domingo, 3 de agosto de 2014

CAPITÃO FAUSTO - Entrevista

Apresentar uma banda dizendo que não são necessárias muitas palavras seria um cliché na grande maioria dos casos. Se falamos dos Capitão Fausto, é provável que encontremos uma excepção: por um lado, há uma base de fãs muito jovem de crescimento e dimensão quase inexplicáveis que "trabalha" pela banda e transforma um concerto ao vivo em algo que nunca sabemos bem como vai decorrer ou sequer terminar; depois, os relatos da longa vida de estrada do jovem quinteto chegam cada vez mais aos ouvidos de todos os promotores e organizadores de eventos, levando-os a novos locais, a novos públicos e criando novos fãs. Parece uma cadeia interminável.
Em matéria de discos, "Pesar o Sol" chegou finalmente este ano e sucede ao estreante "Gazela" de uma forma que para a crítica é unanimemente promissora e que tem colocado novos desafios aos seus seguidores.
Ah, a banalidade de um texto de apresentação sobre quem tem levado a sério os Xutos, os "Josés Cides", os "Faustos" desta vida e, não menos importante, mostrado o relevo do seu trajecto e da história que criaram. Vida de herdeiros não é linear: fomos saber porquê.       






BandCom (BC): Os Capitão Fausto foram os derrotados da “Célebre Batalha de Formariz”. Este novo “Pesar o Sol” tem sido mais do que um prémio de consolação?

Capitão Fausto (CF): O prémio de consolação foi termos conseguido sair da Batalha com os ossos intactos. A “Célebre Batalha de Formariz” é a balada do derrotado (a história não pode ser só contada pelos vencedores). O “Pesar o Sol” pode ser o filho de guerra, dessas duas semanas muito bem passadas no Minho.  


BC: É-vos indiferente colocar no vosso trabalho situações da vossa vida pessoal, usá-las para escrever e compor?

CF: Indiferente não é de certeza, mas é muito natural. Escrevemos e compomos sobre o que conhecemos e coisas que vivemos. A “Batalha” é um excelente exemplo disso: lutamos contra uma aldeia, no dia seguinte fazemos uma canção sobre isso. Achámos que merecia no mínimo uma canção para a imortalizar.


BC: Do “Gazela” para o “Pesar o Sol” nota-se o esticar das canções e também uma certa internacionalização do vosso som em contraste com um ligeiro abandono de algumas características mais portugalizadas das vossas melodias. Concordam ou nem por isso?

CF: Sim. As canções ficaram longas e mais densas, mas não deixaram de ser canções. Nunca pensámos numa “internacionalização” do nosso som, acho que o que aconteceu naturalmente é um afastamento da música que se estava a fazer em Portugal nessa altura. Quando gravámos o “Gazela” ainda lá estavam alguns pedaços de outras bandas portuguesas. Para o “Pesar o Sol” ficámos mais focados em atingir o som que queríamos e não o que ouvíamos. 


BC: As sucessivas comparações com bandas internacionais vossas contemporâneas e com que partilham referências (Tame Impala, MGMT, Temples, etc.), agradam-vos, aborrecem-vos ou são-vos indiferentes? Excluindo um certo oportunismo do momento (que nem a curto nem a longo prazo é benéfico numa carreira), esta sonoridade de “Pesar o Sol” é mais um fruto do que também ouvem ou simplesmente foi uma consequência e o resultado de estarem a ensaiar e a criar novo material?

CF: É-nos completamente indiferente. São bandas de que gostamos, mas há muitas outras. Quando estamos a ensaiar e a compor, as ideias e canções que fazemos são fruto de tudo o que ouvimos e vivemos. Mas não pensamos em antemão “bora fazer uma malha mesmo à ‘BANDA QUE GOSTAMOS’ ”.





BC: As melhores canções dos Capitão Fausto estão ainda por editar, a maturar como os vinhos da adega em que gravaram o disco? De todas, qual a canção até agora que mais satisfação que tenha sido escrita por vós? 

