quarta-feira, 25 de setembro de 2013

NOME COMUM - ENTREVISTA

Foi já em Setembro que entrámos pelas novas canções de "Cuco": agora, os Nome Comum estreiam o novo disco ao vivo no Teatro do Bairro na última Quinta-feira de Setembro. O percurso de uma banda ainda jovem mas com ambição é mote para um pedaço de conhecimento fornecido pelos próprios artistas.





BandCom (BC): A história dos Nome Comum é mais ou menos recente. Contem-nos um pouco sobre ela, do ponto de vista dos momentos que mais contribuíram para chegar até esta altura.

Nome Comum (NC): O projecto, que tem por base um duo de irmãos, nasceu na garagem da nossa avó, onde começámos a fazer canções num mês de verão. A seguir a uns concertos introdutórios na área de Lisboa, fomos seleccionados para os Jovens Criadores ’09 e decidimos então convidar o Gonçalo Castro, que já tocava com os AbztraQt Sir Q e outros projectos, para se juntar a nós, no que foi uma conexão muito rápida e natural.
Em 2010 fomos convidados para ir ao TEDx Lisboa apresentar o projecto. O marco seguinte foi a edição da nossa Carta-EP em 2011, que gravámos em casa, com a ajuda do Pedro Magalhães nas mixagens. Tendo assim objectivado algumas das nossas canções, já sentíamos a falta de um outro elemento acústico, nomeadamente rítmico, e convidámos o Nuno Morão, o nosso actual percussionista. Já com o Nuno na banda, gravámos três vídeos com o Tiago Pereira para a Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (que de tempos a tempos colabora connosco como VJ nos nossos espectáculos ao vivo). O mais recente momento – que nos traz ao lançamento deste álbum - foi a obtenção do apoio financeiro da GDA, que nos permitiu levar as canções ao estúdio Golden Pony e sair com estas oito canções (... mais uma faixa escondida).



BC: O vosso disco de estreia, “Cuco”, vem como a continuação natural do vosso anterior EP?

NC: No sentido em que já na altura tocávamos algumas destas canções ao vivo há uma continuidade, mas foi uma linha marcada por saltos evolutivos - praticamente a cada ensaio alterávamos alguma coisa. E com a inclusão dos ritmos do Nuno foi inevitável transformarmos ainda mais radicalmente as canções. 


BC: Os Nome Comum começaram como um projecto de irmãos e evoluíram para uma formação maior. Não sendo muito habitual vermos irmãos num mesmo projecto, quais os principais pontos de entendimento que fizeram com que o projecto tenha crescido convosco ainda como o “núcleo”?

NC: Prende-se sobretudo com o facto de que, na altura, quando convidámos o Gonçalo e o Nuno para o nosso projecto, já termos na algibeira muitas canções que tinham sido compostas (tanto a letra como a música) só pelos dois. Sendo irmãos, é-nos muito fácil trocar ideias, pela proximidade e familiaridade que temos; mas agora que já temos entre os quatro uma dinâmica bem consolidada, cremos que as canções se vão abrir mais aos quatro. Não sabemos ainda bem como será o processo musical em si – se vamos levar alguns esboços para trabalharmos em conjunto ou se faremos tudo entre os quatro. Provavelmente, como tudo o que de genuíno acontece, há-de variar.


BC: A “Acordo Tarde” é uma canção que já aparece quando gravaram em 2011 com "A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria" e é a única música que transita do EP para o disco. Funciona como um “porto de abrigo”, uma música que já têm muito desenvolvida e que faz sentido no disco?.. Há mais canções ainda a amadurecer?

NC: Do conjunto apresentado na Carta-EP foi a canção que sentimos que iria ganhar mais com a percussão e o imaginário do Nuno Morão. Precisava de mais calor e tropicalidade, elementos que o ritmo pôde aportar à canção. Outro factor distintivo - aliás, transversal ao álbum e aos nossos concertos ao vivo - é que a Madalena passou a tocar mais piano, um instrumento que, graças à sua amplitude, trouxe mais força e corpo às músicas.
Temos, claro, mais canções em banho-maria, e várias ideias de bolso que vamos registando como notas para o futuro, mas neste momento estamos a concentrar as nossas energias nos ensaios e promoção do álbum. Mas muito em breve voltaremos a elas. 


BC: Foi fácil ter estas 8 canções prontas para apresentar em disco?

NC: Sim, pois são canções que já tínhamos vindo a tocar ao vivo. E que fomos, com o tempo, alterando e aperfeiçoando. Foi um processo muito natural. Já na fase de pré-produção do álbum, antes de irmos para estúdio, tínhamos uma ideia bastante clara do que queríamos fazer nas gravações. Mas claro está que, dentro do estúdio, foram surgindo ideias novas, e aí deixávamo-nos ir sempre que sentíamos que as canções ganhavam com essas inclusões, subtracções ou mudanças. Por exemplo, o registo falado do Bernardo na “Ninguém Fica Só” – antes essa parte era cantada, mas o Pedro quis experimentar algo diferente para criar mais contraste e resultou muito bem. Ou o final da "Anão Gordo", com elementos disco... ou ainda a própria secção de cordas da "Cuco" – foi literalmente da noite para o dia que o Nuno escreveu o arranjo e reunimos violoncelista e violinista... Bem, houve várias coisas deste género. Não teria graça considerar as canções como coisas já, sempre, fechadas. O gozo está em permitir a entrada de ar fresco.




