quarta-feira, 7 de maio de 2014

EKTA MOAI - "Marte" (2014, Ed. Autor)




Cada vez menos surgem nomes que, por um motivo ou outro, conseguem destacar-se das demais. Num mundo onde as almejadas “fórmulas de sucesso” estão praticamente esgotadas e onde quase tudo já se experimentou resta, muitas vezes, reusar, reformular e recriar aquilo que já foi feito. Por vezes o resultado final surge como uma versão refinada e melhorada daquilo que serviu de base. Mas nem sempre é o caso. Ainda mais difícil é conseguirem fazê-lo através da originalidade do que é produzido.

Este é o caso dos Ekta Moai, banda lisboeta formada por Adriano Macedo (baixo), Mini Master (guitarra), Dino Récio (bateria), Mark Cain (saxofone), Paulo Baldaque (guitarra e voz) e Eduardo Viana (teclado). A própria descreve-se como praticante de um rock progressivo/alternativo “aliado a temas vocalizados de carácter intimista, com inclinação para o étereo e inesperado”. Tamanha complexidade já seria de esperar se tivermos em conta que os seus elementos provêm de projectos tão díspares como Primitive Reason e Ummadjam. Contudo, os Ekta Moai são tudo isto e muito mais para verificar neste “Marte”, o seu primeiro álbum de originais.






O álbum arranca com “Touareg”, um instrumental com trejeitos de world music e rock em que todos os instrumentos se complementam eficazmente relegando para o saxofone um perfume especial - podemos constatar desde já que estamos perante um coletivo que possui uma identidade bem vincada, o que será perceptível ao longo de todo o disco. Seguindo para “Formula”, de encontro novamente a um instrumental desta feita mais direto mas com um ou outro momento mais introspectivo e sidéreo em que para tal muito contribui o trabalho das guitarras e as vocalizações de suporte, algo melancólicas, que nos abraçam e fazem-nos deambular nos meandros da nossa imaginação.
A “Aurora” que se segue, o primeiro single retirado de “Marte”, é, no seu todo, uma música calma de carácter melancólico e cantada de forma intimista havendo, porém, espaço para uma secção mais intensa muito por culpa das guitarras que aqui surgem distorcidas.
Em "Metapeso" voltamos então aos instrumentais com uma faixa hipnotizante ao estilo dos austríacos “Sofa Surfers”; já em “Outside” voltam as vozes e o saxofone. Responsável por criar um clima algo agridoce, esta é uma etapa dramática e nostálgica mas nem por isso menos forte.

O seguinte “Harakiri” apresenta-se como um tema suave que nos leva, uma vez mais, a ambientes normalmente associados à world music com ênfase aqui na secção rítmica que ajuda a criar uma dinâmica bem mais progressiva muito ao estilo do que os Ozric Tentacles preconizaram no seu estilo inconfundível.
Em “Tilt”, percorremos caminhos mais sombrios de uma forma hipnótica: o saxofone assume aqui o papel principal ajudando na definição da textura que acaba algo esquizofrénica e de forma intensa, visceral e turbulenta, numa tempestade a que sucede a bonança concretizada em “Lift”, com as vozes também de volta e que cantam uma mensagem positiva numa faixa que funciona como uma verdadeira catarse.
Na sequência, “Go God” revela-se como um verdadeiro diálogo familiar entre a voz e a guitarra consumado de forma delicada quase como se de uma confidência se tratasse. 


Estamos perto do final e entramos numa das fases mais progressivas do álbum: em “Gaza” há que trilhar de novo caminhos normalmente associados à música do mundo com uma roupagem experimental e partimos, então, para o segundo single retirado do álbum.
Brando, lento, “Samoa” é um tema magnetizante onde os cantos contribuem para a criação de um plano etéreo a remeter para uma dimensão cósmica ou celestial. Uma travessia que culmina da melhor maneira em “Teorema”, outro bom instrumental com melodia e intensidade q.b.






Em “Marte” os Ekta Moai alcançaram, logo na estreia, algo que não está ao alcance de muitos. No meio de uma mescla de influências, trazidas certamente pelos seus vários elementos, o grupo conseguiu criar um estilo muito próprio que, embora por vezes complexo e exigente por parte do ouvinte, nunca farta. Evidenciar tão cedo uma personalidade tão vincada e fazê-lo de forma tão capaz é de louvar. Está, sem dúvida, lançado o mote de uma banda que promete.



Hugo Gonçalves




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