quarta-feira, 13 de março de 2013

Concerto Por Um Novo Futuro @ Pavilhão Atlântico - REPORTAGEM



O dia de hoje vai servir para a manutenção de dois lares que a associação “Novo Futuro” abriu com a preciosa ajuda de eventos como este, em anos passados realizados”. Começa assim a abertura e apresentação do concerto “Por um Novo Futuro- Ajudar é um Espetáculo”, com palavras de Dora Isabel (M80) que nos relembra a razão de ali estarmos. Sim, foi dia da mulher. E foi, também, um dia de solidariedade. E isso foi o mais importante: ajudar. Juntando assim o útil ao agradável, reuniram-se em palco grandes vozes femininas de distintas gerações. Esta não seria a única novidade, pois a este leque de vozes de Maria Bradshaw, Cuca Roseta, Luísa Sobral, Manuela Azevedo, Mafalda Veiga, Mariza Liz e Simone de Oliveira, juntou-se a Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida por Cesário Costa, que acompanhou todas as cantoras na apresentação de temas com arranjos específicos para a ocasião, assinados por Pedro Moreira.

O palco dava gosto, criteriosamente arranjado, cuidado e bem iluminado bem ao jeito de uma mulher com o seu charme. E por cima um ecrã e um “logo”; a razão de tudo aquilo, o “Novo Futuro”. 21:58h, entra a Orquestra. 22:00h em ponto, começa o espectáculo e possivelmente o primeiro comentário da noite; “Há pessoas ainda a chegar, não estão habituadas a que as coisas comecem a horas”.

E as pessoas que chegavam fizeram não uma casa cheia (ninguém o esperava), mas uma casa composta e diferente de todas as outras. Apagam-se as luzes no Pav. Atlântico e começa um filme, uma explicação do que é a Associação Novo Futuro; Instituição Particular de Solidariedade Social, fundada em 1996 em Portugal, de âmbito nacional e sem fins lucrativos tem como objectivo o acolhimento em pequenos lares, de crianças e jovens privados de ambiente familiar adequado, proporcionando o desenvolvimento humano a que têm direito, ao afeto, bem-estar e privacidade, para além de uma educação que lhes permita uma plena integração na sociedade. 

Palavras soltas iam aparecendo sobre o direito a sonhar, mais do que isso, sobre o direito a que uma criança tem ou deveria ter de poder sonhar… Destaco duas: “Todas as crianças deveriam ter direito a um boneco de peluche”. “Todas as crianças deveriam ter direito a ir para cama imaginando coisas boas para depois sonhar com elas”. O filme acaba, faz-se silêncio e engole-se em seco… Começa a Orquestra. Perfeita, brilhante e minuciosa… Arrepia e faz-nos pensar como fica bem em tudo, é bonita de se ver e de se ouvir… Melhor seria ainda, não fosse a acústica do pavilhão, essa eterna dor de cabeça para quem é musico ou técnico de som… Não consigo perceber o conceito de “multiusos” naquele pavilhão… A onda era média/aguda… Por vezes pedia a explosão, o impacto dos graves que magnífica uma orquestra… Mas não podia ser… A culpa era de ninguém a não ser do arquitecto… Não se fazem omeletes sem ovos…

Depois da introdução, a primeira convidada: Maria Bradshaw. Não se duvida das capacidades vocais (para além da beleza) desta artista ou tão pouco se perdeu noção do enorme desafio que terá sido para Maria Bradshaw estar ao lado de vozes tão amplas com provas dadas. Talvez essa tenha sido a razão do seu nervosismo que, apesar de bem escondido, por vezes, teimava em aparecer quando atacava a sua voz num registo mais “lá para cima” em Vou Viver, de António Variações. Havia um misto de colocação com grito de empenho e ansiedade. A acrescentar, a enorme responsabilidade de abrir um palco e evento (parte musical), com um cartaz de classe e de peso. Mas, ainda assim, Maria Bradshaw arrisca e demostra garra com perfeitos ad-libs nas três canções que interpretou, uma delas em dueto com Cuca Roseta

Maria Bradshaw foi quem abriu o espetáculo
Cuca Roseta, que acredita 100% (e eu também) no talento de Maria Bradshaw, prendeu as pessoas à cadeira, calou qualquer burburinho que se fizesse ouvir até ali ao deixar-nos sem palavras com a sua voz potente e ao mesmo tempo cristalina e perfeitamente afinada em quase um minuto de introdução “a capella” que impressionou tanto a Orquestra como o mais duro de ouvidos que ali estava… E infelizmente estavam lá uns quantos, principalmente atrás de mim... Que não sabendo estar ou a razão de ali estar, comentam os sapatos de salto alto que calçava Cuca Roseta e quando apenas soava a Orquestra (aquele momento que ainda mais deve ser respeitado) se riam e marimbavam. Cuca Roseta claro que não tem de dar provas a ninguém, o seu talento está à vista. Mas foi uma das surpresas da noite, pelo menos para mim. As outras surpresas ainda estavam para vir!

Cucu Roseta foi a segunda mulher a subir ao palco.


