Line-Up quase cheio, em mais uma etapa da Restless Tour. Chamam “todos cá para a frente, que isto não é a missa”, e a noite pode começar, num concerto com um conceito interessante, em que Sam Alone e os músicos que o acompanhavam se desintegraram de quando em quando, transformando-se em Fast Eddie Nelson, The Fellow Man e Roy Duke, cada um no seu registo particular.
O concerto
começou com alguns problemas de som (o facto de se ter arranjado um espaço à
pressa, com o fecho do Ritz Clube, fez-se notar). Guitarras demasiado
estridentes e distorcidas para o conceito acústico apresentado, colunas a picar
e voz escondida chegaram a assustar, mas felizmente acabou por se resolver, e a
maior parte do concerto acabou por se realizar com um som razoável.
O ambiente
acústico presente em Sam Alone ia
sendo interrompido por solos rasgados e agressivos de Fast Eddie Nelson (alguns, e friso, alguns, a meu ver exagerados).
Poli (Sam Alone) esteve impecável. Ele que, claramente com influências folk, blues e rock n'roll, tem uma voz especial neste registo, quase
como se a essência da sonoridade do hardcore
na sua pujança e entrega fossem transferidas, ainda que subtilmente, para Sam Alone, fundindo-se em alguns
momentos de arrepiar os cabelos.
Quando
chegou a vez de Fast Eddie Nelson se
apresentar, numa figura que faz lembrar Jack Black (mas com melhor voz),
sozinho com a sua guitarra, fomos automaticamente transferidos para os "States", em qualquer bomba de gasolina
abandonada na "Route66". Incrível voz, rouca,
grave, e potente, misturando ZZTop com
espirituais americanos, e fazendo-nos mergulhar num som tão jocoso como
profundo, tão sarcástico como espiritual, numa guitarra tão agressiva como
embalada. Embora as influências sejam evidentes, a qualidade também o foi, e
não se assistiu a uma mera cópia de clichès
americanizados, mas sim a bastante originalidade criada por cima de uma
atmosfera já bem conhecida.
Roy Duke
deu-nos rockabilly e subiu as BPM, fazendo o público dançar, enquanto The Fellow Man com uma voz pequena mas
afinada apresentou o registo, a meu ver, mais
desinteressante e com menos originalidade da noite, tirando algum ritmo ao
concerto. De facto, The Fellow Man, um registo mais calmo e intimista, teve a difícil tarefa de aguentar sozinho um concerto que já ia
embalado por Sam Alone, tendo-se começado a certa altura a ouvir um murmúrio
desconfortável no público. As músicas têm qualidade é certo, são bonitas, vê-se que são feitas com
dedicação ao pormenor, mas não têm a emoção de Sam Alone nem o carácter e rouquidão de Fast Eddie Nelson, mesmo a
nível de conteúdo.
No final fomos presenteados com "Darling" de Bob Marley, um grande "cover",
num registo folk/reggae, e alguns
convidados de Sam Alone e companhia a
tocar e cantar, confirmando uma noite bem passada, 28 músicas e um concerto
informal, com muita proximidade do público, que também esteve muito próximo dos
músicos.
Hugo Hugon
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