segunda-feira, 10 de junho de 2013

OPTIMUS PRIMAVERA SOUND 2013 - DIA 3

Dia 3 do Optimus Primavera Sound.
Havia cansaço, havia menos frio e havia a vontade amarga de fechar um festival de 3 dias que pareceram quase uma semana.





Com João Vieira que ficara do after-hours em que esteve como White Haus, os The Glockenwise puseram a melhor face do garage-rock que sabiam e, embora muitas vezes no mesmo registo (olá Black Lips), tornaram o palco Super Bock muito mais agradável ao final de tarde. "Leeches" parece continuar as pisadas de "Building Waves", o quarteto de Barcelos dá-nos mais e mais canções do calibre da canção-título do seu segundo longa-duração e de "Bad Weather" e "Scumbag", de "Building Waves", é mesmo já um clássico. Tudo o que não foi música foi para estrangeiro ver e ainda bem: os The Glockenwise serão sempre mais eficazes agindo e actuando.





Os australianos The Drones tinham uma quantidade de público q.b. para assistir ao seu concerto e isso é fácil de se explicar: existe qualidade. Porém, ao vivo, menos do que em estúdio e foi sobretudo isso que marcou o concerto. Não que fosse um mau concerto, porque não o foi, mas foi meramente razoável. Sobretudo para quem gostou tanto do último disco dos contingentes de Tame Impala ou Nick Cave & The Bad Seeds. Mas o público gostou e muitas gentes das filas dianteiras não resistiram e fartaram-se de abanar a cabeça ao som do blues-rock bem trabalhado dos The Drones.






No palco ATP, os PAUS, perante uma considerável multidão, continuaram a justificar o seu elevado ranking em solo nacional e também na edição de Barcelona do Primavera Sound. Com algumas novidades em relação a arranjos de concertos anteriores, o super-colectivo ganhou pontos festivaleiros sobretudo nas piscadelas de olhos ao EP "É Uma Água", embora as infalíveis e estivais "Descruzada" e "Deixa-me Ser" já sejam porta-estandartes de uma nova vaga de discos e bandas que estão preparadas para conquistar além-fronteiras. "Não sei se já repararam que falamos português", coisa séria com que brincaram, tão séria como o apreço que receberam no final de tamanha dose psicadélica de tribalismos rock tão crus.





Os Dinosaur Jr. tomaram conta do recreio no palco Optimus e em boa hora. O magote que os recebeu tinha várias caras conhecidas lá pelo meio que esperavam por rock amadurecido e pronto a servir. Com belíssimos hinos - "Rude" e "Budge" em claro destaque -, a banda de J Mascis e Lou Barlow não desapontou absolutamente vivalma. Não está aqui em causa só a sua habilidade em criar discos repletos de temas que os colocam no pedestal mais alto do dito rock alternativo americano original: "Just Like Heaven", a cover dos The Cure que não dispensam a cada alinhamento, é uma das melhores versões de sempre, afagando com raiva toda a mestria do uso da distorção que dispensa qualquer sintetizador. Para o final ficariam reservados os clássicos "Sludgefeast" e a versão de "Chunks", dos Last Rights, com um Damian Abraham (dos Fucked Up) mais vestido que o habitual a estabelecer um dos melhores concertos de todo o festival.





Foi pena o pouco tempo que passámos com o indie-rock certinho dos intemporais Sea and Cake, mas pela quantidade de público, os Explosions in The Sky que estavam para chegar não eram uma ameaça.





Depois do cancelamento na edição de 2012, os Explosions in The Sky começaram a actuação já deixando saudades e deixando que o passar do tempo fosse um sofrimento para a vasta audiência que não os queria deixar partir. Toda a noite não seria suficiente para algo totalmente satisfatório, mas dentro do tempo que tiveram e das faltas de material assinaladas, os texanos não desiludiram, apesar dos receios que ainda sobram de que o término de "The Only Moment We Were Alone", com que o concerto fechou, seja responsável pela maior parte das boas recordações desta actuação. A meio caminho entre os silêncios construtivos dos Mogwai e a fragilidade dos Sigur Rós, é inegável que os Explosions in the Sky têm o repertório e a perícia que influenciou directamente muitos dos projectos que vamos conhecendo da área do post-rock pós-00. Há até um ligeira vibração emo naqueles acordes longos e entrelaçados que se degladiam entre si como o Outono arranca folhas às árvores, como as rosas perdem pétalas. "Olá, nóis sómos explosões nô Céu", disseram: no final, havia gente feliz num poço de lágrimas.
 





