terça-feira, 16 de abril de 2013

Warm Up Vodafone Paredes de Coura @ Porto - 12 e 13 de Abril 2013 (em actualização)


O dia 1 do Warm Up Vodafone Paredes de Coura infelizmente não esteve à altura do nome do festival que inaugurou.
Os Capitão Fausto tiveram honras de abertura e o público, ainda bastante esparso, pouco reagiu à sua actuação. O seu som, já com bastante airplay nas rádios mais alternativas, é interessante, jovem e fresco, pelo menos nas 2 primeiras músicas. A partir da 3ª música, aos nossos ouvidos sucede o mesmo que ao olfacto quando exposto demasiado tempo consecutivo ao mesmo mau cheiro: ficam anestesiados. As músicas tornam-se repetitivas, com alguns contratempos e umas digressões intermináveis nas teclas, combinadas com umas letras pseudo-irónicas e completamente vazias.
O resto da actuação transformou-se numa longa e interminável mescla de tédio e ansiedade pela banda seguinte, que a falta de empatia da banda com o público não veio ajudar.
Seguiram-se os britânicos Veronica Falls. Com um hype considerável por essas redes sociais e um álbum novo Waiting For Something To Happen recém lançado pela Bella Union, a banda brindou-nos com uma actuação relativamente curta de cerca de 30 minutos, perante uma plateia já bem mais composta. O seu pop rock reminiscente de meados dos anos 80 trouxe alguma alegria à noite, mas não conseguiu prender, sendo o seu trabalho de estúdio bastante mais convincente do que o seu desempenho ao vivo.
Os Wedding Present trouxeram-nos novamente de volta aos anos 80, altura em que foram banda referência de uma geração que vivia com os ouvidos virados para norte, sempre em busca das novidades de um país que ditava as tendências mundiais em quase todos os estilos. O seu álbum novo Valentina foi o protagonista de uma actuação com grande vitalidade, onde o público teve também o privilégio de conhecer ou relembrar músicas do seu clássico álbum de estreia George Best (1987). Com um rock descomplicado e ágil, sem grandes floreados e directo ao ponto, os Wedding Present com um elenco renovado demonstraram que o seu regresso foi construído com cuidado e não apenas uma tentativa saudosista de fazer uns trocos à custa da glória passada.
A actuação da noite trouxeram-na os Everything Everything. Com uma carreira ainda relativamente recente, iniciada em 2007, o seu álbum de estreia Man Alive (2009) conseguiu uma nomeação para o Mercury Prize e o reconhecimento unânime de crítica e público pelo seu estilo pop/rock dificilmente catalogável, assente em sólidas bases harmónicas, em composições surpreendentemente originais e no falsete do seu vocalista Jonathan Higg.
A qualidade do seu álbum mais recente Arc (2013) fazia prever uma actuação interessante, mas as expectativas foram largamente superadas.
A banda em palco supera nitidamente o seu registo de estúdio, conseguindo uma fluidez e uma coesão rítmica e melódica a que só as grande banda conseguem aspirar. O facto de terem no seu repertório verdadeiras canções, bem estruturadas e harmonias vocais  imaculadas também ajudaram à festa.
O concerto começou com a faixa de abertura de Arc, "Cough Cough", com um trabalho fabuloso da secção rítmica, constituída pelo baterista Michael Spearman e pelo baixista Jeremy Pritchard, deixando o público entusiasmado e a salivar pelo que se seguiria. Em "MY KZ, UR BF" regressaram ao single que em 2009 definitivamente os lançou como uma promessa da música alternativa britânica, com os seus sumptuosos teclados a cargo de Peter Sené e as recorrentes harmonias vocais de uma precisão impressionante para um concerto ao vivo.
Seguiu-se o primeiro single que lançaram enquanto banda em 2008, "Sufragette Sufragette", dona de um riff poderoso que converteu os mais resistentes ao tímido bater de pé e ao ligeiro balançar da cabeça, a que sucedeu a música que apresentou Arc, "Kemosabe", com uma melodia daquelas que fica na cabeça durante dias sem que se perceba muito bem porquê.
Regressaram depois ao primeiro álbum com "Schoolin´", trouxeram mais um excelente trabalho rítmico com a "Feet for Hands" e encerraram a sequência com o frenético "Don´t Try". O final aproximava-se e a música escolhida para a despedida foi a mais contemplativa "Radiant", título indicado para descrever o estado em que se encontrava público já muito numeroso que aplaudiu a saída de cena dos britânicos.
Para fechar a noite com estrondo, os No Age demonstraram que bastam 2 pessoas para facilmente demolir um edifício. Esqueçam os explosivos, contratem estes dois e o trabalho é igualmente eficiente. Power duo clássico, com bateria e guitarra (por vezes apenas guitarra e baixo), tornaram-se quase ensurdecedores a espaços e a forma básica como tocam não ajudou muito a uma experiência muito construtiva. Claro que sendo uma banda cultora do punk mais experimental que se faz por aí, não era nitidamente essa a intenção e o público mais corajoso que se acumulava na frente do palco rejubilou, fazendo sentir a sua satisfação como só ele o sabe fazer.
Na setlist não faltaram os inescapáveis "Fever Dreaming" e "Glitter" e o avançar da hora ajudou a que apenas os mais resistentes ficassem até ao final, entre muito mosh e head-banging, com direito a invasão de palco por um fã, prontamente obviada pelo segurança e a crowd surfing pelo vocalista Dean Allen Spunt, nitidamente contagiado pela energia do público que o acompanhou até à despedida final, já a madrugada tinha chegado há algum  tempo atrás.


