Edição: 2014, Mouca Records
Classificação final: 8.1/10
Quando
Daniel Lopatin, sob o nome de Oneothrix
Point Never, se começou a impor no panorama electrónico mundial percebemos
imediatamente que as suas abordagens ao conceito de música ambiente eram um
pouco invulgares; primeiro porque a dimensão das suas canções iam muito mais
além do que isso, o seu esqueleto era demasiado forte (no bom sentido) e a
maneira como ia repetindo os seus drones sem
estes caírem na própria repetição era soberba. Segundo porque o modo como o
produtor americano conchavava os seus registos era também ele idiossincrático:
uma primeira parte muito mais calma e ambiente que servia de introdução para um
segunda parte bastante mais elaborada e com ritmos mais rápidos.
Branches, nome artístico de Pedro Rios,
conflui com parte dos ideais partilhados por Lopatin, contudo orientados
segundo uma linhagem diferente. Casa
Nossa, editado há cerca de um mês atrás, traz-nos um registo entrópico,
onde cada música segue o seu próprio rumo. Não existem divisões nem existe um
todo, existem apenas músicas que vão-se mostrando independentes entre si, sem
que para isso seja necessário sair do seu habitat. Bastante marcado pelo ruído
dos sintetizadores, Casa Nossa é um
disco calmo e com um conceito de música ambiente bastante mais clarificado e
conceptual do que, por exemplo, R Seven
Plus ou até Replica. É a verdade
que a sua filosofia é notoriamente diferente, aproximando-se muito mais de
nomes como Tim Hecker, mas a sua
essência acaba por ser a mesma.
Sente-se,
sobretudo, a relevância do do-it-yourself
da vanguarda alemã dos anos setenta, quando começou a rebentar o uso de
sintetizadores à escala global. E claro que depois se sente o pesar mais
actual, mesmo que bem lá no fundo, do manuseamento electrónico de Blanck Mass ou Emeralds. Há momentos completamente distintos ao longo de Casa Nossa, sendo que dois deles se
resumem à inclusão de uma guitarra no disco, o que o torna, a curtos espaços,
menos monótono e mais alegre. Falo de “Sol no Terraço” e de “Casa Nossa”. Mas a
mais pura das verdades é que Branches esculpe
um disco recheado de mistério e incógnitas e acaba por ser aí nesses momentos
mais peculiares que Casa Nossa acaba por
ser um disco tremendo, como o reflectem “Vida Nossa”, “Rumo ao Futuro” ou “Expirar”.
Ainda existe espaço para aprimorar a sua estética e quebrar parte da monotonia habitué de um disco desta dimensão bem
como torná-lo mais coeso e compacto, mas Casa
Nossa acaba, no fim de contas, por se revelar um disco esteticamente belo,
detalhadamente cuidado e bebedor das melhores influências. Bipolar, tanto nos
consegue apelar para a meditação nos seus momentos mais calmos como nos consegue
fazer sorrir pela sua vertente alegre nas suas músicas onde se incorpora a
guitarra, tal como nos acontece ao longo da nossa vida. Há vida por aqui, “Vida
Nossa”.
Emanuel Graça
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