quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PEIXE:AVIÃO - ENTREVISTA

Os peixe:avião chegam em 2013 ao seu terceiro disco de originais fiéis a si mesmos: à procura de novos caminhos, a surpreender todos os que os ouvem e a ler mais e mais elogios, agora também divididos por uma única faixa, "Avesso", conhecida em Abril e que marca o padrão desejado para uma canção marcante em 2013.
Numa altura em que já vão apresentando o disco por todo o país e com regresso marcado a Lisboa para o Vodafone Mexefest 2013, fomos beber conhecimento directamente à fonte. E sem tentar compará-los com os Radiohead.






BandCom (BC): Como é fazer parte em 2013 de uma banda chamada peixe:avião que chega de Braga? Ainda há muito a separar Lisboa (e também o Porto) do resto do país?


peixe:avião (p:a): Não deverá ser muito diferente de fazer parte de outra banda noutro local. Somos um pequeno grupo de pessoas a trabalhar para um objectivo comum: fazer música que nos satisfaça, desafiarmos e questionarmos o nosso trabalho e com isso crescer em qualidade.
Imagino que não haja tanto a separar Braga de Lisboa como havia há 15 anos. Há, obviamente, a distância física entre as cidades, o que faz com que alguns recursos (media, casas de concertos, marcas, agências, etc.) estejam mais longe e sejam logisticamente mais difíceis de alcançar.


BC: Quais foram as vossas grandes inspirações para este disco, desde a capa até à sonoridade global? Ao nível audiovisual, quase parece que o Anton Corbjin deu uma perninha…

p:a: O resultado musical deste trabalho é mais fruto da mudança no método de trabalho - passar de uma composição mais individualista e cerebral para a sala de ensaio - e de um trabalho de contenção e simplificação, contrariando assumidamente aquilo que tínhamos feito anteriormente. Se quiseres que falemos em bandas, houve alguns trabalhos que se calhar tivemos como referência: os Beak>, NEU!, Cluster, o "Third" dos Portishead, algum krautrock e música electrónica alemã dos anos 70.
Não convidámos o Anton Corbjin, mas trabalhámos com duas referências nacionais, a Rita Lino e o Pedro Maia, que produziram o vídeo da "Avesso", e que serviu muito de base para o resto da linguagem gráfica do disco.


BC: As letras das canções continuam a dever muito a um título de uma das vossas canções: “Pontas Soltas”. É uma forma de também ajudarem quem vos ouve a criar a sua própria impressão do disco com as suas próprias interpretações? Ainda se recordam de como algumas destas letras surgiram?

p:a: As letras perderam um pouco o carácter pessoal que tinham anteriormente e tornaram-se mais abstractas neste disco. A interpretação que fazem das mesmas ou a capacidade para as interpretar cabe a cada um.





BC: Tive a oportunidade de escrever anteriormente que os peixe:avião deveriam ser algo como “polícias da língua” materna. Percebe-se que o português não é empecilho: a densidade que as músicas ganham é a principal atracção?

p:a: Não somos de todo polícias da língua materna. Quando iniciámos este projecto em 2007 fez-nos sentido cantar em português. Foi uma opção meramente artística e sem qualquer tipo de patriotismo, ou coisa que o valha, associado.


BC: Este novo disco é um disco mais heterogéneo e mais orgânico, que soa ainda assim mais negro mas que continua a parecer tão ponderado e cuidado como os anteriores. Estes novos desafios que se criaram colocam-vos mais como “peixes na água”? 

p:a: Nunca deixámos de o ser. A cada trabalho tentamos sair da zona de conforto do disco anterior e procurar novos caminhos para a criação.
Concordo quando dizes que o "peixe:avião" é um disco mais orgânico. Isso deve-se em parte ao processo de composição que abordámos, ao facto de estarmos os 5 a compor em conjunto, a explorar mais uma paleta de sons reduzida. É um disco mais físico e mais dinâmico e mais expressivo por isso. Mais heterogéneo também talvez (e ainda bem), por ter sido muito balizado. Ao termos definido constrangimentos algo estreitos para a composição do disco, acabámos por procurar soluções a que anteriormente não tínhamos recorrido.


