domingo, 27 de outubro de 2013

AS APOSTAS PARA 2013, 2014 E MAIS ALÉM - Hugo Hugon/Mickaël C. de Oliveira


HUGO HUGON

Como músico que também sou, se antes podíamos dizer que era muito difícil sê-lo em Portugal, houve uma evolução tremenda nos últimos anos, baseada numa exposição cada vez mais acentuada de bandas de todos os géneros e feitios e, reciprocamente, num interesse cada vez maior do público por estas.
Sítios para tocar e oportunidades não faltam, e se ainda há uma grande estrada a percorrer, não me parece que estejamos no mau caminho.
É, como tal, com grande prazer que, na grande dificuldade que é escolher entre tanta variedade e quantidade, aceito o desafio de perspectivar o que aí vem.





Este último ano musical teve indubitavelmente o condão de me deixar água na boca para o próximo, deixando-me algumas expectativas e curiosidades.
As minhas apostas, dúvidas, esperanças, e até talvez um pouco de futurologia, passam pelos Cochaise, que depois de um excelente (mas talvez não o suficientemente coeso) álbum, vão-se afirmar como uma banda que, aliando sensibilidade e melodia a um pop-rock rasgado e decadente, faz o que poucas fazem em Portugal.

Os Quelle Dead Gazelle, a trabalhar num álbum, conseguirão inovar num estilo tão próprio e diferenciado (que pode perder o poder se não for bem domado)? É uma mudança de sonoridade a que prevejo, destino a partilhar com os Memória de Peixe.
Os Pontos Negros voltarão ao ataque depois de um último trabalhado injustamente pouco badalado. Quero vê-los a tocar, tal como quero ver Os Velhos: conjunto inconstante, amado por uns e odiado por outros; pois eu pertenço aos primeiros e espero ansiosamente por novidades (mesmo com um disco de estreia de Pedro Lucas em nome próprio, "Águas Livres", já marcado para 2014).





Não creio que ainda seja desta que a Cafetra dê o salto merecido que não tem conseguido dar. Talvez porque não queiram, mas não vou ficar à espera.
Quanto aos Elektra Zagreb, que cumpriram as expectativas este ano, serão capazes de lançar mais um álbum? E com que sonoridade? Veremos o que sucede num dos testes mais difíceis para este excelente grupo de Lisboa.

Os Equations vão subir a grandes palcos. Porque não é qualquer um que faz o álbum de estreia que eles fizeram, resta confirmar se assim continuarão ou não (a segunda hipótese parece para já a mais provável), e se serão capazes de embelezar a sua sonoridade especial com um toque melódico que absorva um pouco a agressividade. Agressividade, essa que é uma imagem de marca...mas será imutável? E os Black Bombaim? Sairão do âmbito mais descomprometido e experimental (não por isso pior) que nos têm vindo a apresentar? Que passem mais pelos palcos portugueses, tal como os Capitão Capitão que só têm que embalar no ritmo e trazerem mais dos seus últimos trabalhos: um estilo próprio que dá muitas esperanças para o futuro.

Dos The Ramblers, vejo-os a fazerem o seu melhor álbum e a imporem a sua manifesta originalidade sem preconceitos nem obrigações. Vejo os The Doups a partirem tudo novamente ao vivo, com a qualidade que se lhes faz jus, e espero ainda ouvir dos Jack & Dante uma vez mais a singularidade e irreverência deste ano com músicas como "O Vício da Liberdade". 





Em 2013, Samuel Úria surpreendeu-me, e acho que não só a mim. Não sendo fã confesso, prezo a sua personalidade e o bom trabalho que fez com o último álbum e por isso intriga-me o que possa aí vir. E o hype dos peixe:avião dará cartas ao vivo?

Sou um fã confesso dos Capitão Fausto e aposto que o novo álbum vai ter uma boa dose de psicadelismo a mais do que estamos habituados. Saber se isso será bem aglutinado num álbum e em melhores prestações ao vivo é algo que anseio saber e ouvir. Enquanto isso, rezarei resignado para que os feromona voltem...





Por fim, quero ver novas bandas a aparecer, novos espaços para tocar a abrir, com disponibilidade para as receber. E público, muito público. É isso que faz a música, e que a tem feito crescer em Portugal.


MICKAËL C. DE OLIVEIRA

Falar em "apostas" a anotar em 2013 tão perto do final do ano pode parecer um pouco tardio. Mas não estando a viver em Portugal, o mês de férias bem passado por terras lusas permitiu-me (ou não) tirar as últimas dúvidas que eu ainda tinha a propósito do talento de algumas bandas. Nisso, o FUSING Culture Experience acabou por me facilitar imenso esse trabalho.





