segunda-feira, 10 de junho de 2013

OPTIMUS PRIMAVERA SOUND 2013 - DIA 1

Chegara o último fim-de-semana de Maio, aquele em que o Porto era a capital da segunda edição do Optimus Primavera Sound pelo segundo ano consecutivo. Sem ameaça de chuva, a cidade começava a encher-se, sobretudo, do espírito de um festival tremendamente voltado para o seu público, ávido de novidade. A representação nacional estava assegurada pelos Memória de Peixe, Dear Telephone, The Glockenwise, PAUS e pelos Mão Morta, que à última hora iam ocupar o lugar deixado vago na programação por Sixto Rodriguez que cancelara a sua actuação.
O dia 30 de Maio não contava com bandas portuguesas, estando todos os concertos estavam concentrados nos palcos Optimus e Super Bock e isso permitia montar da melhor forma o ambiente pretendido para o resto que viria. 






Os americanos Wild Nothing seriam os segundos a pisar o palco Super Bock, o primeiro concerto a que poderíamos assistir. Embora o EP "Empty Estate" ainda esteja fresco, foram as canções de "Nocturne", longa-duração anterior, que agitaram principalmente o público e que o envolveram, mais uns menos outros, na teia de sons justificados pelas bolas de sabão que voavam e pelas camadas de sintetizadores que se sucediam. Os concertos da noite estariam para chegar, mas Jack Tatum e companhia fizeram bem por lembrar que seria melhor jantar mais tarde e que a felicidade dos sonhos melódicos "Live in Dreams" e "Ride" era real.







Por volta das 21h, os noventas diziam-nos olá. Eram os Breeders, banda fundada pela quase icónica membro dos Pixies, Kim Deal, a interpretar na íntegra o seu trabalho mais conhecido da sua vasta discografia, "Last Splash", de onde foram retirados singles que andaram quase por todo o lado, como "Cannonball". O concerto cumpriu as expectactivas que haviam sido criadas e foi absolutamente divinal; embora já tenham passado vinte anos desde o lançamento do dito LP, há toda uma frescura em torno da sonoridade excitante da banda das irmãs Deal. Além disso, o encanto e a simpatia de Kim também é um trunfo que pesca sempre as atenções: disse-nos primeiramente “Boa Noite” e depois despediu-se com o já habitué “Muito obrigado”. Mas quem tem de agradecer somos nós.
   




Lisa Gerrard e Brendan Perry, os Dead Can Dance, dividiam estranhamente apetites, mais ou menos enviesados por um certo neo-classicismo que perpassa pela sua discografia que nem a presença pelo mítico catálogo construído pela 4AD ao longo das últimas décadas alivia. Tal como no concerto anterior, e mesmo tendo o duo chegado com uma sala esgotada do Coliseu dos Recreios no currículo poucos dias antes, haveria sempre sobretudo duas formas distintas de caracterizar este concerto: uma tentativa falhada de um último acesso de condescendência e de supressão de experiências auditivas/visuais anteriores ou a constatação de um regresso fiel ao passado e que ainda tem pertinência em 2013, recheado de vozes e instrumentais que fazem da música do Mundo, do rock do Mundo, aquilo que ele deve ser visto de uma maneira apurada e arty. Nota de rodapé: a cover de "Song to The Siren", entre o extraterrestre e o inóspito.





Entre o folguedo e a ebriez, Nick Cave regressava a Portugal depauperado de alguns dos míticos elementos dos Bad Seeds (Mick Harvey e Blixa Bargeld) mas com Barry Adamson de regresso. Se já as perspectivas era de um concerto de uma vida, no final o alinhamento e a atmosfera trouxeram um concerto maior do que a mesma. Sem vergonhas, o concerto arrancou e encerrou com três das músicas do novo "Push The Sky Away", mas foram os clássicos como a versão imortalizada de "Stagger Lee" (e com injecções de ironia e provocação feroz à maquinaria móvel que está nas mãos de quem deveria sentir o pulso a um dos ícones de gerações e gerações), "Tupelo", "From Her To Eternity" (uma das imensas subidas ao lugar mais perto do público que as grades permitem) e "The Weeping Song" que suportaram o ímpeto de "Jubilee Street", já um dos clássicos da turma de canções de 2013. A experiência de absoluta catarse e evisceração que remonta ainda aos tempos dos Birthday Party confundiu-se com um performer extraordinário e exuberante a conquistar o respeito, palavra de epígrafe no silêncio da final "Push The Sky Away". Há hashtag para "LOOK AT ME NOW"?   






As saudades de uns headphones e das canções de "Microcastle" e de "Halcyon Digest". Os Deerhunter, ao contrário de Bradford Cox como Atlas Sound, não são melhores ao vivo do que em disco e o Festival Paredes de Coura acolheu-os da última vez com esse resultado. Depois de uma primeira parte de concerto absolutamente desinteressante (spoiler alert: para quem concordar, "Monomania" vai ser assim), algumas das linhas-mestras de "Halcyon Digest" como "Desire Lines" e "Memory Boy" conseguiram assegurar o mínimo dos mínimos, o que para um festival apontado como "o melhor de todos" pela cara principal da banda, não seria o suficiente, nem mesmo para os que deveriam transportar a audiência de Nick Cave a James Blake, dois objectos fortes da programação, muito embora por razões diferentes. Vamos sublinhar todos os efeitos nefastos da palavra "fofinho".





Antony e poucos Johnsons? James Blake, uma banda reduzida e máquinas à volta? Ok, ouve-se a voz (as vozes?) de "CMYK". Ao contrário dos Deerhunter, um concerto de James Blake é, nada mais nada menos, uma pequena réplica do seu processo criativo. Maior interesse e curiosidade não poderiam ser gerados. Olhando para a audiência, percebia-se que este era um concerto com novamente uma franca dose de expectativa, pelo conhecimento e pelo apreço muitas vezes fora do ponto de equilíbrio. Fugindo a pérolas como "Lindisfarne" ou "Life Round Here" e "Take a Fall For Me" do mais recente "Overgrown", o compositor inglês percorreu com sucesso os seus dois longa-duração e espreitou alguns dos seus EP, deixando marcas na sua ambição escondida em "Digital Lion", uma "Voyeur" que faz jus aos seus altos padrões de hipnotismo e ultrapassando a alta velocidade o seu pai em "The Wilhelm Scream". Se "I Never Learnt to Share" suga todas as formas de alimentar a fragilidade das letras e a segurança das opções estilísticas, num intercâmbio sedutor entre (pós-)dubstep arrancado ao melhor da cena underground do UK e puro instinto soul, "Retrograde" foi a pedra de toque daquela que para alguns terá sido ainda uma melhor forma de encerrar o dia de concertos do que com Nick Cave.




André Gomes de Abreu

Agradecimento especial a Emanuel Graça,
editor-geral pelas palavras prestadas sobre os Breeders




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