sábado, 20 de julho de 2013

AS BANDAS PORTUGUESAS NO OPTIMUS ALIVE 2013

12 de Julho

Com o pórtico de entrada a funcionar, a edição de 2013 do Optimus Alive começou logo com uma banda portuguesa no Palco Heineken – os Quelle Dead Gazelle. Embora fossem poucos os que se apresentaram para a abertura do festival (diga-se, por culpa da hora - cinco da tarde), o público presente tratou de acarinhar o duo. E muito bem, pois Miguel Abelaira (bateria) e Pedro Ferreira (guitarra) são do melhor que a música portuguesa pariu nos últimos tempos. O peso dos riffs salteado com ritmos dançantes que é marca registada do seu primeiro EP homónimo teria chamado mais à atenção e servido melhor os festivaleiros numa hora mais avançada (e, quem sabe, no Palco Optimus Clubbing) Regista-se também com pena o pouco tempo de antena dado: cerca de 20 minutos que, ficou a impressão, não permitiram à banda vencedora do Festival Termómetro concluir o seu alinhamento e precipitaram a despedida. Surpreendentes e dignos de exportação.





Por falar em exportação, foi com outro duo português que se fez um dos momentos mais sublimes deste primeiro dia. Os Dead Combo que, depois de aparecerem no programa culinário de Anthony Bourdain sobre Lisboa e consequentemente entrarem no Top 10 do iTunes americano, conseguiram, finalmente, atrair uma base de público mais generalizada dentro de portas e fizeram as delícias de todos os que não se preocuparam em guardar um lugar para ver os cabeça-de-cartaz Green Day. Tó Trips e Pedro Gonçalves prestam contas ao fado sem esquecer o rock e, com o seu concerto, como sempre, irrepreensível na execução e finalizado com a grande “Lisboa Mulata”, deram o pontapé de saída para uma noite que, para muitos, seria quase totalmente passada nos "palcos secundários" - estavam ainda para vir os grandes concertos de Edward Sharpe and the Magnetic Zeros e Vampire Weekend.

13 de Julho

Mais uma vez, o segundo dia do Palco Heineken abriu com uma banda portuguesa: os Boca Doce, vencedores do Oeiras Live Act. As duas primeiras músicas, versões de clássicos do rock português, não motivaram especial interesse apesar da boa disposição e entrega em palco instaladas. Na saída para o palco Optimus Clubbing, assistiu-se a um óptimo concerto de uma banda que, não sendo portuguesa, tem vocalista português: Tiago Sa-Ga. Os Time for T foram, por isso, uma das boas surpresas deste festival com um som que faz lembrar um sem número de bandas, desde Little Joy aos próprios Beatles, e consegue ao mesmo tempo trazer algo de novo.

Os Oquestrada abriram as hostilidades do segundo dia no que ao Palco Optimus dizia respeito. É sempre bom ter um toque de música com "raízes verdadeiramente portuguesas" num festival que traz tanta gente de fora e devia ser obrigatório por lei. Os Oquestrada cumpriram bem o seu papel e, apesar de se terem apresentado perante um público na sua maioria não propriamente orientado para a world music, arrancaram aplausos e agradaram. Um pé no fado e outro no Mundo é o que ocorre ao pensar na sua sonoridade: a guitarra portuguesa de Lima tocada de forma pouco convencional e a contrabacia de Pablo dão características únicas ao som que a voz de Marta Miranda sabe potenciar. A genuinidade e descontração são também parte de uma "imagem de marca" que se fez notar quando Marta Miranda arrancou alguns sorrisos ao pedir “podem parar com os fumos?” que, lá atrás no palco, estavam a deixar mossa na garganta da cantora. Uma boa festa, onde ouviu-se o novo single “O Teu Murmúrio” e revisitaram-se êxitos como, entre outros, “Oxalá Te Veja” ou “Se Esta Rua Fosse Minha”.





