domingo, 1 de setembro de 2013

OS PONTOS NEGROS - "SOBA LOBI" (2012, Optimus Discos)

"Soba Lobi", quarto trabalho de Os Pontos Negros, é um excelente álbum. Tem rock, muito rock - e tem Strokes, e quem muito os oiça,  sentirá essa influência. No entanto, reduzir estre trabalho a uns Strokes e companhia com alma tuga seria uma heresia e demasiado redutor. Aliás, somos avisados disso com uma eloquência desafiante logo no primeiro verso de "Senna" com “eu não me chamo Casablancas”, e “não há sufrágio que não abrace o plágio sem condenação”.





Trata-se de um disco uniforme do início ao fim, em que o puro rock com guitarras rasgadas e concretas nos é apresentado logo em "Senna" e confirmado em “Duas Noites Por Dia”. "Tudo Floresce" e "Eu+Eu=Ninguém" são canções pejadas de ironia, que se destacam sobretudo pela beleza da simplicidade na construção melódica, o que, acrescente-se, é uma das grandes qualidades do álbum: músicas simples e despretensiosas, com letras complexas mas incisivas e bem construídas (não caindo no enredo cansativo da conceptualidade exagerada), e sobretudo imaginativas, entre sarcasmos, sátiras e ironias sobre o pequeno português que quer ser inglês ou sobre o homem bom que corre enquanto os outros dormem. Veja-se "Prolongamos Um Sonho": um autentico hino “inspirador”, onde mesmo nas ruas em chamas, sabemos que o futuro do chão não passa.

Mas não só de puro rock vive "Soba Lobi". Há uma riqueza escondida nas guitarras em quase todas as músicas, com constantes pequenos pormenores que deliciam. "Três Pregos Num Caixão" é o exemplo vivo disso.  Para além disso, os arranjos de teclas têm um papel muito importante, aparecendo várias vezes e suavizando e dando cor às guitarras.
"Homem Bom" e "Gabriela" trazem pouco (com "Gabriela" intrigante mas com o primeiro e único laivo de pretensiosismo), podiam perfeitamente sair deste trabalho e ser substituidos por mais duas músicas do estilo de "Negrume". Uma música extraordinária, na minha opinião, que se destaca e ganha autenticamente vida sozinha, libertando-se das amarras e do esqueleto que parecia fazer o álbum fazer sentido como um só. Dou por mim a pensar, ou quase a gritar: “porque não mais disto?”. Conta-se uma parte final etérea que faz ficar mais perto de Deus pai; tudo o resto deu-me vislumbres do diabo, que vive no pequeno Portugal. É sempre bom ter os dois lados. 





Poder-se-ia dizer que "gostei porque é punk e eu gosto de punk", "porque é rock e eu gosto de rock", ou simplesmente "porque gosto de Beatles", mas a verdade é que o que fica de "Soba Lobi" são as melodias, construídas de tal maneira que se pode ouvir a alegria, minúcia e preocupação artística com que foram feitas, aliadas a letras deliciosas.
Este Mundo prefere ser Schumacher, já eu prefiro ser Ayrton Senna. Há sempre um preço a pagar, acrescento.



Hugo Hugon




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