domingo, 3 de novembro de 2013

HANDWRIST – “HE STRETCHES OUT THE NORTH OVER THE VOID AND HANGS THE EARTH ON NOTHING” (2013, Ed. Autor)




Handwrist é Rui Botelho Rodrigues, projeto sediado em Lisboa que já conta com 5 discos onde se incluem 4 longas-duração e 1 EP, tudo entre Janeiro de 2012 e Setembro de 2013, o que nos leva desde já a aferir da capacidade criativa deste multi-instrumentista. Musicalmente o projeto tem vindo a sofrer uma mutação ao longo do tempo passando de estruturas mais simples e diretas para um rock progressivo e post-rock mais complexo.
"He Stretches Out The North Over The Void And Hangs The Earth On Nothing" é o terceiro longa-duração do projeto, lançado em Junho deste ano. O trabalho conta com apenas sete temas em que quase todas elas ultrapassam os 7 minutos de duração, fato que apela claramente à natureza progressiva contida no disco e que se vem afirmando de disco para disco no DNA de Handwrist. Outra coisa não seria de esperar dado que é necessário tempo para explanar todas as ideias do que o músico lisboeta liberta em cada composição.

“Northernmost” é um instrumental de quase 9 minutos que dá início ao disco de uma forma melódica contando, aqui e ali, com alguns apontamentos mais art-rock onde se vislumbra ainda a influência de Tool, embora não tão evidente como em álbuns anteriores. 
Mas “Limbo” começa com uma cadência lenta e pesada e aqui aparecem as primeiras vocalizações, ora limpas ora guturais, por vezes arrastadas, semelhantes ao que se pode escutar pelo trabalho dos Deftones. É esta alternância entre o ritmo cadenciado e lento e passagens mais atmosféricas e os solos de guitarra que lhe incute uma dinâmica muito interessante.





“Bones”, a faixa mais curta do álbum, demonstra mais uma vez as diferentes influências de Rui Botelho Rodrigues. Aqui é o grunge dos Alice In Chains (que curiosamente lançaram uma música intitulada “Them Bones”) que vem à tona numa música em compasso lento, pesado e hipnótico. Na ultrapassagem, “Lull” é o exemplo perfeito da esquizofrenia que o disco demonstra: um início calmo que dá lugar a passagens claramente progressivas, quase ao estilo de uns Ozric Tentacles, terminando num estilo marcadamente noise. Mas atenção: esquizofrenia musical no seu melhor.

Num registo mais sinistro, “Void” segue o mesmo caminho trilhado por “Limbo”, enquanto “Nothing”, com uma entrada dissonante e lenta, cria um ambiente sombrio e funesto que bem podia ser a banda sonora presente numa catedral medieval. Possante, imperial, megalítico, este é, sem dúvida, um dos pontos altos de todo o disco, complementado por “River”, a segunda faixa instrumental do registo onde a atmosfera e a melodia tomam conta dos acontecimentos e em que os Anathema de hoje foram, provavelmente, uma influência aqui demonstrada. Há ainda tempo para mais umas demonstrações progressivas assim como um bom solo de guitarra até regressarmos ao ponto de partida.

Estamos perante um bom disco que de certo será apreciado pelos amantes de post-rock e de géneros mais progressivos. Todo o álbum é uma dicotomia, tanto a nível musical como nos seus pontos fortes e fracos. Se por um lado a diversidade demonstrada pode agradar a gregos e a troianos, por outro, também pode confundir alguns que não estejam habituados a digerir tamanha dose de diversidade estilística. Contudo, não me parece que o seu autor estivesse preocupado com estas questões quando criou "He Stretches Out The North Over The Void And Hangs The Earth On Nothing". Afinal de contas a música é o que interessa e, neste aspeto, nada é deixado a desejar. 



Hugo Gonçalves




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