O Ritz
Clube encheu no passado dia 11 de Abril. Mas estamos a falar de uma enchente a
sério, e não apenas de uma plateia composta. Uma enchente daquelas em que temos
que andar aos encontrões para encontrar um lugar decente. A razão? Estava lá a
nova princesa da música nacional, nada mais nada menos que Luísa Sobral, a
apresentar o seu segundo disco “There´s a Flower In My Bedroom”.
O concerto adivinhava-se especial. É que, se por um lado se tratava da apresentação de um
álbum que tem gerado enormes expectativas, era expectável um intimismo que,
esperávamos nós, marcasse positiva e decisivamente o concerto. A atmosfera
intimista, de resto, andava no ar, sentia-se, cheirava-se.
Subiram as cortinas ao som de “I Was
in Paris Today”. A música inaugural, que abre também o disco, é como comer um
croissant numa qualquer boulangerie
da capital francesa, acompanhado de um chocolate quente. Uma delícia, que
acabou por se revelar também uma das canções mais bem conseguidas do concerto
exaltando os ânimos logo a abrir. Luísa Sobral agradeceu com a simpatia que lhe
é característica e revelou satisfação pela plateia a abarrotar (e também alívio
pois, segundo a própria, a cortina que tapa o palco faz com que fique nervosa
antes do início do concerto). Não havia razões para nervosismos, claro, a noite
estava ganha ao soar dos primeiros acordes, com uma banda, diga-se, de nível
superior, com Carlos Miguel na bateria, João Hasselberg no contrabaixo e o
conhecido do público português João Salcedo (Os Azeitonas) ao piano.
Seguiu
a rusga com “Japanese Rose”, um tema já tocado pela cantora em vários concertos
durante o ano passado e que é também ele um dos pontos altos deste “There´s a
Flower In My Bedroom”. Depois, “Will You Find Me”, canção que fala sobre o
dilema “procurar” ou “esperar por ser procurado”. Uma espécie de “Estar à
Espera ou Procurar” de B Fachada mas com a atmosfera groovy e minimalista própria da cantora em questão a condimentar a
coisa (já para não falar do estilo, que é outro, e da língua em que se canta. E,
já agora, da música que não tem nada a haver). Pareceu-nos assim à primeira uma
letra muito bem conseguida, e pareceu-nos também delicioso o pormenor dos
assobios que percorreram esta canção, saltitantes.
Era
tempo de se ouvir “She Walked Down The Aisle”, o tema do disco que vai contar
com a participação de Jamie Cullum. Sim, leu bem. Jamie Cullum. Naturalmente,
aguardamos com a maior das expectativas por ouvir a prestação do músico
britânico numa canção que, pelo que nos pareceu, tem tudo para ser um óptimo
futuro single a sair deste trabalho. Como Jamie não está por estas bandas, foi
substituído por João Salcedo. E que bem se portou o músico portuense! Uma voz
com graves de fazer tremer o chão, já para não falar da qualidade com que se
entrega ao piano (mas a essa estamos nós habituados). Tem tudo para ser o
pianista-mor da música ligeira portuguesa nos próximos tempos, qual Manuel
Paulo.
E
foi precisamente João Salcedo que se fez ao acordeão para acompanhar Luísa Sobral
no primeiro tema em português da noite: “Quando Te Vi”. Uma balada com uma
letra directa e simples, sem ser pirosa. A fazer lembrar as canções de amor da
MPB, que são das maiores canções de amor que já se fez neste mundo. Findo este
momento mais quedo do concerto, Luísa desafiou o público a cantar, já que a
música que aí vinha era “Mom Says”, primeiro single do disco, já disponível há
cerca de um mês na Internet. O público deu uma resposta algo tímida, mas respondeu.
E, por um lado, ainda bem que de forma tímida, pois o que se quer mesmo é ouvir
a maravilhosa e equilibradíssima voz de Luísa Sobral. De referir ainda que esta
canção se destaca das restantes pela toada country
que assenta muitíssimo bem na cantora. Entretanto, chegou a já tradicional harpa a palco e,
claro, com ela “Not There Yet” grande sucesso do álbum de estreia “The Cherry
On My Cake”. Sucesso (e coros) garantido(s), como seria de esperar.
Para
a despedida, Luísa de banjo em riste para cantar aquele que, quanto a nós, foi
o momento alto da noite: “I Remember You”. Um hino à música country a fazer lembrar Mallu Magalhães.
E, pasme-se, a banda largou contrabaixo, piano e bateria e acabou tudo de
guitarra em punho ao compasso das palmas.
Perante
os aplausos da plateia o encore era
imperativo. Veio Luísa sozinha
cantar “I´ll Be Waiting”, num registo mais intimista, antes de, para gáudio de
todos os presentes, apresentar “Xico”, grande êxito do álbum anterior e que pôs
uma plateia a cantar em uníssono.
As
canções que se ouviram no Ritz confirmam a confirmação (as redundâncias são uma
coisa extraordinária) de Luísa Sobral como nome de topo na música portuguesa.
Resta saber se se tornará ainda maior lá fora. Quanto a nós, estão reunidos os
ingredientes necessários: grande álbum este “There´s a Flower In My Bedroom”,
grande capacidade de estar em palco e encantar por parte da cantora, sempre com
uma prestação musical de excepção.
Bernardo Branco Gonçalves
Fotografias por David Cachopo
(galeria completa em facebook.com/bandcom)
Fotografias por David Cachopo
(galeria completa em facebook.com/bandcom)
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