Por diversas razões, a tenda do palco Pitchfork teve uma enchente para ver as Savages ao vivo. Para quem  fizera uma correria desde o palco Optimus, ainda apanhou parte das canções da estreia "Silence Yourself". Revitalizar a austeridade gótica e pós-punk deu-lhes, surpreendentemente, um hype monstruoso; nem se renegam as influências de Siouxsie nem de Ian Curtis em Jehnny Beth, mas seja ou não pelo facto de querer pertencer a um movimento quase perdido e irrepetível, a audiência dá-lhes todo o apoio. Como poderia não ser assim quando as canções, como "She Will" e "Waiting for a Sign", são muito acima da média? Quando há realmente uma aura de ligação público-artista que é assim tão primitiva e emancipada? Ao nível a que estiveram, são claramente uma das revelações deste Optimus Primavera Sound.



 


Ponto prévio: não somos de fanatismos. Independentemente do seu papel reconhecido no cimentar da estética do shoegaze, os My Bloody Valentine seriam o concerto da vida de muitos dos presentes. Não se esperava é que fosse o concerto da vida de quem já os tinha visto ao vivo, que fosse a razão para que tudo no Mundo fosse naquele momento como era. Com os tampões nos ouvidos, parecia que havia pausas extemporâneas para analisar as vozes que não se ouviam (olá shoegaze), as guitarras em delírios febris (olá, novamente, shoegaze) e, claro, a trepidação invulgar de quem faz música fazendo da distorção e do volume aliados tão fortes como os teclados que surgiram a certa altura na sua música. Ah, claro, "problemas técnicos". Podendo existir tudo isto, restaria a capacidade de estar ali em corpo ou não. Confirmada a primeira opção, foi tudo absolutamente sublime. Embora sendo mais perceptíveis, logicamente, em "New You" (uma das melhores canções pop de todos os tempos e estamos a falar de uma banda em que "m b v" é o disco mais recente e a sua discografia é irrepreensível), as vocalizações angelicais e deslumbrantes ligavam-se a um Colm Ó Cíosóig diabólico numa aventura sensacionalmente punk (só o facto de "You Made Me Realise" constar no alinhamento rebentava com a escala, quanto mais os 5 minutos ininterruptos de pura agressão aos amplificadores), sensacionalmente sonhadora (só o facto de o concerto começar com "I Only Said" rebentava com a escala), sensacionalmente rock em que aquelas projecções caleidoscópicas eram um elemento também fundamental. A despedida de Kevin Shields fez-se com um simples "Thank you, bye", como se nada se tivesse passado.





Dejà vu da noite anterior, os Titus Andronicus tiveram o azar de tocar ao mesmo tempo da banda que mais gente tinha a assistir, perante uma plateia meio vazia, e de se valorizarem como uma alternativa credível. Meio a medo perguntaram se alguém já tinha ouvido falar neles e a plateia, tal como na noite anterior, mostrou-se pronta a responder. Quando se abandona um concerto dos My Bloody Valentine, a expectativa pelo que aí vinha tornava-se enorme. Desta vez, ao contrário dos Hot Snakes, quando a banda terminou a primeira música, com um som que começou baixo e meio tímido, esta mostrou-se bastante surpreendida e grata por haver pessoas que os tinham escolhido. Pela forma impaciente como o público puxava pela banda, não se tardou a gerar uma das maiores festas deste festival. Com uma setlist que incluía apenas duas musicas do aquém das expectativas “Local Business”, o colectivo de New Jersey afinou pelas músicas que lhe garantem lugar entre uma das melhores dos últimos tempos. Com uma entrega devota à enorme e quase perfeita “Battle Of Hampton Roads”, estava tudo ao rubro - na hora de despedida o publico entoava em voz alta e quase autoritária “you allways be a looser” -, meio a pedido de encore, meio louvando o niilismo e a voz de algo que tanto faz e fez sentido. Mais punks e avassaladores que muitos, os Titus Andronicus deram aquele que foi um dos melhores de todo o festival.





As alternativas criadas, propositadamente ou não, para a dose de My Bloody Valentine incluíram também os Fucked Up, cheirando a final de festa antecipado e com ouvidos ainda em recuperação. Quatro palcos recheados de programação cuidada, nunca descurando o produto nacional, não nos permitiram grandes aventuras gastronómicas (como o festival estava em condições de oferecer) e muito menos acudir a todos os focos de interesse. Elogios ou críticas? Guardem todos e assegurem a vossa presença para ver os Neutral Milk Hotel e muitos outros, a conhecer até mais para o final do Verão segundo a organização, em 2014. Combinado?




André Gomes de Abreu

Agradecimento especial a Emanuel Graça, editor-geral,
pelas palavras prestadas sobre os The Drones
e a Luís Julião pelas palavras prestadas sobre os Titus Andronicus




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