O
dia 1 do Warm Up Vodafone Paredes de Coura infelizmente não esteve à
altura do nome do festival que inaugurou.
Os
Capitão Fausto tiveram honras de abertura e o público, ainda
bastante esparso, pouco reagiu à sua actuação. O seu som, já com
bastante airplay nas rádios mais alternativas, é interessante,
jovem e fresco, pelo menos nas 2 primeiras músicas. A partir da 3ª
música, aos nossos ouvidos sucede o mesmo que ao olfacto quando
exposto demasiado tempo consecutivo ao mesmo mau cheiro: ficam
anestesiados. As músicas tornam-se repetitivas, com alguns
contratempos e umas digressões intermináveis nas teclas, combinadas
com umas letras pseudo-irónicas e completamente vazias.
O
resto da actuação transformou-se numa longa e interminável mescla
de tédio e ansiedade pela banda seguinte, que a falta de empatia da
banda com o público não veio ajudar.
Seguiram-se
os britânicos Veronica Falls. Com um hype considerável por essas
redes sociais e um álbum novo Waiting For Something To Happen recém lançado pela Bella Union,
a banda brindou-nos com uma actuação relativamente curta
de cerca de 30 minutos, perante uma plateia já bem mais composta. O
seu pop rock reminiscente de meados dos anos 80 trouxe alguma alegria
à noite, mas não conseguiu prender, sendo o seu trabalho de estúdio
bastante mais convincente do que o seu desempenho ao vivo.
Os
Wedding Present trouxeram-nos novamente de volta aos anos 80, altura
em que foram banda referência de uma geração que vivia com os
ouvidos virados para norte, sempre em busca das novidades de um país
que ditava as tendências mundiais em quase todos os estilos. O seu
álbum novo Valentina foi o protagonista de uma actuação
com grande vitalidade, onde o público teve também o privilégio de
conhecer ou relembrar músicas do seu clássico álbum de estreia
George Best (1987). Com um rock descomplicado e ágil,
sem grandes floreados e directo ao ponto, os Wedding Present com um
elenco renovado demonstraram que o seu regresso foi construído com
cuidado e não apenas uma tentativa saudosista de fazer uns trocos à
custa da glória passada.
A
actuação da noite trouxeram-na os Everything Everything. Com uma
carreira ainda relativamente recente, iniciada em 2007, o seu álbum
de estreia Man Alive (2009) conseguiu uma nomeação para
o Mercury Prize e o reconhecimento unânime de crítica e público
pelo seu estilo pop/rock dificilmente catalogável, assente em
sólidas bases harmónicas, em composições surpreendentemente
originais e no falsete do
seu vocalista Jonathan Higg.
A qualidade do
seu álbum mais recente Arc (2013) fazia prever uma actuação
interessante, mas as expectativas foram largamente superadas.
A banda em palco
supera nitidamente o seu registo de estúdio, conseguindo uma fluidez
e uma coesão rítmica e melódica a que só as grande banda conseguem aspirar. O facto de terem no seu repertório verdadeiras canções,
bem estruturadas e harmonias vocais imaculadas também ajudaram à festa.
O concerto
começou com a faixa de abertura de Arc, "Cough
Cough", com um trabalho fabuloso da secção rítmica,
constituída pelo baterista Michael Spearman e pelo baixista Jeremy
Pritchard, deixando o público entusiasmado e a salivar pelo que se
seguiria. Em "MY
KZ, UR BF" regressaram ao single que em 2009 definitivamente os
lançou como uma promessa da música alternativa britânica, com os
seus sumptuosos teclados a cargo de Peter Sené e as recorrentes harmonias vocais de uma precisão impressionante para um concerto ao
vivo.
Seguiu-se o
primeiro single que lançaram enquanto banda em 2008, "Sufragette
Sufragette", dona de um riff poderoso que converteu os mais
resistentes ao tímido bater de pé e ao ligeiro balançar da cabeça,
a que sucedeu a música que apresentou Arc, "Kemosabe",
com uma melodia daquelas que fica na cabeça durante dias sem que se
perceba muito bem porquê.
Regressaram
depois ao primeiro álbum com "Schoolin´", trouxeram mais
um excelente trabalho rítmico com a "Feet for Hands" e
encerraram a sequência com o frenético "Don´t Try". O
final aproximava-se e a música escolhida para a
despedida foi a mais contemplativa "Radiant", título
indicado para descrever o estado em que se encontrava público já
muito numeroso que aplaudiu a saída de cena dos britânicos.
