras vezes cuspidas. Potentes, de uma força imparável e até agora talvez nunca vista neste festival, num grupo a vaguear entre o post-rock e o metal, "Mil Homens", o single "Dedos", mas sobretudo "Esposa Cão" e "Fujída" (PARTIDA! LARGADA! FUJÍDA!!) incendiaram a plateia. Das melhores surpresas do festival para quem ainda não os tivesse visto ao vivo...




À procura do entusiasmo com a música de Cícero num dia exigente e ainda frio o suficiente para fazer da auto-preservação também contemplação, encontrámos os locais MiUrA, também sobreviventes da edição do ano passado e o concerto do grupo juntou mais público do que se previa. A banda figueirense tratou de acabar com o trabalho já bem iniciado pelos A Velha Mecânica e continuou, em português, a gritar bem alto que o rock/metal/hardcore duro e directo em português também existe e não é nada ridículo. O carismático Nelson Afonso deu conta do recado na voz, bem ajudado pelos riffs dirigidos pelos amigos e pela bateria enérgica de Luís Saraiva. O tema mais melancólico “Já Ninguém Escreve Cartas de Amor” serviu para mostrar uma outra faceta deste grupo que honrou a Figueira nesta Sexta-feira.

Digam outra vez: que fantástico concerto dos Capitão Fausto. Com "Pesar O Sol", há claramente uma satisfação renovada no quinteto lisboeta que debita novas ideias para cantar ainda melhores do que as que já editou, via um Salvador Sobral imparavelmente quase kraut sem roubar energia ao resto da banda que o seguia para caber tudo em cerca de uma hora, de Beatles aos Flaming Lips com um refresco de Pink Floyd. Apesar de "Pesar O Sol" não ter caído ainda totalmente nas graças dos admiradores de "Gazela", nota-se que um concerto dos Capitão Fausto agora está construído de uma forma ainda mais musculada e encadeada, em que se torna mais fácil entrar nas novas canções e onde a descontracção caminha com esperta ambliopia sobre todo e qualquer limite, seja com as costas no chão como Tomás Wallenstein, ou com os pés na ponta do teclado como Francisco Ferreira.
A retribuir o favor, o aniversariante Luís Montenegro saltou para o baixo de Domingos Coimbra em "A Verdade" antes da "Sobremesa" final. Às ordens, sem etiquetas de Avicii, meu capitão!    


Quinta banda da noite no Palco Experience, quinta experiência. Depois dos Salto para todos verem e ouvirem, do rock dançável e brilhante dos Nice Weather For Ducks e do rock potente dos A Velha Mecânica e dos MiUrA, chegou a hora da música eletrónica entrar em palco, antes do hip-hop do DJ Slimcutz com Ace, dos Mind da Gap. Os dois irmãos contaram com a presença de dois dos convidados do brilhante "Oito": Catarina Moreno e Alex Klimovitsky dos Youthless assim como o apoio do baixista dos Blasted Mechanism. Temas como "Françoise Hardy" e "Please Please Please" puxaram por quem que os conheceu ao ouvi-los na rádio, enquanto outros responderam "presente" em canções com sonoridades africanas mais vincadas como "Ali Dom" e "Afroinscope". Frente a frente, os Octa Push deixaram o centro do palco aos seus convidados e ofereceram um concerto cheio de classe, de requinte, onde a musa Catarina Moreno se destacou tanto em "Please Please Please" como numa cover bem reggae de Billie Holiday. Um formato de concerto talvez um pouco menos dançável do que aquilo que se estava à espera mas tremendamente lindo e eficaz, uma forma tentadora de fechar o círculo sobre a abrangência de universos servida na ascensão do FUSING Culture Experience ao seu último dia.



Textos de André Gomes de Abreu e Mickaël C. de Oliveira
Créditos da fotografia: Organização do FUSING Culture Experience 




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