Depois de um primeiro dia bastante morno, o 2º dia do Warm Up Vodafone Paredes de Coura chegou com bons concertos em perspectiva.
Os portugueses Sensible Soccers, com a vida dificultada pela hora a que actuaram e pela ainda fraca afluência de público, não se deixaram intimidar e soltaram a sua electrónica mais ambiental, acompahados por 2 guitarras, não esquecendo o seu cartão de visita "Missé missé", a que juntaram outras criações.
Seguiram-se as inglesas Stealing Sheep, trio de vozes bonitas e muita simpatia mas com composições bastante fraquinhas que não conseguiram convencer o povo que já se impacientava pelos portugueses que se seguiam.




Os Linda Martini deram ao Porto um belo concerto neste seu regresso às actuações ao vivo, depois de um interregno que já se tornava longo demais. O seu estilo mantém-se inalterado e resulta de uma forma incrível ao vivo: alternância entre uma verdadeira wall of sound rockeira e momentos de libertação de energias, salpicados pela sempre assertiva bateria de Hélio Morais, que entre elogios ao Porto e aos seus colegas de cartaz, foi a face mais visível de uma banda concentrada em passar a mensagem através da voz e dos acordes que disparavam sem descanso.



Começaram o concerto em modo de teste da máquina, com o calmo "Este Mar", para depois se darem ao público com a épica "Dá-me a tua melhor faca", fábrica de riffs que deixou o recinto a seus pés. Pelo palco passaram ainda sucessos incontornáveis como "Amor Combate" ou a potente "Cem Metros Sereia" e lá pelo meio, uma música nova que soou bastante bem, mostrando uma evolução na sonoridade da banda.
O público estava finalmente aquecido e preparado para a invasão síria que se seguiu.



Com Omar Souleyman, sabemos de antemão o que nos espera. Onde quer que vá, espalha alegria e boa disposição, não precisando para tal de qualquer artifício verbal ou dramático. Sempre simpático, dentro da sua parca linguagem verbal e corporal, acompanhado por um teclista de aspecto duvidoso que soltava umas batidas com sabor disco oriental muito kitsch como convém, facilmente fez a festa que tomou conta de todo o recinto e só pecou por ser demasiado breve para a adesão que teve.
Num registo radicalmente distinto, o senhor que se seguiu trouxe consigo um cheiro a melancolia de outros tempos em que o Rock se reinventava a cada nova música que surgia.


Lee Ranaldo, que com os seus Sonic Youth fez avançar um estilo musical moribundo na direcção certa, com a sua Lee Ranaldo Band mantém os riffs orelhudos e a postura de inconformismo, mas a juventude já se foi, deixando-lhe a experiência que usa como ninguém.
Tendendo para composições com um formato mais convencional de canção, Ranaldo apresentou-nos o seu álbum mais recente Between the times and the tides (2012), do qual escolheu faixas chave, com destaque para "Angles", "Shouts" e "Hammer Blows" (em que solou utilizando um arco), que simpaticamente apresentou ao público que não arredou pé, como que hipnotizado pelo seu carisma.



Matias Aguayo fechou o festival com a sua boa disposição, num set pejado de ritmos latinos e sonoridades disco, que transformou numa espécie de karaoke particular, ao acompanhar com a sua voz muitas das faixas.
O Warm Up Vodafone Paredes de Coura foi uma excelente ideia para promover o melhor festival do norte do País, trazendo música de qualidade, de forma acessível e central, a uma das movidas nocturnas mais destacadas desta Europa tão triste.
Esperemos que o evento se concretize novamente em 2014, porque são iniciativas destas que nos fazem crescer e ser notados.  

Texto de Paulo Silva
Fotos Raquel Lemos

(O BandCom lamenta que as fotos do 1º dia ainda não estejam disponíveis mas serão publicadas com a maior brevidade possível.)




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