Para
fechar a noite com estrondo, os No Age demonstraram que bastam 2 pessoas para facilmente demolir um
edifício. Esqueçam os explosivos, contratem estes dois e o trabalho
é igualmente eficiente. Power duo clássico, com bateria e guitarra
(por vezes apenas guitarra e baixo), tornaram-se quase ensurdecedores
a espaços e a forma básica como tocam não ajudou muito a uma
experiência muito construtiva. Claro que sendo uma banda cultora do
punk mais experimental que se faz por aí, não era nitidamente essa a intenção e o público mais corajoso que se acumulava na frente do palco rejubilou, fazendo sentir a sua satisfação como só ele o
sabe fazer.
Na
setlist não faltaram os inescapáveis "Fever Dreaming" e
"Glitter" e o avançar da hora ajudou a que apenas os mais
resistentes ficassem até ao final, entre muito mosh e head-banging,
com direito a invasão de palco por um fã, prontamente obviada pelo
segurança e a crowd surfing pelo vocalista Dean Allen
Spunt, nitidamente contagiado pela energia do público que o acompanhou até à despedida final, já a madrugada tinha chegado
há algum tempo atrás.
Depois
de um primeiro dia bastante morno, o 2º dia do Warm Up Vodafone
Paredes de Coura chegou com bons concertos em perspectiva.
Os
portugueses Sensible Soccers, com a vida dificultada pela hora a que
actuaram e pela ainda fraca afluência de público, não se deixaram
intimidar e soltaram a sua electrónica mais ambiental, acompahados
por 2 guitarras, não esquecendo o seu cartão de visita "Missé
missé", a que juntaram outras criações.
Os
Linda Martini deram ao Porto um belo concerto neste seu regresso às
actuações ao vivo, depois de um interregno que já se tornava longo
demais. O seu estilo mantém-se inalterado e resulta de uma forma
incrível ao vivo: alternância entre uma verdadeira wall of
sound rockeira e momentos de libertação de energias,
salpicados pela sempre assertiva bateria de Hélio Morais, que entre
elogios ao Porto e aos seus colegas de cartaz, foi a face mais visível de uma banda
concentrada em passar a mensagem através da
voz e dos acordes que disparavam sem descanso.
Começaram
o concerto em modo de teste da máquina, com o calmo "Este Mar", para
depois se darem ao público com a épica "Dá-me a tua melhor
faca", fábrica de riffs que deixou o recinto a seus pés. Pelo
palco passaram ainda sucessos incontornáveis como "Amor
Combate" ou a potente "Cem Metros Sereia" e lá pelo meio, uma música nova que soou bastante bem,
mostrando uma evolução na sonoridade da banda.
Com Omar
Souleyman, sabemos de antemão o que nos espera. Onde quer que vá, espalha alegria
e boa disposição, não precisando para tal de qualquer artifício
verbal ou dramático. Sempre simpático, dentro da sua parca
linguagem verbal e corporal, acompanhado por um teclista de aspecto
duvidoso que soltava umas batidas com sabor disco oriental muito kitsch como convém,
facilmente fez a festa que tomou conta de todo o recinto e só pecou por ser
demasiado breve para a adesão que teve.
Num
registo radicalmente distinto, o senhor que se seguiu trouxe consigo
um cheiro a melancolia de outros tempos em que o Rock se reinventava
a cada nova música que surgia.
Tendendo
para composições com um formato mais convencional de canção,
Ranaldo apresentou-nos o seu álbum mais recente Between
the times and the tides (2012), do qual escolheu faixas
chave, com destaque para "Angles", "Shouts" e
"Hammer Blows" (em que solou utilizando um arco), que simpaticamente apresentou ao público que não arredou
pé, como que hipnotizado pelo seu carisma.
Matias
Aguayo fechou o festival com a sua boa disposição, num set pejado
de ritmos latinos e sonoridades disco, que transformou numa espécie
de karaoke particular, ao acompanhar com a sua voz muitas das faixas.
O
Warm Up Vodafone Paredes de Coura foi uma excelente ideia para
promover o melhor festival do norte do País, trazendo música de qualidade, de forma acessível e central, a uma das movidas nocturnas mais destacadas desta Europa tão triste.
Esperemos
que o evento se concretize novamente em 2014, porque são iniciativas
destas que nos fazem crescer e ser notados.
Texto de Paulo Silva
Fotos Raquel Lemos
(O BandCom lamenta que as fotos do 1º dia ainda não estejam disponíveis mas serão publicadas com a maior brevidade possível.)
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