quinta-feira, 20 de junho de 2013

SUN GLITTERS @ LE TAMANOIR PARIS, 15/6/2013 - REPORTAGEM



Depois de ter atuado em Clermont-Ferrand no festival Europavox, no cada vez mais hypado Nouveau Casino (onde o BandCom o entrevistou) e noutras salas francesas, Sun Glitters arriscou e apostou desta vez no espaço Le Tamanoir em Gennevilliers, pequena sala situada no bairro do Luth, a uma dezena de minutos de Paris.
Para quem não conhece, convém explicar um pouco a situação geográfica do evento e relembrar algumas curiosidades a propósito do público parisiense. Para começar, é raríssimo vermos esse público sair do seu casulo. Não estou a falar de um casulo dourado, porque esse pessoal também enche as salas das "zonas mais pobres" da capital. O problema é que não se atravessa a fronteira de qualquer maneira. Isto é, se já é complicado convidar um amigo parisiense a sua casa (a 10 minutos de Paris), muito pior será fazê-lo quando se mora num bairro dito "sensível" dos subúrbios.
Poderá ser esta uma das razões que levou tão pouca gente (somente trinta pessoas, mais ou menos) a assistir a este Black Reverse com nomes como Arnaud Rebotini, Örfaz para além de Sun Glitters. Ou talvez ainda as arestas do conflito que incendiou a zona em 2011, entre os bairros do Luth e de Fossé-de-l’Aumône de um lado, e os de Courtilles e Mourinoux do lado da cidade rival Asnières, apenas separados por uma avenida e uma estação de metro.

O certo é que não estava à espera de um ambiente tão familiar e acolhedor. Nem de uma sala com belíssimas condições e uma equipa técnica bem preparada. Pelas 2h, dançou-se ao rítmo do dubstep dos Örfaz, perfeito para acordar os mais reticentes.
Não chegam claramente à brutalidade e à fúria de um Benga – e faço esta comparação porque soube mesmo bem passar de um concerto do inglês para o do Sun Glitters no Europavox – mas deu para aguentar até às 3h30 para ouvirmos mais uma atuação do lusodescendente nascido no Luxemburgo.

Notou-se a ausência de alguns dos maiores êxitos do artista, como "Feel It" ou "Beside Me", ou até da minha preferida, "Love Me". Mas como é óbvio, têm de ser feitas algumas escolhas no momento de criar um set de uma hora e acredito que algumas delas não foram mais fáceis do que quando nos perguntavam se gostávamos mais da mãezinha ou do papá. Até porque neste concerto já deu para serem experimentados ao vivo temas que saíram já em 2013.

E tudo começou com "Tight", numa versão mais alongada e detalhada, numa conquista degrau por degrau do auditor. Alguns perguntavam como é que isto se dançava: fiz que não entendi e olhei para um rapazinho que se arqueava muito. Voltei para os sonhos e acho que mais ninguém fez essas perguntas.

O certo é que sentíamos o ritmo acelerar, a batida a redobrar de intensidade e a viagem ser longínqua e incoerente, perdidos num limbo que nenhum cientista descortinou. Entrecruzaram-se então "Tight" e "A Dragonfly in the City", numa mescla que nunca se pensara ser assim tão simples, tão possível. Através desse tema já old school, abrimos desta forma os braços ao primeiro tema do aclamado "Everything Could Be Fine", primeira grande obra de Victor Ferreira.

A terceira música, "Find Your Way", sugeria o descobrimento do nosso caminho, não se sabe bem qual, não se sabe bem quando, mas nada nos obrigava a seguir as ordens. Como para os vídeos que iam passando por trás do artista, que até quase deixaram de funcionar a um certo momento. Problema? Não: é tudo uma questão de ver se preferimos ver um concerto com imagens sugeridas ou com projeções da nossa imaginação.

Depois de todas estas perguntas terem serpenteado no cérebro de cada um, "After Eight" começou a espreitar, talvez a que menos funciona ao vivo. Mas, como adoro opostos, só poderia ser de aplaudir a decisão do artista de cobrir com "Too Much To Lose" a música precedente. As poucas pessoas presentes na sala ganharam um novo fôlego e continuaram a dançar, cada uma à sua maneira, e a euforia continuou com "The Wind Caresses Her Hair", ao mesmo tempo que percorria todos os nossos pêlos e os eriçava. Aos poucos, surgiu o novíssimo "Mouth" que nos beijou lentamente, sedutor. As vozes fantasmagóricas ajudaram os nossos pés a elevarem-se, guiados por esse elemento alienígena impossível de identificar. "Snowfall" levou-nos claramente para outras paragens, bem mais puras, virgens, raramente exploradas, entre o Alaska e a Escandinávia.

A batida voltou a acordar-nos em pleno sonho e desvaneceu-se enquanto os nossos olhos se fechavam novamente, num momento de "entre-dois" a planar. E "Forward and Reverse", novíssimo tema, mais uma viagem onírica cheia de esperanças, de irrealidades transformadas no momento em atualidade, com "Insane" descascada até chegarmos ao núcleo duro, ao epicentro, e ouvirmos o renascimento.
Pensou-se então que era essa a música que nos ia cuspir em plena face a dureza deste mundo mas não: "Everything Could Be Fine" espalhou na sala as últimas mensagens repletas de ondas positivas e chegou-se a casa com os olhos a brilhar - apesar de só ter bebido uma cervejinha.



Mickaël C. de Oliveira




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