Título: Dreamweapon
EP
Edição: Ed. Autor, 2013
Classificação final: 9.0/10
Em 1985, os Jesus
and Mary Chain, com o lendário Psychochandy,
faziam com que se abrisse portas a um mundo sonoro proto-shoegaze; e não que ele não existe já antes, porém a sua existência
assumia outros contornos, sobretudo mais no espectro ambiente. Iniciou-se um
período onde as guitarras, principal componente do género, começaram a ter
outro tipo de tratamento: começaram a soar nitidamente mais arranhadas, bem
mais audíveis e, sobretudo, mais etéreas. Quanto às vozes, pouca coisa mudou
deste então: ainda em 2013 continuam perfeitamente (e hiperbolicamente) inaudíveis.
Os Dreamweapon
surgem algures no meio de todo este contexto: repescam nitidamente o mundo shoegaze anterior ao dos My
Bloody Valentine, ao dos Swirlies ou ao dos mais recentes Yuck;
as guitarras expelem-nos para os mundos criados pós-metade da década de
oitenta, espaços que não foram mais celebrados por ninguém que não os Jesus
and Mary Chain: isso acaba por ser bom, embora não nos traga qualquer
tipo de novidade; já estávamos fartos de filhos não biológicos dos MBV.
Dreamweapon EP acaba por ser a estreia em termos
discográficos da banda que junta André Couto, Edgar Moreira, João Costa e Luís
Barros: e não se trata apenas de uma estreia promissora, trata-se já de uma
certeza. “Black Mountain”, primeira canção do registo e que, por coincidência
ou não, é o nome de uma banda stoner
que até pode ter o seu peso nas composições dos Dreamweapon, é a primeira
prova dada em como existe aqui algo sério, algo que mexe connosco; desde aquela
drone estrondoso que nos comandando
os ouvidos até às batidas e bassline
que nos podiam facilmente induzir em erro, se ouvidos em separo, e levar-nos
até aos caminhos mais clichés da stoner
rock. “Fall” mantém esse espírito, é do caralho: o paradigma shoegaze está bem aprendido, as vozes
estão, como manda a regra, abafadas.
“Let it
shine” ou “Someone’s At Door” acabam por quebrar o ritmo ao EP, são canções que
se aproximam mais dos caminhos do post-punk
e da noise pop e que, por isso,
retiram pujança e volume ao EP, porém a qualidade mantém-se e é nas explosões
das guitarras que elucidamos que, uma vez mais, está aqui um caso muito sério
no espectro futuro da música nacional: os Dreamweapon têm tudo para um grande
triunfo; têm uma excelente escola, são óptimos alunos e preferem dar uma
reposta que não cliché a uma pergunta cliché. Qualquer professor ia gostar
disso: está aqui um dos melhores registos de 2013.
Emanuel Graça
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