quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

7º ANIVERSÁRIO DO MUSICBOX, 7/12/2013 - REPORTAGEM




Sete de Dezembro de 2013, dia especial no cais mal-afamado de Lisboa, o Cais do Sodré. Era a noite do terceiro e último dia das comemorações do sétimo aniversário do nosso já conhecido clube MusicBox e que teve como grande destaque da noite a apresentação dos discos de duas bandas portuguesas, vindas directamente do norte lusitano, que ao longo dos últimos anos têm contribuído largamente para o enriquecimento musical devolvendo uma enorme vitalidade a este purgatório com a forma de um estranho rectângulo geográfico cujo inconsciente nacional deixou, há muito, de se definir como um quadrilátero de ângulos e costumes rectos. 

São elas o duo bracarense Ermo, que lançou recentemente o seu álbum “Vem Por Aqui” pela Optimus Discos, e os Sensible Soccers, com um registo que só será editado em formato CD a um de Fevereiro de 2014 numa parceria PAD/Groovement mas que, para os fãs mais incondicionais, os SS tiveram a amabilidade de dar a oportunidade antecipada de adquirir uma edição especial em cassette.  


 
Antevia-se uma noite excepcional, que apesar de ter contado com alguns problemas técnicos de som na primeira parte - o que podia antever por seu turno um mau presságio – acabou por singrar e deixar o público lisboeta rendido. E assim foi para os Ermo: não seria de esperar outro desfecho para este último trabalho de António Costa e Bernardo Barbosa, que apesar de tenra idade já demonstram uma elevada maturidade musical e sapiência no que toca a questões que envolvem a virtude humana, e que lhes valeu altos elogios da crítica e do público. A juntar à poesia arquetípica e às electrónicas de abstracção minimalista tivemos presente uma performance artística em palco, em que muitas vezes António acabava por deixar o seu corpo absorver-se e possuir-se nas palavras que ele próprio ia proferindo. Era assim num ambiente ecuménico e singular oferecido pelo MusicBox que se ia juntando em palco uma conjugação profética de poesia, oração de textos genuinamente portugueses, dança interpretativa e intervenção, fazendo-se acompanhar de instrumentais electrónicos minimalistas intensos, penetrantes, que tornavam impossível ao público - mesmo aqueles mais cépticos ou menos familiarizados com os Ermo – sentir indiferença perante a arte que se fazia ali diante dos seus próprios olhos.
  
De 40 minutos de concerto há ainda a salientar o momento climático em que António, num tom saudosista, invoca os grandes heróis nacionais com “FMI”, original de José Mário Branco, mostrando que as lutas não foram em vão e que, inconformado, predisposto para derrubar preconceitos, investido de um elevado humanismo, rompendo paradigmas e assumindo uma libertinagem estética, está disposto a assumir o compromisso de continuar as suas obras por um Portugal melhor. O espaço do último tema estaria reservado a uma canção ainda mais recente que todo o “Vem Por Aqui”, a forma escolhida para presentear o espaço e o público que os recebiam. Despedindo-se desta forma do palco, e ainda ressoando as suas palavras nos nossos ouvidos, fica então no ar a esperança de que no fim “tudo correrá bem”.




Acabado o concerto intenso e negro dos Ermo, era a vez dos Sensible Soccers subirem ao palco. Aproximava-se então o momento de partida para um mundo diferente, ondulado, colorido e cheio de ideias que só o rock psicadélico com uma caixa de ritmos à altura poderia proporcionar. 
Logo ao primeiro tema, rapidamente se instalou uma atmosfera nostálgica de forte componente sensorial onde o incoerente transformava-se em coerente e onde o nosso imaginário era fortemente estimulado pelos sintetizadores, pela hábil guitarra e pela contribuição vocal subtil com vozes a entrar em fade in e um baixo consistente e rigoroso a perder-se em sinuosas paisagens electrónicas.  
De entre um autêntico crochet de harmonias com espaços para o improviso, surgia de um processo criativo instantâneo uma autêntica pista de dança que permitia aos presentes uma viagem sonora perfeita bem na senda de “Sofrendo Por Você”, único tema conhecido até agora do disco. Era nesta minuciosa simbiose que os vários elementos iam-se integrando, complanando-se ao pormenor, numa belíssima composição musical – a certa altura era quase impossível as metáforas e os trocadilhos de videojogos futebolísticos não se confundirem com outros tais como o Tetris, tal era a forma sublime como o quarteto empilhava todo o seu material sonoro.

Após um encore repetido, era assim que se anunciava o fim dos protagonistas de uma noite de concertos intensa que deixou qualquer um siderado para o resto da noite com CVLT e Bangkok Snobiety.



João Ribeiro

Fotografias por Tamia Dellinger




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