Título: Mynah
Edição: Novembro de 2013, Pontiaq
Classificação final: 8.3/10
Sempre, ou
quase sempre, que olhamos para o shoegaze
pensamos na dream pop e nas suas
melodias etéreas características: é uma lembrança comum e que vem já dos tempos
de
My Bloody Valentine ou de Slowdive. Com o passar dos tempos, a
dream pop foi ganhando novos
contornos, alguns mais electrónicos (com recursos a teclados, samples e etc), outros mais apoiados
num novo tratamento da guitarra; desde o fim da última década, e sob a esta
segunda doutrina, fez-se catapultar nomes como Wild Nothing, DIIV
ou Mac DeMarco. Os dois primeiros
vivem muito do shoegaze enquanto o
terceiro nome vive em muito das influências post-punk
dos anos 80; os lisboetas Juba fazem a conexão possível entre
os dois estilos: continuam a servir-se da panóplia electrónica e a apostar num
novo tratamento de guitarra, mas também se acabam por exprimir algumas marcas
do pós-punk da década de 80.
Mynah, disco de estreia do quarteto,
impressiona pelo modo arrojado como concilia a vertente dançável da dream pop mais recente (ouçam-se discos
como Nocturne ou o homónimo dos Beach
Fossils) com o modo como as guitarras, por vezes, vão explodindo, invocando,
não por muitas vezes, vestígios de uma noise
pop contida e tímida, mas presente. Importa dizer que as guitarras de Mynah
são, sobretudo, a sua vitória: por vezes imprevisíveis, “Victorian Creeps” pode
ser um paroxismo disso, por vezes simplesmente atmosféricas e ambientes, por
vezes a relembrarem-nos o surf rock
dos anos 60/70 e que agora está a renascer e por outras vezes, quando a música
dos Juba
se torna mais explosiva, mais barulhenta e mesclada com os efeitos dos pedais;
a guitarra dos Juba é ecléctica, ajusta-se facilmente ao terreno que pisa e é
raro, muito raro, encontrar um eclecticismo sem defeitos.
E por falar
em pedais e efeitos de guitarra, há também o nítido chamariz, e aqui esqueçamos
as guitarras, ao shoegaze: vozes
meias abafadas pela produção do disco, coros/backing vocals a funcionarem quase como agentes de instrumentação.
Em suma, Mynah é um disco refrescante
para o panorama nacional e como agora a ZON até tem a “Doused” como OST do seu
anúncio televisivo pode ser que a coisa corra bem e que os Juba tenham uma aceitação
pelo público como aquela que nós temos por eles: malhos como “Mynah/Lull”, “Lambaro”
ou “Please Oh Please” não nos fazem pensar outra coisa que não «que belo disco».
É mesmo, belo disco.
Emanuel Graça
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