segunda-feira, 25 de março de 2013

ORELHA NEGRA @ HARDCLUB, 22/3/2013 - REPORTAGEM



Dois anos depois do seu último concerto no Porto, os Orelha Negra encontraram no seu regresso triunfal à Invicta uma excelente sala totalmente esgotada do Hard Club, que os aguardava ansiosamente em ambiente de celebração. Uma hora e meia de concerto soube a pouco para colmatar essa ausência que se tornava já demasiado longa.


O quinteto apresentou um alinhamento renovado, juntando a alguns inevitáveis clássicos como A Cura ou M.I.R.I.A.M., algumas delícias do seu segundo registo como Bala Cola, 24/7, Polaroid e Viva Ela (com um trabalho fabuloso do Fred na bateria) e incursões no novo Mixtape II, o álbum fresquinho, já disponível em diversas versões por essa net fora, com reinterpretações de músicas do segundo álbum, acompanhadas por um quem-é-quem dos melhores vocalistas e MCs portugueses da actualidade como Mónica Ferraz, Capicua e Valete ou o americano Amp Fiddler.




O ambiente electrizante que criam desde a primeira nota é constante e contagiante e a máquina move-se com uma fluídez que não julgavamos possível num colectivo que, nos registos de estúdio, se alimenta vorazmente das sonoridades características do hip-hop. Ao vivo, a banda não necessita de vocalista(s) para injectar alma nas melodias que conhecemos e repetimos incessantemente nos nossos gadgets e o poder da bateria do Fred é o perfeito metrónomo para uma sonoridade surprendentemente orgânica e una, impecavelmente equilibrada entre o scratch de primeira do Cruzfader, os samples e os beats disparados pelo MPC do Sam the Kid, o baixo maravilha do Francisco Rebelo e as teclas talentosas do Diogo Santos, que substituiu na perfeição João Gomes, actualmente em digressão com Ana Moura por esse Mundo.




Sem quaisquer pausas entre as músicas, a experiência torna-se ainda mais intensa e a cumplicidade que se sente nos pequenos esgares e sorrisos entre os cinco transparece na forma aparentemente fácil como parece que assistimos à criação de músicas de raíz, tal é a vitalidade com que nos chegam. O segredo? A capacidade de fundir bom gosto e talento ímpar no uso, em tempo real, dos samples, beats e scratch com um motor soul de alta cilindrada.




Como bónus para as apresentações ao vivo, os Orelha Negra brindam-nos com o que eles singelamente apelidam de medley, em que, com o seu toque de Midas, juntam à festa convidados tão especiais como o Sure Shot dos Beastie Boys, I put a spell on you, do Screaming Jay Hawkins, Yegelle Tezeta, do Mulatu Astatke, Otis de Jay-Z com Kanye West ou a mítica Todos Gordos, dos portuenses Mind da Gap, confirmando apenas o que todos já sabiam: para além de talentosos, trazem na bagagem um repertório que excede em muito o que se poderia esperar de qualquer outro colectivo da mesma área musical. Os Orelha Negra são únicos em qualquer parte do Mundo e ao vivo superam-se de uma forma incrível. O Mundo é deles. Basta que o queiram. 


Texto por Paulo Silva,
Fotografia por Raquel Lemos




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