BC: Conhecendo o vosso perfeccionismo também em palco, onde é que se vai encaixar a importância dos inputs do trabalho de produção? É o “convidado especial”, fazendo as devidas ressalvas em relação aos anteriores convidados para outros discos, deste terceiro registo?

p:a: O nosso produtor, Nélson Carvalho, é uma peça muito importante deste disco, como também foi do "Madrugada". Trabalhamos em grande sintonia e os inputs dele são sempre bem-vindos e acabam sempre por potenciar o resultado final da obra.
Em relação aos concertos, procuramos proporcionar uma experiência “aumentada” em relação ao disco. Queremos que a componente visual traduza bem a estética e as dinâmicas do disco. Nesse sentido podemos dizer que para além do “convidado especial” atrás da mesa de misutra, temos um outro responsável pelas luzes e cenografia, neste caso a Side Effects, com quem já trabalhamos desde a altura do 40.02.


BC: Pode-se dizer que cresceram com a PAD (no sentido da sustentabilidade e do crescimento faseado de ambos)?

p:a: Sim. Acho que a pergunta acaba por responder à questão. Temos tentado ser consistentes e ponderados tanto na editora como na banda e evitar dar passos maiores do que a perna.
Tendo noção dos constrangimentos do mercado da música em Portugal e não tendo nós suporte financeiro externo à banda, seria impossível sermos megalómanos, mesmo que o quiséssemos ser.


BC: Muitas bandas demoram muito mais do que vós a chegar ao terceiro disco e outras tantas não conseguem produzir o disco que mais desejariam. Algum segredo para o mesmo não ter acontecido convosco?

p:a: Não há propriamente um segredo ou uma fórmula. Somos bastante dinâmicos e estamos sempre com vontade de tentar novas soluções musicais, experimentar novas soluções ao vivo, com vontade de trabalhar com este ou com aquele, etc. É isso que nos vai alimentando.





BC: Sentem-se uma banda diferente de tantas outras portuguesas actualmente? Porquê?
Conseguem olhar lá para fora e ver também um espaço que possam ocupar?

p:a: Não nos sentimos diferentes de tantas outras bandas que por aí andam, no sentido de termos os mesmos objectivos, dificuldades, meios e expectativas que tantos outros grupos têm em Portugal. Esteticamente, se calhar ocupamos um lugar que estava um pouco por explorar no nosso território, principalmente com este novo disco. Mas seria irrealista dizermos que temos um espaço a ocupar lá fora. Não somos bons nem diferenciadores a esse nível.


BC: Os elementos dos peixe:avião dividem-se por outros projectos, outras colaborações, à semelhança de outros projectos portugueses e internacionais. Com as devidas ressalvas, o Luís, por exemplo, está para os peixe:avião como o David para os You Can’t Win Charlie Brown a dar um toque mais característico e de ruptura com a restante sonoridade criada pela banda. Concordam? Estes projectos e cada banda que se localiza no antigo 1º de Maio são fontes de inspiração priveligiada para todos?

p:a: Todos nós participamos noutros projectos e é natural e saudável que essas experiências influenciem a banda. O Luís é diferenciador para os peixe:avião na mesma escala dos restantes membros da banda. É um pouco redutor para a banda como para o próprio Luís assumir que todo o trabalho de electrónica do disco foi exclusivamente desenvolvido por ele, uma vez que ele tem um projecto pessoal de música electrónica. Somos muito democráticos e muito pouco individualistas nos peixe:avião. Aquilo que se ouve é fruto de cinco cabeças, neste disco mais do que nunca.


BC: Quanto ao espectáculo ao vivo, como se estão a preparar para estes espectáculos em que entram agora depois do lançamento do disco? Que feedback têm recebido daqueles que já se realizaram?

p:a: Os preparativos para estes concertos foram muito fáceis. Como todo o disco foi composto e gravado live e praticamente sem overdubs, a transposição para o palco daquilo que está no disco é imediata. Isso dá-nos margem para explorarmos mais as dinâmicas do concerto, que acaba por ganhar outra vida. Para além disto temos uma componente visual muito forte que nos dá muito gozo pensar e ver aplicada nos concertos.
As reacções têm sido as melhores, tanto em relação ao disco como aos concertos que demos até agora, tanto por parte dos media como do público.


BC: Já enviaram algum dos vossos discos ao…Thom Yorke?

p:a: Ao contrario do que deixaste implícito nesta questão, se quiséssemos enviar o nosso trabalho a músicos de referência para nós, o Thom Yorke não estaria no topo da lista.



André Gomes de Abreu




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