BC: Muito recentemente a Madalena emprestou a sua voz a várias canções do “Olympia”, disco dos Minta & The Brook Trout. É uma experiência para repetir?

NC: Não só lhes empresto a voz, como a ofereço! O álbum é magnífico e foi um prazer contribuir para a música deles. Já tinha trabalhado noutro projecto com a Francisca Cortesão, os They’re Heading West (um projecto a seguir) e cantar com ela e quem a rodeia é sempre uma experiência que dá muito ânimo. 


BC: A questão de cantar em português tem sido sempre consensual desde que começaram a compor as canções para Nome Comum?

NC: Parece-nos que na composição destas canções nem poderia ser de outra maneira. É curioso, só mais recentemente, em entrevistas, nos têm feito pensar nessa questão. Quando começámos a compor não questionámos isso como opção, sequer. Aí, o facto de sermos irmãos e de termos criado em conjunto estas canções, provavelmente explica essa tendência. Sempre comunicámos em português e, portanto, quando nos pomos a pensar em conjunto é natural que usemos a nossa língua materna. 


BC: O apoio da Fundação GDA para o lançamento deste disco condicionou-vos de alguma maneira?

NC: Não condicionou, mas “acondicionou”. A gravação de um álbum é um processo muito dispendioso e o apoio permitiu-nos preparar um melhor trabalho, planificando-o desde a sua fase de criação à recepção: gravar num estúdio profissional, com um produtor, e preparar um plano de promoção, para que o trabalho chegasse a mais e diferentes públicos.





BC: O videoclip de “Cuco” foi nomeado para o Prémio do Júri - Aquisição FUSO/Fundação EDP no FUSO Anual de Video Arte Internacional de Lisboa. Estavam à espera? Que pontos destacam do resultado final deste clip?

NC: Não estávamos à espera no sentido em que tudo o que envolveu o videoclip foi uma maravilhosa surpresa! Confiámos a música ao Gonçalo Soares e à Sara Coimbra Loureiro, que no fundo nos responderam já com o vídeo completo. É verdade que o já Gonçalo nos tinha mostrado um esboço da viagem cheia de peripécias que tinha imaginado para o vídeo, e de seguida gravou com a Sara um muito pequeno teste para mostrar como o peixe poderia funcionar a nadar (ou a voar, na sua apropriação da personagem do cuco) por cima das colagens - mas a partir daí demos-lhes rédeas livres e só vimos mais tarde o resultado final. O videoclip oferece daquelas viagens que fazem reviver o imaginário da infância, colorido e vivo, onde se voa e não há limites; mas dentro disso conseguiram pegar na temática da canção e construir uma história já deles, com os peixinhos, que corre paralela à nossa e em certo sentido a completa. Por isso o vídeo oferece duas narrativas, e ficámos obviamente muito contentes com o trabalho deles. 


BC: O Teatro do Bairro vai ser palco da apresentação deste “Cuco”. Alguma razão em especial para a escolha desta sala tão particular?

NC: É bom poder cantar no topo de uma das 7 colinas de Lisboa! Mas para além de ter uma localização excelente, o Teatro do Bairro tem óptimas condições de som para podermos apresentar este novo trabalho da melhor forma possível e acolher o nosso público. Para além de outros convidados surpresa, o Tiago Pereira virá juntar o seu talento para misturar imagens ao vivo à nossa enorme vontade de tocar neste concerto, e esta festa de lançamento será certamente uma celebração de música portuguesa! 


BC: Numa altura em que vemos vários projectos portugueses a cruzarem referências e sonoridades e até a cantarem também em português, quais as qualidades que vos distinguem?

NC: Há o facto de fazermos muitos jogos vocais em duo, e de termos vozes com timbres muito semelhantes que por vezes, nos dizem, se chegam a confundir como uma só quando cantamos em uníssono. Isso é um dos traços únicos do projecto. Mas também as próprias canções não têm estruturas muito convencionais, não são simplesmente canções de verso-refrão-verso: há interlúdios, quebras, mudanças de compasso, desconstruções, devaneios. Para além de que as músicas são bastante diferentes entre si - são nitidamente muitas as influências que constam no disco: folk, bossa nova, música tradicional portuguesa, funk, música clássica, jazz, rock... Também há a acrescentar o facto de as tocarmos num formato quase exclusivamente acústico: podemos ocasionalmente usar um ou outro brinquedo electrónico, mas somos essencialmente um quarteto acústico. Para além disso, também há um outro factor distintivo no que toca à escrita das letras, escritas entre dois irmãos. Como não provêm de um só autor, há certas coisas que acabam por não acontecer: não há, por exemplo, canções do foro confessional, um ‘eu’ supostamente biográfico que narre a sua história passional, as suas aventuras ou desventuras amorosas. São mais personagens, caricaturas, ambientes, disposições, por vezes conversas. Geralmente, à medida que escrevemos as canções, vamos entrevendo as personagens que se formam naquilo que a música e as frases soltas sugerem. E isso talvez seja relativamente incomum.


BC: O que têm os Nome Comum em vista para os próximos tempos?


NC: Nesta próxima fase vamos tentar dar o máximo de concertos, de norte a sul de Portugal, para promover este trabalho. Depois pensamos fazer uma residência artística para que possamos explorar novos processos entre os quatro, e podermos então começar a pensar no que queremos levar para uma próxima ida a estúdio. O ideal seria lançar outro álbum já no próximo ano.



André Gomes de Abreu




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