domingo, 25 de agosto de 2013

PENSÃO FLOR - ENTREVISTA




Não sabemos se pensaram ou não nisso antes: o certo é que os elementos da Pensão Flor fizeram por inculcar no seu discurso o mesmo espírito de "pensão" que viu desabrochar a banda. Enquanto Vânia Couto respondia às nossas perguntas sentada, alguns membros iam, entrando e saindo dos camarins do Casino da Figueira da Foz, no palco "A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria" do FUSING Culture Experience. Uns "só vinham para tratar das suas coisinhas", os outros "resolviam ficar". 

Quem ouve quais são os pontos fulcrais que a banda sublinha não pensa à partida que se trata de um projeto musical: um conceito jovem (com apenas três meses!), inovador e com vista à internacionalização, o ponto de encontro entre vários géneros e horizontes diferentes, e por fim, a história da Pensão Flor e de tudo o que ali vai acontecendo.Se o projeto é hoje já considerado como sendo "um caso sério" no panorama da música nacional, a vocalista Vânia Couto teve no início algumas dificuldades em acreditar na veracidade da proposta de Tiago Almeida; "Foi curioso, engraçado, porque fui chamada pelo Tiago, que me disse que tinha um daqueles projetos que nunca sabes se vão ou não realizar-se um dia, e que tinha algum fado… O que mais gosto de cantar é música tradicional portuguesa e música portuguesa, embora fado também mas não sou fadista.", revela. 

Os coimbrenses, que já fizeram parte de bandas como Belle Chase Hotel, Brigada Victor Jara, Wraygunn, entre outras, não tiveram nunca como ambição renovar o fado e nem gostam muito de dizer que aquilo que fazem é fado, muito por culpa das influências serem tão diversas que, segundo o que dizem, será difícil restringir o seu conceito a apenas um género musical: "Foi muito enriquecedor porque cada um trouxe de facto as suas influências. E acho que esses toques de jazz e de rock acabam por ser determinantes e dão outro toque à nossa música. […] O nosso objetivo nunca foi cantar fado ou transformá-lo noutra coisa. É claro que há sempre algumas influências, mas quando criamos as músicas, não pensamos ‘ah, esta música vai ser um fado.’" 





E se alguns poderiam ver no final de "Na Volta de Um Beijo" uma provocação, Manuel Portugal descartou logo essa ideia e explicou-nos o porquê de ter inculcado tonalidades dos The Cure nas guitarras da Pensão. "Foi uma brincadeira com o Tiago e depois achei que aquilo tinha muito poder com a música. Como sempre gostámos de misturar os géneros, a ideia ficou, até porque todos gostaram. Temos influências de todos os lados…"
Mas falar da Pensão Flor evocando apenas a parte mais musical acaba também por ser mais que redutor. De facto, o escritor Nuno Camarneiro, prémio Leya 2012, e o ator Rui Damasceno participam também neste projeto: "Nós estávamos à procura de um espetáculo que não fosse só música e que tivesse alguma componente um pouco teatral, cénica, com uma história concreta, com personagens concretas, com princípio, meio e fim. E vimos que isso condicionava muito o espetáculo. Resolvemos então dentro desse espírito, desse imaginário que é a Pensão Flor, convidar alguém que conseguisse de modo abstrato traduzir o ambiente que nós não conseguíamos impingir. E a pessoa desejada era o Nuno Camarneiro que, para além de ser nosso amigo, escreve maravilhosamente bem e ele aceitou o convite", explicou Tiago Almeida, mentor do projeto. 

E qual a importância de cada um no seio da banda? Vânia Couto e Manuel Portugal explicam. " [A Vânia] É uma mulher fantástica, tem um impacto muito forte nas pessoas, é muito humilde. Veio dar alguma coerência a isto tudo e conseguiu resolver as nossas dúvidas todas, se queríamos mais jazz, mais fado, mais rock… tem uma capacidade de trabalho incrível.", começou o guitarrista, mas "A guitarra do Manuel faz toda a diferença", rematou a vocalista.
Outro conceito inovador, o FUSING Culture Experience, também mereceu destaque e largos elogios à organização. "É óptimo, é uma grande iniciativa da Figueira da Foz, também por terem sido convidadas só bandas portuguesas. Apesar de já sentirmos hoje que há uma maior consideração pela música portuguesa, que não sentíamos há uns anos atrás, acho que temos muitos bons músicos em Portugal e que temos de os mostrar, para além do facto de também isto se associar às outras artes", concluiu Vânia Couto.Para o que falta de 2013, o objetivo da banda passa por cimentar o sucesso dentro do continente para depois singrar lá fora (sobretudo no Rio de Janeiro, para já).



Mickaël C. de Oliveira




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