CF: Esperemos que as melhores ainda estejam por gravar! Se já tivermos gravado as melhores da nossa vida ficaríamos um bocado tristes. É difícil escolher a favorita de todos, especialmente porque ao vivo elas ganham outra dimensão. Pode não resultar em concerto, ou quando não funcionam tão bem em disco funcionam ainda melhor ao vivo. Mas gostamos todos muito da “Lameira”, deu-nos imenso gozo compor e gravar essa música. É comprida, passa por várias partes diferentes, é difícil de tocar e ao vivo é um momento especial. “Vota Lameira ’15”.


BC: Até agora, e muito embora não tenham mudado de produtor para este novo trabalho, quais as maiores diferenças que notam após a passagem da Chifre para a Sony Music? Maior projecção?

CF: Na Sony temos uma equipa e estrutura muito forte atrás de nós, que nos organizou o lançamento todo do disco. Quando fomos bater à porta da Sony já tínhamos o disco pronto: masters, capa e tudo.  Eles decidiram arriscar no nosso extenso e barulhento disco, e até agora tem corrido muito acima de qualquer expectativa! Sentimos que o disco conseguiu chegar a muita gente.


BC: Entretanto saltou cá para fora a primeira canção dos Modernos e também surge o BISPO. Como surgem estes desdobramentos de parte da banda?

CF: Surgem de ensaios esporádicos. O que gostamos mais de fazer é tocar e fazer músicas, e não precisa de ser sempre para Capitão Fausto. Como estamos habituados a tocar com os mesmos amigos desde os 14 anos, escolhemos as mesmas pessoas para cada banda que nos apetecer fazer. É tipo incesto. E acontece assim: “Queres fazer uma banda de Hip-Hop/Trash Metal?”, “Sim.”.


BC: Recentemente os Capitão Fausto dedicaram-se a transformar o “Marcolino”, inclusivamente com Júlio Pereira e JP Simões ao vivo em Lisboa, e a “Morte Lenta” dos Xutos & Pontapés, dois clássicos quase intocáveis dos respectivos catálogos.  O que vos transmitem em especial estas duas canções? 

CF: Essas duas versões foram a pedido de duas rádios, que apenas nos disseram para tocar uma canção desses artistas. Nós é que as escolhemos. Mas só as descobrimos à séria depois destes pedidos. Fomos ouvir os discos que mais gostávamos e escolhemos as canções que poderiam soar bem tocadas por nós. A “Marcolino” ficou parecida com a versão original, agora a “Morte Lenta” não podia ser mais diferente. E ainda bem, porque na verdade só os Xutos podem e conseguem tocar Xutos.


BC: Na ressaca de uma série de sucesso como “Os Filhos do Rock”, lê-se em vários textos sobre vós esta expressão aplicada ao vosso trajecto. Para vocês, o pai do “rock” português é, como tantas vezes se ouve e lê, o Rui Veloso e a mãe o José Cid?

CF: Não. O pai e a mãe é o Júlio Pereira, que gravou todos os melhores discos portugueses. O Rui Veloso é o filho e o José Cid o alien.


BC: Para uns Capitão Fausto em ascensão quase meteórica, em 2014 será mais fácil ascender no panorama musical português do que há alguns anos atrás? 

CF: Parece-nos que se tem dado mais atenção à música portuguesa neste início dos anos 10. Isso facilitou as coisas para nós e para muitas outras bandas. Esperemos que assim continue!





BC: A vossa agenda de Verão está bem preenchida mas também já tocaram bastante ao longo do ano. Qual é para vós o melhor concerto que já deram este ano e, por outro lado, qual é aquele que vos desperta maiores expectativas?

CF: Escolher apenas um é complicado, e ainda mais porque às vezes os melhores concertos foram aqueles de que não nos lembramos. Mas guardamos boas memórias do concerto no Maus Hábitos, no Porto, e na TOCA, em Braga. E tiveram noite depois do concerto à altura.
Este verão já demos uns quantos muito bons! Agora aguardamos a noite no FUSING, na Figueira da Foz, onde vamos estar rodeados de amigos e bandas portuguesas. Top deal.


André Gomes de Abreu




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