quarta-feira, 21 de maio de 2014

PAUS - "Clarão" (2014, Universal Music Portugal)


Após o EP “É Uma Água” e o disco homónimo da banda de Joaquim Albergaria, Hélio Morais, João Shela e Makoto Yagyu, foi revelado oficialmente ao público no passado dia 28 de Abril “Clarão”. Editado pela Universal Music Portugal, o novo trabalho de PAUS contou com uma estratégia de publicação semelhante ao último de Linda Martini (também lançado pela mesma editora), tendo sido disponibilizado dias antes na plataforma digital Spotify.


Quem se lembra do seu primeiro LP (já lá vai em 2011), continuará a encontrar no sucessor os dois pontos fortes já noutros tempos presentes na composição do grupo: a componente rítmica da bateria siamesa permite construir uma sonoridade tribal que se une como unha e carne no rock acrescentado pelos instrumentos de João e Makoto. Contudo, e provavelmente seguindo o decurso da evolução tanto do próprio quarteto como da música por si só, em “Clarão” junta-se a esses dois elementos uma componente um pouco mais eletrónica que, permitindo uma maior panóplia de sonoridades, leva a um maior caráter experimental.

É “Corta Vazas” quem tem honras de abertura do LP. Se “Deixa-me Ser” foi a música que marcou o álbum de 2011, será talvez esta a faixa que em conjunto com o single “Bandeira Branca” permite a ligação entre o que poderá ser ou não novidade. Caso seja necessário explicar resumidamente qual é a sonoridade de PAUS, encontram-se neste momento outros dois exemplos disso.



Apesar de mais presente nas faixas destacadas anteriormente, essa sonoridade clássica não se desvincula totalmente das restantes oito do disco. É com naturalidade que vai crescendo sobre essa base sólida o experimentalismo que cada novo trabalho deve acarretar, seja ao nível eletrónico anteriormente mencionado, seja ao nível de recurso a novos instrumentos que não ganharam tanto destaque anteriormente.
Em “Pontimola” é possível assistir-se à junção do imperativo e marginal grito “Para trás! Recua!” associado a distorções que por si só evocam o ruidoso ambiente urbano e, ao mesmo tempo, ouvir-se o som de um xilofone que paradoxalmente convida o corpo a dançar mesmo no meio de tanta agressividade. Afinal, o perigo é sempre o lado mais aliciante.

E se em “Nó” a guitarra ganha fôlego já na parte final da música e em qualquer cabeça faz jus ao título da faixa, “Ambiente de Trabalho” e “Primeira” são os instrumentais onde a composição e o arranjo sobressaem em detrimento de toda a ação-reação provada anteriormente, tanto com festividade como com intervenção e agressividade. Não se revelando num sentido de crescendo, parecem antes surgir como um conjunto de degraus que terminam precisamente no “Cume”, no qual as vozes se juntam para reacender a intervenção, desta feita encaixada em toda a ideia explicada anteriormente.



"Clarão" termina com a música homónima ao título do álbum, interessante pela sua dinâmica e modo de progressão. Se o riff inicial da guitarra abre caminho à complexa batida da bateria siamesa, esta permite a explosão sonora que se junta aos cânticos consagradores entoados pelos elementos de PAUS. Por outro lado, permite atingir lentamente o culminar de um registo que, não parecendo ter uma ordem de progressão bem definida, acaba por conseguir criá-la espontaneamente. Exemplo disso será “Cauda Turca”, que após “Cume” faz o ouvinte viajar quase em choque para uma sonoridade completamente diferente - poderá ser essa queda abrupta que, parecendo passar por um desfecho “Negro” que nada permite vislumbrar senão o escuro, termina no “Clarão” que nada permite vislumbrar senão a luz. Não se sabe o que haverá logo a seguir, mas pelo menos há essa luz e nada mais interessa.

João Gil




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