Título: IV
Edição: Julho de 2013, Ed. Autor
Classificação final: 8.4/10
Dois discos
num ano é sempre um registo considerável; ∆TILLL∆ é um nome em clara
emergência no panorama electrónico português e, lida a primeira fase deste texto,
é quase irreversível dizer-se que não tem feito por isso. Em 2013, brindou-nos
com dois álbuns; o primeiro, intitulado III,
foi editado no primeiro mês do ano. O segundo, hoje o nosso objecto de análise,
intitula-se IV e não segue outros
contornos que não aqueles que todas as aventuras de ∆TILLL∆ seguiram até ao
momento: ainda bem.
Se pouca
gente hoje em dia se preocupa com o conceito de álbum, Miguel Béco de Almeida, o
homem por detrás de ∆TILLL∆, não pertence certamente a esse grupo de pessoas; as
suas músicas seguem uma continuidade e não será ao acaso que cada uma delas se
intitula como música 1, música 2, música 3, etc.: conta-se uma história que se
divide por episódios e é sempre bom quando encontramos um disco despreocupado com
as gentes e mais preocupado consigo mesmo. Assim é IV, assim é ∆TILLL∆: um demónio que se está a
cagar para tudo, que parece fazer as coisas simplesmente porque gosta de as
fazer.
Demónio
será, por certo, um dos melhores termos para definir aquilo onde a música de
Miguel Becó nos leva: música cruelmente impiedosa, que se abarca timidamente à witch house (até a simbologia presente
no nome ∆TILLL∆ nos remete para isso) enquanto se mune de drones sombrias e pesadas e nos traz à
lembrança os territórios mais electrónicos e sinistros que uns Ulver
já nos fermentaram outrora; há também, numa menor escala, resquícios muito
escondidos de um dubstep gélido ou de
uma industrial de J.K. Broadrick mais
repetitiva. Ainda assim, e é verdade que este leque de influências é soberbo, IV é um disco que faz de ∆TILLL∆
um artista aquilo que a sua história pré-IV não fazia: houve
aprendizagem de estúdio e houve uma maturação tremenda quanto à duração que um
discos deste género pode e deve ter – aqui bate tudo certo, trinta e um minutos
deste tipo de descarga sonora é o tempo perfeito, mais, como era habitué, era tornar um disco com
potencial num disco cansativo e faminto por nos comer o cérebro.
Em
compêndio, IV é um disco tremendo de
um jovem que, claramente, está a ganhar o seu próprio espaço: se no ano passado
Rancor, de RA aka Ricardo Remédio,
me cilindrou a cabeça pela sua abordagem carregada de crueldade à darkwave através das doutrinas techno, este ano foi claramente este IV que me fascinou: o potencial de
outrora é agora uma certeza, bastou que se encurtasse tempo e que este ditasse
a maturação natural das coisas. ∆TILLL∆ não é para meninos, ainda
bem!
Emanuel Graça
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