quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Dreamweapon - Dreamweapon EP (2013, Ed. Autor)

Título: Dreamweapon EP
Edição: Ed. Autor, 2013
Classificação final: 9.0/10

Em 1985, os Jesus and Mary Chain, com o lendário Psychochandy, faziam com que se abrisse portas a um mundo sonoro proto-shoegaze; e não que ele não existe já antes, porém a sua existência assumia outros contornos, sobretudo mais no espectro ambiente. Iniciou-se um período onde as guitarras, principal componente do género, começaram a ter outro tipo de tratamento: começaram a soar nitidamente mais arranhadas, bem mais audíveis e, sobretudo, mais etéreas. Quanto às vozes, pouca coisa mudou deste então: ainda em 2013 continuam perfeitamente (e hiperbolicamente) inaudíveis.

Os Dreamweapon surgem algures no meio de todo este contexto: repescam nitidamente o mundo shoegaze anterior ao dos My Bloody Valentine, ao dos Swirlies ou ao dos mais recentes Yuck; as guitarras expelem-nos para os mundos criados pós-metade da década de oitenta, espaços que não foram mais celebrados por ninguém que não os Jesus and Mary Chain: isso acaba por ser bom, embora não nos traga qualquer tipo de novidade; já estávamos fartos de filhos não biológicos dos MBV.

Dreamweapon EP acaba por ser a estreia em termos discográficos da banda que junta André Couto, Edgar Moreira, João Costa e Luís Barros: e não se trata apenas de uma estreia promissora, trata-se já de uma certeza. “Black Mountain”, primeira canção do registo e que, por coincidência ou não, é o nome de uma banda stoner que até pode ter o seu peso nas composições dos Dreamweapon, é a primeira prova dada em como existe aqui algo sério, algo que mexe connosco; desde aquela drone estrondoso que nos comandando os ouvidos até às batidas e bassline que nos podiam facilmente induzir em erro, se ouvidos em separo, e levar-nos até aos caminhos mais clichés da stoner rock. “Fall” mantém esse espírito, é do caralho: o paradigma shoegaze está bem aprendido, as vozes estão, como manda a regra, abafadas.

“Let it shine” ou “Someone’s At Door” acabam por quebrar o ritmo ao EP, são canções que se aproximam mais dos caminhos do post-punk e da noise pop e que, por isso, retiram pujança e volume ao EP, porém a qualidade mantém-se e é nas explosões das guitarras que elucidamos que, uma vez mais, está aqui um caso muito sério no espectro futuro da música nacional: os Dreamweapon têm tudo para um grande triunfo; têm uma excelente escola, são óptimos alunos e preferem dar uma reposta que não cliché a uma pergunta cliché. Qualquer professor ia gostar disso: está aqui um dos melhores registos de 2013.

Emanuel Graça




0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Facebook More

 
Powered by Blogger | Printable Coupons