segunda-feira, 24 de março de 2014

SENSIBLE SOCCERS + THE ASTROBOY @ TEATRO PASSOS MANUEL, 22/03/2014


Após a edição de “8”, os Sensible Soccers voltaram à cidade do Porto em jeito de apresentação do álbum recentemente lançado. E se modo há para comprovar que o quarteto de Vila do Conde atravessa um bom momento na carreira, tal refletiu-se logo meia hora antes da abertura das portas do Teatro Passos Manuel no passado dia 22 de março, quando o triplo das pessoas competia para os dez bilhetes que ainda existiam de reservas canceladas.


The Astroboy inaugurou o palco numa sala ainda não completamente esgotada. Fazendo-se acompanhar de uma eletrónica simples e recheada de cenários governados por temas digitais e cores frias, destacou-se uma atuação eficaz mas que, ao longo do tempo, começava a refletir alguma monotonia. O espaço não proporcionou o ambiente mais adequado, mas também poderá ser, em boa parte, verdade que o facto de uma quantidade considerável do público chegar apenas após esta atuação não entusiasmou o artista. Apesar de tudo, o membro de peixe:avião merecia mais.


Quês e porquês à parte: os Forneleiros a seguir? Vamos lá. Desde dois mil e onze que a banda tem lançado temas que vão marcando a música eletrónica nacional, num destaque claro para “Fernanda”, “Sofrendo por Você” e “Sob Evariste Dibo”, esta última incluída no disco mais fresco. Assim, qualquer um que acompanhe este projeto compreende que tal receita conjugada ao vivo resulta, evidentemente, numa espécie de festa transe para pessoas que usualmente não ouvem transe. É então sem surpresa alguma que ao longo do concerto os lugares sentados da sala portuense foram sendo deixados para trás, e corpos hipnotizados se levantaram numa espécie de dança que os aproximava do portal de acesso a um outro mundo extrassensorial.

Mas voltemos um pouco atrás. As referências ao mundo selvagem começaram quando o piano desse mesmo tipo abriu as hostes para “Eurobonds”, cuidadosamente retirada da "Fornelo Tapes Vol. 1". Não havendo duas sem três, “Zaire 1974” apenas confirmou como faixas compostas há dois/três anos atrás continuam tão atuais, realçando-se sempre surpresas em pequenos detalhes sonoros de deixar de sorriso na cara quem, de tantas vezes as ter ouvido, as sabe de cor. Ao lado entidades femininas conspiravam sobre Manuel Justo cantar/gritar bem.


A primeira fila do Teatro Passos Manuel já estava levantada quando Filipe Azevedo começou a malhar em cima do viciante ritmo de “AFG”. É este um dos segredos de Sensible Soccers. Se por um lado o corpo se vai entregando ao loop constante tão carismático da eletrónica contemporânea, por outro há um contínuo soltar de elementos heterogéneos que vão compondo cada faixa e alimentam a mente que tão pouco gosta da repetição. Corpo são, mente sã, e “Sob Evariste Dibo” teve assim todas as condições de fazer o que tão bem sabe fazer numa complexa selvajaria sonora. O público, esse, acompanhava.


Ainda antes do encore experimentaram-se arcos de violino na guitarra, quais Sigur Rós da eletrónica. “Maria Rosa” também teve tempo de se apresentar em versão prolongada e “Lima” rematou a fase mais introspetiva da noite, em espécie de aquecimento para o fôlego final. Porque, ainda não tinham entrado todos novamente em palco e Filipe, sozinho em “Paulo Firmino”, já deixava o público sofrendo ainda mais por (vocês) aqueles que não conseguiram entrada no teatro. Lógico é que depois da frase anterior torna-se relativamente fácil adivinhar como acabou a noite naquela sala, mas as provas ficam à distância de um clique aqui, dado que ninguém quer cansar ninguém com palavras sobre, por exemplo, roupa interior masculina.


A Groovement tem motivos para respirar orgulho. Após a colaboração na edição do álbum de Sensible Soccers, tem continuado associada à banda através da promoção de concertos que, como neste, têm provado a sua afirmação no panorama da música portuguesa. Se há pouco tempo tínhamos referido que existe material para internacionalização, a opinião torna-se ainda mais sólida após se assistir a uma performance dos próprios, com a concretização do mesmo. Do que estão à espera?


João Gil
Fotografia por Rodolfo Rodrigues




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