segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CAVALHEIRO - "TRÉGUA" (2013, PAD)

Título: Trégua
Edição: PAD, 2013
Classificação: 6.8/10


Tiago Ferreira vestiu novamente a pele de Cavalheiro, a identidade que o próprio refere não se tratar de um indivíduo. De capa vermelha e aspeto sóbrio, o EP “Trégua” (pode ser ouvido aqui) trata-se do seu quinto lançamento, um por ano desde 2009 e desta vez em conjunto com a PAD, editora que fechou desta forma o passado ano de 2013.

Seguindo a definição da Priberam que tão bem se adequa, cavalheiro é aquele que é “bem-educado, de bons sentimentos”. Ora, já em trabalhos anteriores houve uma contextualização do próprio pseudónimo escolhido pelo artista e desta vez não é exceção. Apesar de todas as faixas poderem ser perfeitamente tocadas individualmente é facto que toda a parte lírica se parece encaixar numa única música/longa conversa em jeito de desabafo durante dezoito minutos, conversa essa própria daquele que não tem vergonha de ligar a essa coisa dos sentimentos.

No entanto, embora “Cedo” entre a matar, talvez constitua logo o primeiro entrave para aqueles que procuram toques mais experimentalistas nas melodias. Com o seu jeito pop-rock, aqui não há lugar a grande experimentalismo, o que não quer dizer que não traga coisas novas. E quem avança até “Talvez” descobre um pouco mais o véu do verdadeiro conteúdo que está neste EP e que não sendo embebedado em experimentalismo, vale a pena experimentar. Com um solo de guitarra que em Cavalheiro é perfeitamente adequado e consegue enaltecer a composição, o que se destaca de tudo o resto é mesmo a entoação da voz de Tiago, que será o ponto forte até ao fim do disco. 




Também em “Walker” e “Família Feliz” surgem sonoridades capazes de agradar ao ouvido mais bucólico. O destaque novamente para a componente lírica da segunda, com chavões como “Não é perfeito”, “E tudo muda / Sem sair do lugar”. Aqui não tem lugar nenhum esforço em transformar as palavras numa rede complexa quase artificial, antes aceita a naturalidade e o pragmatismo da sua visão acerca do tema, sendo neste caso a família e tudo aquilo que ela representa.

E é por toda a subtileza que vem acompanhando o EP desde o início que “Mistral” é a forma mais inteligente de o terminar. Composta sobre um emaranhado de divagações onde impera a metafísica do amor e da vida, a faixa soa como esse vento de Outono, “Vem para levar para longe” a razão do deambulismo anterior, mas trazendo sempre o novo frio disfarçado na trégua que surge antes da tempestade.

João Gil




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