quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DEAR TELEPHONE - ENTREVISTA

Colocar dilemas de uma vida entre escolher "Revelator" cantada por Gillian Welch ou por Graciela Coelho (e escolher a mais perfeita para quaisquer 5 segundos de um filme independente), ligar um EP e um LP de estreia por mais do que apenas uma canção e ligar pequenas frases, pequenas imagens, com melodias excêntricas. "Taxi Ballad" dos Dear Telephone é um disco que cobre tudo isto com uma atracção proporcional ao tempo que se lhe dedica. Entre o fulgor do lançamento, os sucessos em palco, os aplausos da crítica e um empurrão para um domínio mais apurado da sua própria obra-prima, mata-se mais um pouco da curiosidade que os Dear Telephone despertam.


BandCom (BC): Referem que o nome “Dear Telephone” é inspirado numa curta-metragem de Peter Greenaway, “Dear Phone”. De entre o vosso universo de referências, houve outros nomes possíveis?


Dear Telephone (DT): Sim, surgiram alguns. Mas a escolha foi rápida e decidida, mal nos confrontamos com a hipótese "Dear Telephone". As afinidades com o universo estético e mensagem – ou ausência dela – do filme eram demasiado evidentes.


BC: As recorrentes dualidades nos Dear Telephone – o título do vosso EP, as vozes em diálogo e a sua relevância dentro das músicas ou o minimalismo escolhido para a parte instrumental – são uma sequela dessa película ou são a resposta aos conceitos de comunicação que esse filme aborda?

DT: Nem tanto. O filme funcionou como um ponto de partida, um interruptor, um common ground. Na construção do EP começamos a definir as balizas da nossa linguagem e a pensar já não em fundos conceptuais, mas mais no encaixe entre nós, como autores. A dualidade surge naturalmente como um traço distintivo, talvez fruto das duas vozes e das letras teatrais e sugestivas. A resposta a isto foi uma abordagem instrumental dura e descomplexada.


BC: Acontece-vos imaginarem o que seria uma música vossa encaixada numa cena ou num acto de um filme em concreto?

DT: Claro. Se bem que o contrário acontece muito mais. Temos claramente o objectivo, no médio prazo, de trabalhar com cinema.


BC: Desde a formação e a gravação do EP até agora, que passos ou acontecimentos consideram ter sido mais importantes para o sedimentar dos Dear Telephone?

DT: Primeiro, a oportunidade de tocar imenso ao vivo na promoção do EP, o que nos permitiu reconfigurar algumas ideias e pressupostos. Depois, o parar consciente, a vontade de nos fecharmos pela primeira vez, para preparar o disco. Ainda, a entrada do Ricardo Cibrão e as torrentes de guitarra expressionista que trouxe com ele. Mais recentemente, a edição do primeiro álbum. 





BC: “Taxi Ballad” é uma teia em que surgem à baila nomes como Arthur Russell (cuja influência também está presente no EP anterior), Hank Williams ou Gillian Welch. Em termos de resultado final, até que ponto definir um disco assim como pop/rock poderá ser mais ou menos redutor?

DT: Qualquer definição ou engavetamento desse género é, necessariamente, redutora. Talvez por isso acabemos por preferir designações genéricas e quase inócuas – pop ou rock – que não dispensam a audição do álbum, do que outras, que parecem trazer uma qualquer carga ou posicionamento – como indie ou shoegaze - e que na verdade, dizem mais acerca do que vestimos do que da música que fazemos.


BC: As histórias de “Taxi Ballad” passam por diferentes locais do Mundo. Tendo feito por duas vezes já parte da selecção portuguesa do Music Alliance Pact, sentem que podem estar mais perto de chegar a outros públicos?            

DT: Esperamos que sim. E sentimos que estamos a dar pequenos passos nesse sentido.



BC: Os videoclips a surgirem a propósito deste disco serão o filme que falta a esta “banda-sonora”?

DT: Não propriamente. São uma espécie de celebração do encontro entre a banda e a música com um espaço em particular, imensamente cinemático, onde decidimos expandir – e ao mesmo tempo condensar – o universo estético associado ao "Taxi Ballad".


BC: Quer o “Birth of a Robot” quer o “Taxi Ballad” tenderão a pertencer a um registo mais intimista.  É fácil guardar o que se pretendeu inscrever na gravação do disco e transportá-lo para os concertos?

DT: No nosso caso diria que sim. Principalmente com o material do "Taxi Ballad". Porque precisamente foi pensado para soar live. Gravámos todo o disco em 3 dias. Ao vivo, no entanto, o colorido do álbum estende-se. Entra em jogo uma atitude mais expressiva e promove-se um certo descontrolo, e isto é, na verdade, uma forma de intimidade.





BC: O que recordam da experiência de terem pisado o palco do Optimus Primavera Sound?

DT: Óptima, claro. Foi interessante ainda mais porque os primeiros 4 ou 5 concertos de apresentação do novo álbum ocorreram em espaços completamente distintos. Andámos a saltar do auditório para a sala de concertos mais descomprometida, daí para galerias de arte ao fim da tarde e grandes palcos em festivais. No Primavera correu mesmo bem, estávamos particularmente soltos e satisfeitos.


BC: Quais os próximos concertos dos Dear Telephone?

DT: Há uma série de datas agendadas, um pouco pelo país todo e não só, para o que resta de 2013, a divulgar no início de Setembro.



André Gomes de Abreu




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