domingo, 16 de fevereiro de 2014

CAPITÃO FAUSTO @ LUX FRÁGIL, 6/2/2014

Quinta-feira foi o dia da tão aguardada apresentação ao público do segundo longa-duração sucessor de “Gazela”, por parte dos Capitão Fausto
Santa Apolónia, lugar de chegada e partida como assim pedia a noite psicadélica, foi o local eleito para o passeio de “Pesar o Sol”.
A noite estava fria, as expectativas eram altas e a enchente era esperada: assim que chegámos às imediações do Lux Frágil deparámo-nos com uma longa fila constituída maioritariamente por dezenas de adolescentes atraídos pela sonoridade juvenil do quinteto. Já dentro de portas, apesar do atraso de uma hora, a noite não decepcionou e enfrenesiou por via de um bálsamo sensorial de qualidade.
Em noite de James Bond (e de homenagem a Nuno Roque, o 007 Português), houve ainda espaço para que os Capitão Fausto invocassem os seus
namoros antigos com o psicadelismo nacionalizado em temas como “Febre” e Verdade”.
Para este disco perfurante, que teve um longo período de tempo de maturação em estúdio (gravado no verão de 2012), pairava no ar uma certa expectativa para ver como era transportado o forte trabalho de pós-produção para um concerto ao vivo. O resultado foi muito positivo e os Capitão mantiveram-se bastante fiéis ao resultado da gravação.





Assim que Tomás Wallenstein e companhia entraram em palco, notou-se rapidamente a manifesta evolução da formatação imediatista de “Gazela” com a ascensão da massa sonora que enche “Litoral”, uma certeza da deriva de uns Temples ou mesmo dos australianos Tame Impala em que os Capitão Fausto encontram agora o embalo, assumindo a vontade de
dar continuação à segunda metade dos anos 60 em Portugal marcada por conjuntos como o “Quarteto 1111”.
Durante hora e meia de concerto energético, de ondulação reminiscente e caleidoscópica, o delírio, a histeria e o alvoroço foram uma constante, embora muitas das vezes dando também lugar a canções que levavam as pessoas a momentos de interiorização de canções suaves e cuidadas, como o tema homónimo do novo álbum - ou não fosse este um disco suficientemente diversificado.
Em “Prefiro que Não Concordem” era mesmo impossível o movimento por entre um moche/arrastão/empurrão desorganizado alimentado por guitarras aguçadas e uma bateria pujante; quando chegou a vez do single de apresentação“Célebre Batalha de Formariz”, abateram-se sobre o Lux Frágil climáticos minutos, em que se transpôs a fortaleza psicadélica com Tomás a surfar pela multidão.








As seguintes “Flores Do Mal” e “Maneiras Más” seriam os momentos em que mais se fazia notar a nova cartilha de afectações visuais dos Capitão Fausto, reinterpretando freudianamente um mundo exótico de sons desusados por via
de guitarras embebidas de efeitos, um sintetizador alquimista, uma bateria pungente e um baixo bem conciso. Para o encore ficou reservada, da mesma forma que no novo registo, a floydiana "Lameira", relembrando que os mesmos cinco de "Teresa" estão, em boa verdade, mais consistentes, desinibidos e investidos por uma forte consciência social e satírica.

À medida que abandonávamos a sala, surgia-nos a certeza de termos chegado a boas conclusões - este “Pesar o Sol” conseguiu, efetivamente, fazer jus à expressão técnica que lembra navegação e metaforicamente a viagem. E que, apesar da exaustão, as novas canções são o carinho necessário para que sejam recebidos com tanta afeição quanta maturidade. Parece que os Capitão Fausto trocam-no a partir de agora pela absorção correta de tudo o que lhes possa caber na regeneração das suas intermináveis cadeias melódicas.




João Ribeiro

Fotografias por Tamia Dellinger
(galeria de fotografias disponível
em facebook.com/bandcom)




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