sábado, 19 de julho de 2014

FRANCIS DALE - "Lost In Finite" (2013, Ed. Autor)





Uma viagem ao finito da vida. É assim que Diogo Ribeiro, mais conhecido como Francis Dale, descreve o seu EP. "Lost In Finite" é o seu primeiro trabalho publicado e podemos dizer que começou da melhor maneira. Já tendo algum reconhecimento pelas covers que faz no seu canal de Youtube, este era o seu próximo passo para se afirmar no panorama português. Fazendo música que diz ser influenciada pela Motown, Jeff Buckley e principalmente pela vida em si, a aposta recai numa sonoridade calma que nos inspira uma vontade de fechar os olhos e sorrir. Dominada pelos ritmos lentos e bem assentes, a sua música e não nos larga facilmente e é ainda complementada por uma poesia cheia de coração e alma.

















A primeira faixa, “Retrospect”, é o exemplo perfeito. Quase como um paradoxo musical, todo o instrumental parece querer dar certezas, enquanto a letra faz questionar, e a faixa desenvolve-se com a mesma maré de sentimentos, simplista mas profunda. De notar o bom trabalho nos teclados e na colocação da voz.
A partir da segunda faixa repara-se numa pequena mudança de atitude, mais intimista e mais soul: “Burning” transparece o amor ardente reconhecido por artistas como Marvin Gaye em música dirigida pelo ritmo mais acelerado, o coração; pela guitarra bluesy, a respiração; e pela voz cheia de emoção, o toque. Temos assim o retrato de paixão transmitido na dimensão musical de Francis Dale.

“Pie In The Sky” continua com o que a faixa anterior deixou pendente, a declamação de uma paixão que nos dá e tira vida, mas desta vez com o pesar do que foi e já não é. O início do fim não mostra raiva mas sim melancolia, que está, de certa forma, em paz consigo própria. Aqui conseguimos ouvir o apogeu da guitarra como uma forma de expressão, chorando quando a voz já não consegue retratar a emoção presente. O instrumental em si não é melancólico mas sim de uma extrema serenidade, o lado calmo da tempestade. “Overture”, a última faixa, é o começo e o fim desta viagem. Feita de nostalgia, fecha este EP com um encanto natural. Francis deixa que as palavras o capturem e que falem por si, quase como um convite para repetir a audição de todas as músicas. O sujeito musical, dentro do seu pesar, é invadido por todos os pensamentos e deixa-se dominar sem medir as consequências. Não é um final trágico, mas sim uma redenção cheia de beleza.





Ao todo, são quatro faixas, um EP, uma história. Chegamos ao fim a pedir, a ansiar por mais uma amostra do talento deste artista. Com uma noção instrumental que, apesar de não ser particularmente inovadora, transmite bem a mensagem, com uma produção cuidada em quase todos os pontos, temos em Francis Dale soul e R&B que prometem.

Marcelo Franca





0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Facebook More

 
Powered by Blogger | Printable Coupons