No entanto, mesmo correndo o risco de não ser muito original, creio que, como cerca de 90% das pessoas que se interessam pela música portuguesa, o álbum mais esperado do ano teria que ser "Turbo Lento" dos Linda Martini. "Almost Visible Orchestra", de Noiserv e entretanto já nas lojas, não lhe ficará muito atrás para quem ainda não o escutou.
Com novo disco previsto para 2014 e partilhando o campo dos concertos ao vivo, a minha grande "aposta" para 2013 e diante é mais um conselho: vão ver os PAUS (ao ler novamente esta frase, isto tornou-se quase numa ordem quando vão entrar em Novembro na "Primavera Sound Touring Party"). A estes três, mais perto do conhecimento geral, adicionaria três outras bandas que também estiveram no FUSING e que na altura fui ver, confesso, com algum preconceito: os JUBA, por ainda não terem editado um álbum ou EP (a pontiaq resolverá essa questão no próximo mês); os Killimanjaro, por não ser propriamente fã do género em que se inserem; e os Pensão Flor, por achar que é difícil hoje mais do que nunca surpreender neste registo. Recordando o FUSING como ponto de partida, as coisas correram-lhes muito bem: se os jovens JUBA ainda precisam de afinar mais a sua interação/relação com o público, os Killimanjaro já são uns monstros ao vivo (com disco na calha) e o conceito dos Pensão Flor é mesmo inovador: funciona, comove, e não é apenas uma manobra de marketing.





Em matéria de futuros novos discos, espera-se com alguma ansiedade pelo bebé dos Black Bombaim ao lado dos La La La Ressonance, num encontro de titãs, aquele que os indignu, do mesmo distrito, travaram este ano numa epopeia a não perder por mais nenhum instante.
Mais a sul, as sonoridades fresquinhas dos Pernas de Alicate, ainda em desenvolvimento/revelação, não se ofuscam com o extenso campo da música eletrónica, onde aponto claramente para o novo EP de Elite Athlete, entretanto já apresentado com sucesso, e para seguir as novidades continuamente vindas de próximo das suas andanças: CHAINLESS, IVVVO e, mais no geral, o que brote da Terrain Ahead e da Badroomstudios Records (a colectânea "Estúdio Mau" é grande).

Ainda a colher os frutos do sucesso de 2012, :papercutz e RA fazem também parte das minhas esperanças e curiosidades para um futuro próximo, assim como Roulet e os seus beats de kizomba no seu novo EP "Beats d’Amor" que assinalam o seu regresso às sonoridades africanas mas agora com os sopros chill que adoptou em "Home Again".
No campo do hip-hop também não vou ser muito original: Allen Halloween é uma referência e continuará a sê-lo, Bob da Rage Sense tem aí um novo álbum que promete e as editoras No Karma, Monster Jinx, e Kimahera continuam a oferecer-nos com regularidade grandes malhas.







Em matéria luso-internacional, têm chegado algumas novidades e perspectivas do Luxemburgo, de França, da Suiça, de Inglaterra, dos Países Baixos e dos Estados Unidos. O luso-luxemburguês Sun Glitters assinou há pouco tempo pela label norte-americana Mush Records e os Love Echo, onde milita o luso-luxemburguês Victor Miranda, podem e devem aparecer mais (ouçam só a reinterpretação de "Lovecats" dos The Cure!). A convite de Victor Ferreira, e com alguma insistência, há Ordalie, o novo projeto que vai produzir, do luso-descendente Simon Ramos. E nós confiamos nele.

Em França, continua-se a seguir com atenção a evolução da família Fontão. Ultimamente, o líder dos Stuck In The Sound (José) participou na malha dos Toxic Avenger "Romance & Cigarettes" e ainda se espera pelo segundo álbum do seu outro projeto YOU!. O seu irmão (David) e a sua banda I AM UN CHIEN também têm feito algumas coisinhas interessantes, como o demonstra a última colaboração em "Do It" com DJ Pone, dos Birdy Nam Nam. 





Também se aguarda por assistir aos primeiros lives de Kimto Vasquez, enquanto ainda no mundo do rap luso-francês a saída da mixtape "France vs Portugal" criada por dois embaixadores do rap português em França, Miguelraptugatreize e Zeblak, e que conta com a participação do lado francês de artistas aclamados como Keny Arkana, muita gente do movimento horrorcore, assim como rappers com já bastante reconhecimento dentro da cena portuguesa como Allen Halloween, Reflect, W-Magic, NGA, VerbalShot, Ferry & Seth, GROGnation, Prodígio, Don G, Kid MC, entre outros, começa a criar os seus ecos.
Na Suiça, o projeto electrónico Mourah e o grupo Rorcal de doom/black metal também têm novidades para breve. Sendo o primeiro nossa aposta desde as premissas do seu regresso, o segundo deverá certamente pisar mais palcos portugueses (sugestão: porque não com os Process Of Guilt por perto?).





Muitos foram os que entretanto emigraram, por exemplo para Londres, à procura do reconhecimento que nem sempre tiveram por terras lusas. De lá tem havido bons ecos de Diamond Bass, que criou o projeto paralelo Square One, Photonz (a desdobrarem-se já, em parte, em Negentropy para além da rotação da "sua" One Eyed Jacks), alguns produtores da Terrain Ahead e outros como PURPLE, a darem a volta ao Mundo em poucos minutos.
Se as últimas movimentações do luso-norte-americano RAC e a saída do seu novo EP, com "Let Go" e Kele Okereke dos Bloc Party, teve bastante ressonância nos media, espera-se ainda pelo reconhecimento do grande LASERS, vindo diretamente dos Países Baixos e que foi escolhido há pouco tempo pela Vogue para ilustrar um dos seus desfiles de moda, enquanto também escolheu Asterisms para uma colaboração que por certo não se esgotará em "Mint".


Hugo Hugon/Mickaël C. de Oliveira




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