sábado, 6 de abril de 2013

THE RAMBLERS - "Yer Vinyl" (2012, Moby Dick Records)






Os The Ramblers são uma banda de Lisboa que respira blues há mais anos do que toca. Não é novidade para quem os acompanha desde 2007. Novidade, sim, é a sonoridade funk e soul refrescante com que nos presenteia Yer Vinyl. 

Sabia-se à partida que a lição estava bem estudada. Blues-rock é o que tocam, o que ouvem, o que admiram, e isso sente-se nos seus concertos e nos seus trabalhos anteriores. A questão era o que fariam com isso, pois era muito fácil cair na banalidade, numa área tão explorada como os blues e o rock'n'roll no seu sentido mais clássico. Era um teste difícil, sobretudo porque são uma banda pela qual os palcos chamam, e que facilmente expressa toda a sua energia ao vivo. Conseguiriam então passar essa energia para o Vynil? Tornar-se-iam demasiado monótonos? Teriam capacidade e experiência para conseguir a difícil tarefa de domar esses estranhos blues (que têm a particularidade de, quando domados, conseguir transformar pura simplicidade em encanto musical)?

A resposta é sim, conseguiram, e conseguiram, creio, por não terem caído no erro mais óbvio de fazer um disco apoiado apenas nos alicerces construídos pelos reis, desde Muddy Waters, B.B. King e John Lee Hooker até a Rolling Stones e Led Zeppelin, mas também não fugindo deles de forma excessiva, o que a meu ver, soaria pouco natural (e teria sido um desperdício).
De facto sente-se sempre no ar uma mistura de Motown com uma Janis Joplin alegre (se é que tal é possível) e um fundo de rock'n'roll que não deixa nunca perder o ritmo, que nos é logo apresentado na primeira música, "Rainy Day Queen", na minha opinião a melhor do álbum e que nos responde rapidamente a todas as questões que coloquei anteriormente.




Lemonate e Bad Luck Soul não ficam atrás: duas faixas pequenas e agressivas, simples e directas, com pormenores deliciosos pelo meio. Where's Home, a segunda música, surge como uma outsider, uma balada country que a meu ver não condiz com o resto do registo do EP, e que não faria mal se dele fosse retirada. O mesmo acaba com She's Always Naked, que volta às origens e nos manda embora com um blues-rock puro e duro, uma faixa mais clássica com uma linha rítmica que aguenta uma guitarra solo e uma voz sempre à beira de se descontrolarem.

A sonoridade funk, a despreocupação aparente (esse charme que só a experiência e o conhecimento de si próprios permite), o soul e o groove tirados dos livros (não faz mal tirar algumas coisas dos livros), uma voz rasgada e uma banda irrepreensível que não nos deixa indiferentes são o reflexo de uma banda adulta, que adora o que faz e fá-lo bem.

Este é um registo que dá prazer ouvir, goste-se ou não de blues, pois estes meninos fizeram-no muito mais do que isso: deixaram uma pegada sua num terreno onde não o é fácil fazer.


Hugo Hugon




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