Mas houve mais festa com música cantada em português, e que festa. Os Capitão Fausto, uma das bandas do momento no rock português, tocaram no Palco Heineken entre os Editors e os Depeche Mode, duas das grandes atrações do dia no Palco Optimus e ainda ao mesmo tempo que Flume no Optimus Clubbing. A plateia, muito bem composta neste contexto, é mais uma prova de força da banda que já tocou noutros festivais como Paredes de Coura, o Super Bock Super Rock ou o Festival Bons Sons com apenas um álbum editado, “Gazela”. O segundo já está na forja e foi possível ouvir um pouco do que aí vem: a nova “Célebre Batalha de Formariz” foi um dos pontos altos do concerto, juntando-se a “Teresa”, “Santa Ana”, “Febre” ou “Sobremesa”, no meio do “moche” gerado nas filas da frente provocado pelo apelo da banda à vibração de corpos. Num dos poucos concertos com encore neste Optimus Alive, “Verdade” encerrou o caso. Quanto ao crowdsurfing, o concerto do dia seguinte dos Django Django seria o encore para a própria banda. 
No coreto da Red Bull Music Academy Radio, os Throes + The Shine foram um dos segredos bem guardados num dos cantos do recinto. A fusão entre o rock e o kuduro que já se lhes conhece deixou boa impressão e pôs toda a gente alegre e a dançar.Num segundo dia que foi o dia com presença mais forte de bandas portuguesas, o Palco Heineken estava reservado para Paulo Furtado vestir a pele de lendário homem-tigre e incendiar a hora da meia-noite, num daqueles concertos que se quer ver de princípio a fim. Perante uma plateia praticamente cheia, The Legendary Tigerman deu espectáculo, como é seu apanágio, tocando vários temas daqueles que marcam a sua já longa carreira com quatro álbuns, o último dos quais “Femina”, altamente aclamado. Havia a responsabilidade de dar continuidade ao festim que Jamie Lidell havia montado no Palco Heineken para responder aos que encontravam alguma monotonia e/ou distanciamento no concerto dos Depeche Mode. Os blues selváticos trataram do assunto: Paulo Furtado perguntou quem gostava de rock n' roll, o público respondeu com ânimos incendiados. “Naked Blues” ou “The Saddest Thing to Say”, com a participação virtual de Lisa Kekaula, desfilaram noite dentro e serviram como injecção de energia a muitos dos que já sentiam no corpo o cansaço de dois dias de festival. Acutilante, nunca cansa e podia ser um fenómeno mundial se promovido à escala… mundial. Esperamos por esse dia e esperamos também pelo álbum que está para vir de um homem (quase) só que muita gente fez mover.





14 de Julho

Os vencedores do Hard Rock Rising, os Capitão Ortense, reuniram uma pequena multidão para os ver no Palco Heineken. Rock clássico, cantado em português, que conseguiu trazer um bom ritmo a este início do terceiro dia de festival que assim faz parte do seu caminho de evolução na qualidade e que demonstra um Ricardo Mendes como um guitarrista de técnica exuberante.

Às seis horas da tarde, o Palco Optimus era dos Linda Martini que, a comemorar dez anos de carreira e a lançar um novo álbum, o seu terceiro, são uma das bandas mais importantes no panorama do rock português. Com uma legião de fãs fiel que ocupou as primeiras filas Hélio Morais resumia assim a relação de muitos anos: “Fora de merdas, os anos passam e vocês continuam aqui e isso é muito bom”. De facto, os Linda Martini estão aí para durar e prova disso foi que o novo single “Ratos” foi mesmo um dos pratos fortes de um concerto intenso, como não podia deixar de ser, muito embora não colham uma particular preferência por quem escreve estas linhas.





Se os Linda Martini são um valor confirmado, os Brass Wires Orchestra procuravam o seu lugar ao sol e surpreendiam pouco depois no Palco Heineken. Primeiro, pelo público que conseguiram atrair mesmo sendo uma banda relativamente recente, e segundo pelos ecos da família do folk bem trabalhados com uma boa voz a condimentá-los e que inevitável e invariavelmente chegam ao apogeu quando entram em cena os sopros de metal com o coração nos Balcãs. Muitas vezes comparados com os Mumford and Sons ou Beirut, a banda conseguiria marcar uma posição de relevância superior na música nacional, na opinião deste que conta, se cantasse em português e aproveitasse a ausência de uma memória de bandas a cantar em português que conjuguem de forma tão eficaz os inúmeros instrumentos que tocam e a sua presença forte ao vivo. Assim, a banda corre o risco de se confundir com aquelas que parecem ser as suas principais referências: de qualquer forma, sobra um produto nacional passível de exportação bem-sucedida, aprovado por larga maioria que os viu, e que Lá tocar tocam eles, o público do Optimus Alive aprovou por larga maioria. chegue então "Cornerstone", o registo de estreia.

No Optimus Clubbing, entrava em cena pouco depois das oito Blaya, MC/bailarina dos Buraka Som Sistema que apresentou o seu EP de estreia a solo num dos últimos concertos da participação portuguesa no Optimus Alive que fecharia mais tarde com João Vieira, dos X-Wife, ao vivo com White Haus. Numa recta final de terceiro dia sem misericórdia com Tame Impala, Phoenix, Alt-J, Band of Horses, Django Django e muitos outros artistas do resto do Mundo, diz que passaram pelo Passeio Marítimo de Algés cerca de 150 mil pessoas. Com cartazes assim...




Bernardo Branco Gonçalves




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