"Future" é o novo EP do prolífico IVVVO, no qual o artista oriundo do Porto continua a demonstrar que o país dele é talvez demasiado pequeno quando comparado com a capacidade de reação que tem, com tal jeito de se reinventar de um EP para o outro e de lhe inculcar um humor que varia a todo o tempo. Mas é também a prova de que já deu o passo que muitos de nós ainda não deram. Se Victor Hugo disse que "a música é barulho que pensa", no caso de IVVVO, os sentimentos que traduz em sons é que acabam por se misturarem todos na música que faz. Tudo é muito espontâneo, a música é que depois faz o trabalho e torna um barulho num barulho que pensa.
As duas primeiras faixas acabam mesmo por ser a expressão máxima dessa incoerência tornada límpida e pura à medida que os segundos avançam. Com um mundo a priori de opostos que se revelam bem mais próximos do que o previsto. "Darkness In My Soul" e "Before the Death of Rave" têm esse lado dark adicionado e moldado com perícia e minuciosidade com sonoridades a puxar ao dancefloor que provocam no auditor um sentimento bem difícil de entender, como se a música quisesse ficar com os seus segredos, os segredos do seu criador e do mecanismo que tornou o barulho pensador.
Arriscar e fusionar são dois verbos a ter em conta no futuro. Como ter duas faixas com piano num EP de eletrónica/house/industrial/... é de uma coragem e de uma ousadia que poucos têm. Sobretudo quando a essas mesmas faixas são somados pequenos efeitos fissurantes que dão à melancolia e à emoção um desejo de as destruir como as suas bases de pianista e as referências que teve, brincando mais uma vez com os géneros.

"Future", que se avista depois, é sem dúvida o tema mais exótico do álbum: o espírito
dark já menos visível num tempo que tem destas coisas bem mais risonhas, um tema de passagem para o outro mundo… que acaba por nos oferecer o mesmo que tínhamos precedentemente, o futuro de uma ilusão. Em "Under Grey", o mundo é negro e continuará a sê-lo e as pessoas continuarão a dançar e a divertir-se sem pensar no tempo seguinte, em "Rave Pt.2" tudo acaba com a melodia do piano da vovó, riscada.
Bem menos onírico, sem vozes fantasmagóricas, bem mais negro, IVVVO demonstrou mais uma vez que sabe fazer de tudo, bem, e em muito pouco tempo. "O verdadeiro músico do futuro é aquele que compõe as suas músicas só com o seu rato." A frase pode não ser "de ninguém", mas é o que vem à cabeça quando vemos o que este artista consegue criar num ritmo frenético a partir de pontos de partida muito restritos.
Mickaël C. de Oliveira
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