Drunk Robots é um projeto a priori antonímico criado em 2011 no
Algarve. Perfurando melhor a coisa, e à medida que as sonoridades de "We Are The Drunk Robots" vão enchendo os nossos ouvidos, passamos para outro
palco de compreensão. Drunk Robots cheira a música de intervenção. A denúncia
do mundo das máquinas que se transveste para melhor nos seduzir, para melhor nos
conquistar. Mas lá está, nem as próprias conseguem sobreviver à força
de emoção dos seres humanos. O problema foi terem levado de nós o estado da
embriaguez.
Quem são eles, de onde são ? "We Came From The Sun",
respondem eles, maquinalmente, num misto de cena introdutória, de
aterragem solar e de instalação no seio da nossa Terra. Aéreos, apaziguadores,
instalam a confiança e ancoram-na no chão. Embebidos por esse leque de luzes
cegantes, apertámos-lhes as mãos sem imaginarmos as consequências. É ao
ver "Ants Moved To Our Kitchen" que
sentem o açúcar abandonado ou as almas sem vida, que a desconfiança tomou conta dos
que sempre viram na lucidez a resposta mais sólida. O som escuro, riffs desleixados, a batida mecânica,
sinal de maus agoiros. Libertam-se os violinos, acrescenta-se o épico, a
conquista da paz, ou melhor, do fim da guerra.
Depois do sol veio a chuva, mas ela não interrompe a festa. Semeia de novo a confiança para acalmar os últimos
guardas da relutância, à base de novos ritmos, de novos sons dark e dançantes, fúnebres.
No lado dos autómatos conversa-se sobre o
distanciamento, a suspeita, o receio ( "Be Careful With Those Humans"). É preciso repensar a lobotomização,
as peripécias, organizam-se planos e esquemas, cochicham-se maquiavelismos. Aliam-se
às máquinas já existentes, alinham-se nas regras delas em "Next Train In 4 Minutes". A espera da viagem, do espalhamento da mensagem,
do caminho do progresso. O fim em suspenso, sobem-se dois degraus,
penetra-se: um robô dentro de outro.
A viagem do progresso pára em "Assembly Line". Apoderou-se fisicamente
dos homens: estes já não controlavam as máquinas, elas confeccionavam-nos.
Os sons apropriaram-se desses experimentalismos, eletrizou-se o mundo.
Cansados, desconetados da realidade, em "We Went For A Late Night Swim" surgem musculados, mais preparados para no dia
seguinte aguentarem melhor, mesmo que o som agudo que se ouve lembre um coração
a bater que nunca pareceu tão desumano. Quase nove minutos em homenagem ao fim
da humanidade, à entrega dos nossos corpos à maquinação de todos os elementos
naturais.
Uns pensam que apenas foi um pesadelo; a verdade é
que regressa "We Went For A Night Swim" já menos
volumoso, mais "aceitável", com apenas três minutos de duração. A dor é menos
intensa, está a caminho de não mais existir. Questionam-se os sentimentos: será que ainda permaneceu a amizade? "Some Noise For A Friend" é a procura por uma resposta.
Nada mais são que simples
cérebros descerebrados, de pequeno tamanho, mas juntos, o espalhafato que criam não é nada mais nada menos que um "Struggle of A Bean", de tentativas
esbarradas numa incapacidade feroz, cansadas pela transformação de tudo e de
todos. Na altura de rezar por
eles, de rezar por nós: "A Small Pray To Holy Chip". Enterraram-se
os protestos, o manto negro cobriu as últimas vozes, e em "Sunday's Last Cigarrette", no último fumo esvaiu-se a
alma.
Talvez seja por isso que quem está por
detrás deste projeto nunca deu a sua verdadeira identidade. Por sentir que brincar com consciências artificiais é sempre perigoso, porque temos sempre de lhes
inculcar a humanidade que não possuem. Num panorama mais global, "We Are The Drunk Robots" é uma denúncia
do nosso estado perante a descaraterização de tudo e de todos. Uma mensagem
portanto demasiado panfletária para o autor divulgar a sua identidade. Assim vi as coisas, numa escrita alucinatória que não quer ser desconstruída, de
quem procura compreender a música eletrónica interventiva e analisá-la...num computador.
Mickaël C. de Oliveira
0 comentários:
Enviar um comentário