quarta-feira, 21 de agosto de 2013

BLACK BOMBAIM - ENTREVISTA

Os riffs atordoadores dos Black Bombaim já tinham, literalmente, seduzido o público do FUSING Culture Experience quando estivemos à conversa com os responsáveis por um dos maiores sucessos a nível musical em Portugal em 2012. Ou melhor, com o baixista Tojó Rodrigues, nos camarins do palco Fusing. Mais uma vez, acabámos por falar de Barcelos, dos festivais Roadburn e do Milhões, mas também do novo disco que aí vem com os La La La Ressonance.
 


BandCom (BC): O que acho muito interessante ao ler entrevistas de bandas de Barcelos é que há lá sempre uma perguntinha sobre a vossa cidade (o que não acontece com Porto, Lisboa e até Coimbra). Porque será? Não vos chateia responder sempre a esta pergunta?

Black Bombaim (BB): Não é chatear, mas cansa porque perguntam sempre "então a cena de Barcelos?..". Eu não sei, para mim é normal: não cresci noutra cidade, mas acredito que seja muito místico aquilo que aconteceu em Barcelos porque ninguém dava nada por esta cidade e de repente surgiram 10 bandas com qualidades acima da média e toda gente fica assim, pasmada. "Ah Barcelos, o que é que se passa ?" É normal meu… a cena é que aqui não há bandas de merda (risos). Não irrita, mas cansa um bocado. Mas também posso perceber essa admiração…se não fosse de Barcelos, também não dava nada por aquilo, mas como sou de lá…

BC: Sentem-se uma referência para outras bandas locais?

BC: Não sei. Já estiveste no Milhões de Festa? Lá em Barcelos há um ambiente super descontraído. Tu vais a um café onde o pessoal pára e toda a gente tem uma banda, não há uma banda referência, não há assim gente a olhar para ti de um modo diferente, é tudo normal. Ninguém muda. Mas sim, algum pessoal dá-nos uma palmada nas costas e paga-nos um fino: "Como é que correu o Roadburn?". "Eh pá, altamente!".
É completamente natural, ninguém olha para nós de baixo para cima. Não consigo explicar…há um ambiente que é muito fixe em Barcelos. Se calhar alguns miúdos que estão a fazer bandas agora inspiram-se daquilo que fazemos mas ainda não os conheço! Mas se os conhecermos, o objetivo não é sermos referências, mas somente amigos.






BC: ..."Como é que correu o Roadburn?"

BB: O Roadburn foi óptimo, foi super cansativo. Fomos para lá de avião, depois de apanharmos um táxi para Barcelos, apanhámos um avião para Lisboa e ainda tocámos lá… O Roadburn sempre foi o nosso sonho desde o início, desde que começámos a tocar. Descobrimos o festival em 2006, na net. Foi espetacular.
No primeiro dia, às duas e meia da tarde, a sala esgotada, bandas do caralho a tocar em todo o lado, correu tudo bem e o ambiente era fantástico. Ficámos grandes amigos dos Maserati e dividimos o backstage com ele. A organização é impecável, o Walter é fantástico.



BC: Estiveram também com os Process of Guilt...

BB: Não, lá está, porque tivemos que ir para Marrocos. Até te digo, já nos encontrámos e desencontrámos várias vezes, mas eu só os conheci na semana passada, no Milhões de Festa. Fui ver o concerto e aquilo é demais, é muito bom mesmo. Primeira vez que os vi. Dei-lhes os meus parabéns, é uma banda que está a fazer a sua própria cena, não há cá mais nenhuma assim em Portugal. Eles têm toda a minha força, merecem.

 

BC: ("Já estiveste no Milhões de Festa?") Fala-nos um pouco sobre a experiência com os La La La Ressonance!..
BB: O ambiente do disco correu bem, foi a primeira vez que tocámos aquilo. O ano passado fizemos [algo semelhante] com os Gnod de Inglaterra e não tínhamos preparado quase nada. Desta vez, ensaiámos, estruturámos a coisa toda, o concerto todo e vamos gravar um disco. Correu bem: é completamente diferente. Não é Black Bombaim, não é La La La Ressonance: eu digo sempre "é Black Bombaim e La La La Ressonance". É um ponto de comunhão e de desunião entre as duas bandas.
 


BC: O que está por detrás do artwork do “Titans” para ir de encontro ao disco em si? 

BB: Aquilo basicamente é um trabalho do André Cepeda, um slide que ele arranjou não sei onde, um flyer dos anos 70, um cogumelo a ser apertado. Aquilo foi feito para o vinil: assim tu vês só a parte da frente e não te diz grande coisa. Mas se tu abrires o vinil vês que são dois dedos a apertar um cogumelo submarino (ou não, não sei se é submarino) e está a sair um pó. Não é que não tenha nada a ver com a música: despertou-nos logo interesse naquele momento, ficámos relacionados com aquilo e dissemos "vamos usar isto". Queríamos impressionar um pouco as pessoas, dentro dessa cena de "me perguntares 'o que é aquilo". O objetivo também era esse, deixar as pessoas nessa confusão. Gostamos disso.




BC: Os vossos convidados em "Titans" já partilharam o palco convosco?

BB: Já o fizemos, claro que não dá com todos. Muitos são americanos, outros (três) não. Mas uma vez fizemos um concerto para o Curtas de Vila do Conde, onde o John Minton, criador visual dos Portishead, criou um filme com vários realizadores portugueses e nós tocámos o álbum completo. Foi a única vez que fizemos isso e convidámos os portugueses que participaram no disco. Às vezes quando tocamos em Lisboa convidamos um ou outro, mas também gostamos de tocar só os três. É a banda!


BC: Ao convocarem muito mais nomes para a vossa música do que até aqueles que vão colaborando convosco, concordam que quanto mais assim é mais fontes de inspiração acabam por ter quando conseguem tocar em palcos tão distintos?

BB: Claro que sim. É sempre um input, pessoal diferente [como] o Tiago Jónatas, que é um gajo que tem um background de hardcore e agora está a fazer música psicadélica. Gostamos de experimentar, explorar o nosso caminho… não gostamos de ser retos tipo "é isto, é aquilo". A música tem muito disso, [de] fazer aquilo que tu gostas naquele momento, porque no momento em que fazes a música para as pessoas e não para ti, aí acabou.


BC: O que te convenceu a participar neste festival? 

BB: (sussurra) O cachê! (risos) Não, por acaso falámos disso logo que nos convidaram, porque foram logo convidadas algumas bandas da nossa editora e dissemos: "ah, um festival só com bandas portuguesas…" Tivemos aquela reação, mas depois quando vimos o cartaz e que tinha lá bandas realmente muito boas…
É na Figueira da Foz, no Verão, ficamos o fim-de-semana todo, viemos com as mulheres, com os filhos, estamos aqui quase a passar férias. O ambiente é fixe, as pessoas também, já tocámos aqui perto mas nunca na Figueira. Mas acho que correu bem!


BC: A "vossa presença" - ou seja, a presença do vosso estilo de música - teria sido possível num festival de música portuguesa organizado há dez anos ?

BB: Não sei (risos), há dez anos tinha quinze… 
Não sei, se calhar não, ou se calhar sim (risos)…Talvez. Não tocamos música propriamente inovadora. O que nós tocamos agora já era bom há dez anos, vinte, trinta, quarenta. Agora, se hoje há público para isso, ainda melhor!

Mickaël C. de Oliveira




0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Facebook More

 
Powered by Blogger | Printable Coupons