A terceira convidada da noite, Luísa Sobral, teve ali a sua tão conhecida cereja no topo do bolo; a Orquestra. Era unha com carne, a musica de Luísa Sobral encaixa ali quem nem ginjas. E não cerejas! Parecia um filme, um musical da Disney… O seu balanço de braços assim o ditava, os arranjos da Orquestra assim o expressavam… Pena o som da tarola que se fazia ouvir em repetição e com atraso nos tectos do pavilhão…As musicas Clementine e Not There Yet ajudaram para que tudo fosse mais fácil e uma terceira música foi cantada em dueto com Manuela Azevedo; a música escolhida foi Noite Passada, de Sérgio Godinho, fazendo assim com que Luísa Sobral deixasse o palco, passando o testemunho à líder dos Clã.


Luísa Sobral mostrava o porquê de ser uma das vozes femininas do momento.

O registo de música jazzy e swing passa então para um groove mais pop com dois clássicos dos Clã numa voz que é uma das imagens de marca da cantora, mas que, por vezes, denotava um excesso de processamento dinâmico que se desencontrava do ambiente sonoro onde estava toda a orquestra, não colocando em causa nem num único segundo, a prestação da cantora ao longo das suas músicas e no seu dueto com Luísa Sobral. Tendo sido o Sopro do coração a que mais bem ficou em questão de arranjos e intimidade com o público e artistas em palco, Manuela Azevedo despede-se tecendo-se em agradecimentos e trocadilhos, deixando o palco pronto para a artista que se seguia, Mafalda Veiga.

A voz dos Clã deliciou os presentes.

Mafalda Veiga, digamos, não destoou. Acho que não consigo dizer mais nada a não ser a reacção do público que passou de uma posição de pé ou afastada da cadeira, para uma posição de encosto, reconforto e tempo para “confraternizar”, até que a certa altura se ouvem as palavras “sei de cor cada lugar teu”, e de repente o público faz-se ouvir, aplaude, assobia e grita numa mensagem positiva, claro está. De repente, mais uma surpresa: entra de novo em palco Cuca Roseta para um dueto imprevisto, pelo menos assim parecia, com a própria Mafalda, interpretando um tema de Jorge Palma. Mas as coisas mudaram de figura, o dueto imprevisto, ou não, resultou às mil maravilhas e as harmonias de vozes jogavam bem uma com outra, surpreendendo tudo e todos.

Mafalda Veiga brindou-nos com a sua música abrasiva.

Chega então o momento que para mim foi a surpresa da noite. Chega Marisa Liz… Ainda hoje enquanto escrevo isto não me sai da cabeça tudo o que aconteceu quando Marisa Liz subiu ao palco… Artista pura e dura, um animal de palco sem tirar nem pôr! O palco deixa de ser centro para passar a ser um todo… A voz não lhe foge nem por um segundo, as pessoas voltam a desencostar-se das cadeiras para passarem de novo a ficar de pé… Tudo vibra, Marisa sente isso e pede mais. Gesticula, exalta-se, dança e canta ainda com mais alma. E depois a Orquestra que já vinha a pedir um boom há muito tempo… Terminam as músicas de Marisa Liz num impacto tremendo, um “Stacatto” infernal em que finalmente se fazem soar os graves que até ali soavam tímidos… O pavilhão quase que estremece (no bom sentido) de energia positiva, de alma que até ali ia e vinha e não se mantinha num pico máximo. Foi incrível e revelador. 

Marisa Liz surpreendeu os presentes.

Chegando assim a ovação da noite, a representação máxima daquele dia 8 de Março… A Mulher, a representação e exemplo de mulher… Dona do seu nariz, mulher eterna e apaixonada pela música que tão bem representou e representa o nosso país e que continua com aquela voz que intimida qualquer dos mais selvagens e que nos prende em modo de hipnose e a tentar perceber como. Simone de Oliveira, como consegue? E eu? Quem sou eu para falar de si ou da sua prestação? Um gato-pingado que já meio sem jeito fica ao falar das artistas que por esse palco passaram e que tem o descaramento de falar da sua prestação?! Por isso, não me sentido muito à vontade, digo que gostei. Que fiquei absorto e impressionado. Comovido até com a sua elegância e postura. Comovido e esperançado com a sua mensagem de fazer questão que sejamos felizes… E acredite que eu faço por isso todos os dias.

Simone de Oliveira será sempre uma das mais incontornáveis mulheres portuguesas.
E com o público de pé, aplausos até mais não e num barulho que mais parecia um pavilhão a abarrotar, reúnem-se todas as artistas em palco para se despedirem e agradecer que pelas mãos de crianças em gesto de reconhecimento lhes entregam flores, muitas flores e sempre com um sorriso na cara, e, no entretanto,… “lá lá lá lá lá”, começa Simone… A Desfolhada sai do seu canto, respira os ares de 2013 e todos entram na dança… O ambiente é de festa e contagiante. A mensagem continua forte deixa recado, coincidente ou não…

Texto por Tomás Anahory,
Fotografia por Catarina Alves




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